Texto, vídeos e fotos de Marcus Ozores
Chove finalmente sobre Paris, depois de 60 dias sem chuva, em pleno inverno. Fato inédito, nos últimos 70 anos, de acordo com a Météo France. Choveu a noite toda e parou logo pela manhã. Não foi aquela chuva não mas serviu para molhar as plantas, aumentar a humidade e espantar a poluição, já que Paris é uma das cidades mais poluídos da Europa. Com a chuva a temperatura aumenta e hoje, lá pelas 15h00, hora local, a temperatura chegou a 15 graus, positivo é claro. Calorão pra todo mundo que está super agasalhado.
A chuva caiu, mas a greve nacional não sumiu. Hoje, dia da Mulher, continuam as manifestações e bloqueios em vários pontos da cidade e em todo o país. Em Paris, o transporte coletivo, embora continue afetando tanto o metrô como os ônibus, a linha 4 está operando quase que normalmente. A linha do RER B – que liga a Paris a Aeroporto Charles de Gaulle – está com tráfego lento e 30% dos voos foram suspensos. E enquanto escrevo esse diário ouço ao longe as sirenes dos carros de polícia zanzando pra cima e pra baixo. Parece síndrome de filme norte-americano.
Chuva parou as 9h00, o céu abriu num azul lindo e até o Sol sorriu para nós. Daí decidimos ir a exposição no museu Ossip Zadkine (você pode visitá-lo virtualmente clicando aqui) , que completou 40 anos de existência, ano passado. O museu se localiza no numero 100 bis da rue d’Assas bem pertinho do Jardin de Luxembourg num lugar precioso. Você entra para o museu por um ‘cour’ e, após 20 metros, a partir da calçada, você encontra o ateliê/casa do escultor bielorrusso Ossip Zadkine e sua esposa a pintora francesa Valentina Prax. A casa/ateliê é rodeada de árvores e imagino que quando o casal morava e trabalhava nesse lugar tinham um horta com muitas ervas sazonais. É uma Paris rural dentro de outra Paris urbana. Na calçada a vida agitada, dentro do espaço/casa do Museu você até pensa que está numa pequena chácara pela tranquilidade que o espaço desperta em quem o visita.
O museu não é grande e deve ter umas 300 obras, se tanto, entre esculturas e quadros produzidos pelo do casal de artistas. Destaco o trabalho de Ossip – de quem não conhecia nada, absolutamente nada – e saí apaixonado pelo seu trabalho de escultor, uma mistura de várias tendências. Posto aqui algumas fotos internas e o jardim de esculturas espalhadas entre as árvores do quintal que já anunciam que a primavera começa dentro de 15 dias. O trabalho de Valentina também é admirável. Ela participou dos movimentos cubistas na capital francesa e os dois frequentavam a vida boemia de Montparnasse.
Saímos no museu decididos a almoçar do Polidor, restaurante inaugurado em 1845 e que já comentei aqui para voces. Saímos do museu tomando Rue d’Assas à esquerda até que, na esquina da Rue Auguste Comte (sim o positivista, ele mesmo que fez tanto sucesso entre os militares brasileiros no final do século XIX), entramos por um portão para atravessar o Jardin de Luxembourg, contornando o prédio do Senado, e sair na rue de Vaugirard, para contornar a Place de l’Odeon e ai até a Rue Monsieur Le Prince.
Ao contornar o prédio do Senado demos de frente com membros da CGT que se preparavam para iniciar as manifestações de hoje contra a aprovação da mudança na previdência. A Câmara já aprovou o aumento da idade de 62 para 64 para aposentadoria e a discussão agora está no Senado, para ultima votação. Ainda era cedo e um grupo de uns 50 sindicalisas estavam instalando aparelhos de som e ao fundo se ouvia no alto falante “Ole ole olá……..” não era Lula não mas eu não resisti e comecei a acompanhar o coro “Ole ole olá…..Lulá Lulá…”. ]
Ontem meu amigo Toninho (do orçamento da Unicamp) comentou sobre o diário que postei, que o sucesso da presença dos sindicalistas, nas reuniões do Cruesp é porque não faltam as famosas barraquinhas de espetinhos para encher a barriga da massa. Aqui não vi nenhum ambulante vendendo, acho que a tigrada mata fome com crepes nos bares próximos. Kkkkkk
Contornamos a Place de l’Odeon onde está o imponente Theatre Odeon e seguimos para o Polidor, ou melhor Cremerie Polidor, fundada em 1845. À primeira vista não mudou nada, a não ser o fato que retiraram as centenas de fotos afixadas no vidro da fachada do restaurant. Lembro das fotos dos frequentadores VIPs que frequentaram as mesas do restaurante e com destaque para foto de Woddy Allen que no ano de 2011, esteve em Paris por uma temporada para gravar ‘Meia Noite em Paris’.
Eureca, a pandemia da covid 19 acabou mudando muita coisa em Paris e no Polidor, em particular. O Polidor passou por reformas que, se você não o conhecia antes, não compreenderá. O Restaurante continua com aparência de 1845, porém, ai porém, os banheiros que antes ficavam do lado de fora do prédio e que você tomava chuva para aguardar na fila foi reformado. Aqueles banheiros com privada era ‘turca’, sim aquela que você precisa ficar agachado, como cabloco ou índio, para fazer o número dois e as mulheres os dois, foram finalmente destruídas. Os banheiros agora são moderníssimos, cheirosos, quentinhos e no subsolo da Cave do Polidor que fica ao lado. Finalmente, após 176 anos de separação, as duas partes do Polidor foram unificadas.
‘Ole ole olá….” agora aceitam cartões de crédito, aliás, preferem cartão em lugar de dinheiro vivo. Comida continua excelente e o preço super legal. Almoçamos por 15,50 euros cada com prato principal + entrada ou prato + sobremesa. Cada um de nós pediu um tipo de menu ‘pour partager’. Claro que , para acompanhar um ‘pichet’ de meio litro de Sauvignon blanc.
Após almoço fomos em direção ao Boulevard Saint Michel pegar o 38 e voltar para casa. Na Place de Saint Michel, um grupo de sindicalistas da CNT já havia instalado barraca para se proteger da chuva e estavam acabando de montar as caixas de som. Ao longe, ao lado do prédio da polícia, que fica na Île de La Cité. havia mais de 20 caminhões com tropa de choque, pronta para agir. Hoje meus amigos Gilberto Gonçalves, querido Giba, e o poeta e jornalista Pitágoras terão fotos e vídeos inéditos para ilustrarem seus blogs. Giba com Jornal do Taquaral de Campinas e Pitágoras com Cancioneiro Caiçara, site referência de bom jornalismo para todo litoral norte paulista.
Amanhã tem mais.