Diário de Paris , 14 de fevereiro de 2023
Por Marcus Ozores
Acordei com a luz do sol adentrando a janela do quarto. Com certeza a rotação da Gaia já imbica para inicio do fim do inverno no hemisfério norte e Paris nos presenteia novamente com céu sem nuvens e um sol esplendoroso. Temperatura civilizadíssima de 13º graus positivo às 15h00 hora local.
Hoje é 14 de fevereiro, dia de comemorar Saint Valentin
Hoje é 14 de fevereiro, dia de comemorar Saint Valentin, Dia dos Namorados por esses lados, do ladilá do Atlântico. Nesse dia se comemoram dois mártires cristãos chamados Valentin, um deles do século III. Mas na verdade, na verdade mesmo a origem da festa, fazia parte de festividade pagã, nos tempos do Império Romano dedicados à deusa Juno, deusa da fertilidade e a Pan, deus da natureza. A festa marcava também o inicio oficial da primavera daqueles tempos romanos já que nos dias atuais a primavera terá início, segundo nosso calendário gregoriano, no dia 20 de março.
“Na França e Paris, em particular, estão ocorrendo manifestações de protesto contra nova lei da previdência “
Nada como um choque de realidade para colocar o dia do amor em segundo plano. Na França e Paris, em particular, estão ocorrendo manifestações de protesto contra nova lei da previdência que aumenta de 62 para 64 a idade da aposentadoria. Domingo o pau comeu nas manifestações dos sindicatos contra a nova lei que deve ser votada até no máximo sexta feira, no Senado. Tome porrada prá valer.
Os médicos também estão em greve por tempo indeterminado, mas por outro motivo. Aqui o Estado regula o valor da consulta médica e a tabela está congelada há anos em 25,00 euros, o que dá em torno de 150,00 reais. Os médicos pedem aumento de 100% o que fará a consulta se elevar para 50,00 Euros. O governo, no entanto, oferece aumento de apenas 1,50 euro, isto mesmo, um euro e cinquenta. Esse valor é para consulta no consultório e para aqueles que atendem à domicilio. Aliás, essa antiga prática do médico de família de atender em casa, em Terras de Pindorama é coisa de um passado muito, muito distante. Nem pagando o médico visita paciente em casa, pelo menos nos grandes centros.
“O pau vai comer. Só espero que os sindicatos do transporte coletivo não entrem em greve”
Hoje assistindo ao jornal matinal da TV (como eles adoram debater, é incrível) um representante do sindicato dos médicos disse que vem caindo a procura pelos cursos de medicina em todo o país. A falta de médicos nas pequenas comunas já é gritante e agora, para acirrar ainda mais o debate, está se cogitando aprovação de nova lei que permitirá os farmacêuticos atenderem no lugar dos médicos, sem necessidade de diploma. O pau vai comer. Só espero que os sindicatos do transporte coletivo não entrem em greve, como pararam Paris entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020 quando estive aqui pela última vez.
Só quem estava aqui sabe o perrengue que é ficar sem transporte coletivo nessa cidade.
A tarde, longa caminhada pela rue d’Alesia, percorrendo entre ida e volta uns 6 km, média mínima diária. Essa rua, anos atrás, era o paraíso das brasileiras sacoleiras que visitavam Paris. Não me lembro direito mas creio que a divulgação da Rue d’Alesia com suas lojas de destoque das grandes marcas saiu em algum guia de viagem e instruíam como comprar barato aquilo que custa 4 dígitos no quadrilátero do consumo de luxo da cidade formado pela Rue Saint Honoré, Rue de La Paix, Boulevard de la Madeleine e Place Vendôme, onde está o icônico Ritz circundado das mais chics joalherias da cidade. Provavelmente o Neymar deve ter comprado uma quatro relógios de ouro maciço em alguma relojoaria dessas.
Na Rue d’Alesia você encontra loja de destocagem das grandes grifes. O melhor é que aqui você não encontra aquele tumulto e agitação do Bom Retiro, que deixou de ser bairro dos judeus e hoje é dominado pelo coreanos, inclusive a associação de comerciantes coreanos e a prefeitura estão trabalhando para enfeitar o bairro com motivos coreanos, como a Liberdade tem efeitos da comunidade nipônica.
um senhor baixinho vestido com um longo casaco de lã, de origem tunisiana, ouviu nossa e começou a cantar Garota de Ipanema
O divertido que me ocorreu hoje foi caminhávamos e conversávamos em português pela Rue d’Alesia, quando um senhor baixinho vestido com um longo casaco de lã, de origem tunisiana, ouviu nossa conversa e imediatamente começou a cantar Garota de Ipanema.
Ele nos parou perguntou se erámos brasileiros e se pôs a contar que ele tem na sua discografia de todo pessoal da bossa nova, de Caetano, Chico, Gil, Gal Costa, Maria Bethânia e mais uma lista enorme. Disse que é apaixonado pelo Brasil. Perguntei se havia morado nas Terras de Pindorama, respondeu que não mas disse que já foi a Curitiba onde tem um amigo e comeu carne à beça numa churrascaria. Não explicou como aprendeu português. Como não disse seu nome e nós também não perguntamos resolvi chamá-lo de Esteves, o dono da Tabacaria. Para despedir acenamos um para o outro e eu disse-lhe “adeus Esteves! E o universo reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Esteves sorriu”.
Amanhã tem mais.