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Caviar e champangne

Diário do ano da peste de 20 de outubro de 2021

hoje é quarta feira dia 20 de outubro e a vida segue aqui na República Anarquista Livre dos Tupinambás de Barequeçaba com minha saga do “Só a poesia nos Salvará”.

Gentemmmm estou procurando passagem para Passárgada urgentemente, mas não encontro passagem. Tá tudo lotado, e vocês sabem que só se vai a Passárgarda por um trem especial que sai da Luz, passa por Paranapiacaba, daí vira para o norte em direção a serra da Bocaina onde faz curva e vai direto para serra da Canastra. O trem dá parada de meio dia na estação de São João da Glória. Na manhã seguinte nosso trem vai rumo a serra do Cipó e a parada final é na estação da serra da Capivara. A entrada para Passárgada fica na Pedra Furada.

Eu quero ir para Passárgada urgentemente.  Lá tem queijo camembert,  geléia de damasco no café da manhã, caviar com moet Chandon na hora do almoço e um Petrus com risoto de pato no jantar. Cansei das promessas do país do futuro.

E hoje nossa nau da língua portuguesa visita novamente os versos do poeta recifense Manuel Bandeira que mora há décadas em Passárgada onde ele é amigo do rei e lá ele ficou amigo intimo da Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca teve
E como Bandeira escreve cartas maravilhosas de Pasárgada e diz que lá é outra civilização onde capitão não tem vez.

E hoje vou ler dois poemas de Manuel Bandeira.

1- Cartas de Meu Avô

A tarde cai, por demais
Erma, úmida e silente…
A chuva, em gotas glaciais,
Chora monotonamente.
E enquanto anoitece, vou
Lendo, sossegado e só,
As cartas que meu avô
Escrevia a minha avó.
Enternecido sorrio
Do fervor desses carinhos:
É que os conheci velhinhos,
Quando o fogo era já frio.
Cartas de antes do noivado…
Cartas de amor que começa,
Inquieto, maravilhado,
E sem saber o que peça.
Temendo a cada momento
Ofendê-la, desgostá-la,
Quer ler em seu pensamento
E balbucia, não fala…
A mão pálida tremia
Contando o seu grande bem.
Mas, como o dele, batia
Dela o coração também.

Mas há artes poéticas…”

Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação

Pitagoras Bom Pastor

Pitágoras Bom Pastor de Medeiros, é formado em direito e pós graduado em jornalismo digital

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