Por Noemia Mima Costa
Quando vejo tudo devastado pela chuva dá uma tristeza danada e o quanto somos impotentes diante da força da natureza.
Um dia desses estava na praia lotada, sem espaço pra colocar uma cadeira.
Quando cheguei em casa, minha mãe perguntou:
-Muita gente na praia?
-Lotada, sem lugar pra sentar, respondi.
Ela com a sabedoria dos 95 anos:
-É, minha filha,
-É, minha filha,
“Juquehy não é mais nosso!
Fiquei pensando o quanto ela tinha razão, faz tempo que não nos pertence, que os de fora foram chegando e tomando pra si.
Aos que lá vivem e viviam coube se acostumar e aceitar mesmo contra a vontade.
Até a praia que era o nosso quintal, aberta e livre, agora precisamos passar por caminhos estreitos se der vontade de caminhar nela.
Chegaram, mostraram o poder do dinheiro ao caiçara que mal conhecia seu valor e os afastaram da orla, coube a eles procurar um lugar mais afastado da praia, espaço tão seu.
Juquehy!Juquehy dos meus tempos de menina, tempos que a única presença na praia eram os garoças correndo livremente.
Nunca mais vi um.
Juquehy dos caminhos que nos levavam à roça, à cachoeira, aos pés de frutas que comíamos e davam abrigo aos passarinhos.
Juquehy das brincadeiras de roda aos domingos com toda a turma de amigos, sem distinção de cor, credo, gênero, éramos uma só família, a amizade era o elo mais forte.
Juquehy dos carnavais maravilhosos que velhos, jovens e crianças brincavam sem medo, só o barulho do batuque importava nessa hora.
Juquehy!
Sem condomínios fechando os caminhos, sem guaritas, sem soberba, sem especulação que o deixou assim.
Juquehy!
Das chuvas gostosas que eu aproveitava na praia, que molhava gostoso, que a terra sugava e tudo voltava ao normal.
Juquehy dos meus dias de menina, saí tão nova daí, mas essa praia nunca saiu de mim.
Juquehy!
O que se vê hoje são pessoas estranhas que vieram trabalhar em casas milionárias e coube a eles morar em lugares de risco, sem muito que escolher.
E por falta de planejamento urbano, pelo excesso da ganância dos que podem tudo, agora se encontram nessa situação tão triste.
Juquehy!
Como dói te ver assim.
Dói,
Dói o coração,
Dói na alma.
E como diz minha mãe:
“Juquehy não é mais nosso!(Mima)