Dário de Paris, 07 de março de 2023
Reportagem , Texto e fotos de Marcus Ozores
As centrais sindicais realizaram nesse dia 7, em Paris, – e em todo país – greve geral que parou transportes coletivos, universidades, escolas de segundo grau, houve piquetes na saída dos caminhões das refinarias de petróleo, promoveram corte de energia elétrica em várias cidades, atearam fogo em caixas e pneus nas estradas (até o momento, contudo, não se tem notícias de ninguém cantando a ‘Marseillaise’ para os pneus em chamas e tampouco pessoas levantando celulares para o espaço sideral em busca de contatos imediatos com os marcianos invasores de corpos. (Ufaa que alivio).
Os sites dos jornais com sede em Paris no final dessa tarde, desse 7 de março, estamparam o mesmo título: 700 mil pessoas nas ruas de Paris. Esse número dilatado é considerado, pelas centrais sindicais, como o maior das suas décadas.
Mélanchon, líder do partido ‘France Insoumise’, de esquerda, esteve presente hoje nas manifestações em Marseille, onde declarou que a França está unida contra a proposta do governo de Macron em elevar a idade mínima de aposentadoria para 64 anos. Ao mesmo tempo que parte do país parava os trabalhos no Senado continuaram e, por enquanto, as chances da idade de aposentadoria passar de 62 para 64 vem encontrando ressonância maior entre os senadores e senadoras. O que não aconteceu/ como Mélanchon, queria era colocar a ‘economia da França de joelhos’ isso lá não conseguiu, não mesmo. Vamos aguardar os próximos descartes das cartas do truco.
A SNCF, ou Société Nationale des Chemins de fer Français, uma das principais empresas públicas francesas já anunciou no final da tarde desta terça feira que o serviços de trem estarão irregulares até quinta-feira, pelo menos, e que é impossível qualquer previsão para os próximos dias já que as centrais sindicais estão convocando novas paralisações para os próximos dias.
Hoje, só saí do apê no meio da tarde para algumas compras no supermercado, o velho Carrefour, da Avenue General Leclerc. Andei meio em círculo para ver como a greve estava repercutindo aqui no 14éme. Com exceção da falta dos ônibus (visível já que o corredor da Gal. Leclerc é movimentadíssimo) e metrô, ambos administrados pela RATP, serviço autônomo de transporte de Paris, não se podia afirmar que o ‘quartier’ mostrava algum tipo de adesão à greve. Todo o comércio funcionando normalmente e os parisienses reclamando de tudo, como habitualmente, assim como os paulistanos que amam e odeiam sua cidade.
Pode ser um exagero da minha parte, mas, como um observador atento, tenho reparado a baixa adesão de jovens junto aos movimentos sociais tanto aqui, em Paris, como na minha Sampa amada e Desvairada. Ausência do movimento estudantil é gritante. Não me cabe qualquer opinião para essa constatação, mas é tarefa para sociólogos e cientistas políticos amigos.
Como sempre acontece em grandes manifestações aqui em Paris hoje ocorreram quebradeiras de lojas, bancos e sobrou pedradas até para um carro de urgência médica. O pau comeu no 11éme entre policia e manifestantes e, até o momento em que escrevo, 15 pessoas haviam sido detidas em Paris, mas os números ainda inconsistentes para fechamento completo dos dados.
Minha sobrinha Victoria e sua amiga Jana saíram logo após almoço para uma volta no bairro e ver as vitrines da Rue d’Alesia, conhecida rua de destocagem das grandes marcas de roupas francesas. Em principio iriam até o Parthenon jantar num bistrô que serve de cenário para o seriado norte americano ‘Emily em Paris’, mas voltaram mais cedo com uma sacola de compras e uma baguete inteira dentro. Há algo mais parisiense que isso? E olha que elas estão aqui a apenas cinco dias.
Post Scriptum: Paris nos brinda amanhã com um dia cheio de perturbações segundo a grande imprensa local. Amanhã conto a vocês o que se passou na cidade de Charles Beaudelaire e suas ‘Flores do Mal’.
Amanhã tem mais.