Por Priscila Siqueira
Priscila Siqueira é jornalista e escritora e Mestre Proeira da Cancioneiro Caiçara
Hálima El’Ether Tavolaro, conhecida por todos em São Sebastião como “Turquinha”, foi a primeira vereadora no município . Nascida em 1925, na cidade de Santos, seu pai era oriundo da Síria e seus avós maternos tinham vindo da Calábria, no sul da Itália.
Como o Império Otomano havia dominado vários países de língua árabe, durante muito tempo, os brasileiros confundiam as pessoas descentes de árabes com os turcos. Na ocasião em que o pai de Turquinha emigrou para nossa terra, quem dominava a Síria era a França.
‘A infância de Turquinha não foi fácil. Com 14 anos começa a trabalhar..’
Quando soube que o porto de São Sebastião ia ser construído, seu pai muda com a esposa caiçara e filhos para nossa cidade. A fim de sustentar a família, ele teve várias ocupações: foi mascate, comprando tecidos na capital e vendendo no litoral; era exímio costureiro de roupas de homens, além de ter aberto uma venda na Rua da Praia.
A infância de Turquinha não foi fácil. Com 14 anos começa a trabalhar no cartório da cidade. Segundo sua filha mais velha, Benvinda, foi por conta da infância de tantas privações que Turquinha gostava de se vestir bem :“Ela era sempre muito elegante…” lembra.
Turquinha casou-se em 1950, no Ano Santo Católico, (como tinha orgulho de contar) com Francisco de Assis Tavolaro. Ambos só conseguiram estudar até a quarta série primária, devido ás dificuldades da época. “Por risso ela nos dizia”, afirma Benvinda: “Vou dar a vocês, meus filhos, uma enxada para se virarem na vida”,
‘“Enxada” para Turquinha significava estudo, profissão”
“Enxada” para Turquinha significava estudo, profissão .Assim é que seus seis filhos -quatro mulheres e dois homens, são pisicólogos e pedagogos, uma filha é médica anestesista, outra arquiteta e professora de Artes Plásticas, a caçula mulher, Stella, fez Direto e Administração e o dois rapazes, Educação Física.
“Papai era muito calmo, mas mamãe muito nervosa. Muitas vezes, à noite, ela trazia para casa trabalho do cartório onde era escrivã, e ai do nós, se fizéssemos barulho enquanto trabalhava”.
“Até fazermos 18 anos, ela nos obrigava a ir à missa todos os domingos. Depois dos filhos adultos, ela se sentiu livre dessa responsabilidade religiosa”
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Turquinha faleceu com 58 anos por conta de sua diabete
Que Turquinha era uma mulher valente, destemida e na frente de seu tempo, seus filhos e quem a conheceu não podem negar. Ainda solteira, em 1948, jovem com 23 anos, foi eleita vereadora em São Sebastião. No seu trabalho, era uma referência. Como mãe e esposa, uma dedicação carinhosa. Como cidadã, um exemplo!