O maior problema do sucesso é a perda de referência. Com ele, vem a pretensa certeza de que tudo que você pensa e determina é a melhor solução. Alia-se à equação, um fenômeno muito interessante, o das pessoas que estão à sua volta pararem de te contrapor. Uma porque você deixa de ouvir (uma vez que seu ego tá gritando dizendo que você é o legítimo Alecrim Dourado) e outra que o seu entorno passa a desenvolver uma espécie de admiração/medo, inerente nas relações de hoje. Você admira quem conquista algo por alguma razão e, se está em seu círculo próximo, adquire um medo de ser descartado por outro.
“E é aí que a grande merda 💩 acontece.”
Para seu cérebro não cair na avareza cognitiva nem dissociação, é essencial buscar sempre estar próximo de pessoas que consigam te trazer novas informações ou críticas. Neste mundo das bolhas informacionais homogêneas, a gente desaprendeu a diferenciar crítica de censura. A crítica é construtiva, é o que te faz ver novas visões e panoramas e evoluir. A censura é quando aquilo que você fala é tão absurdo (podendo ser até criminoso) que não há outra forma se não a de te cancelar.
Quando vivemos num mundo livre de críticas, perdemos referência, os que estão à nossa volta, ao invés de nos criticar, validam nossos pensamentos falhos, e de tanto viver este ciclo, quando encontramos indivíduos fora de nossa bolha, podemos ser facilmente cancelados.
Muita gente também poderia criticar mais, – quando ainda há tempo de salvação – , do que cancelar direto. Só que daí entramos neste ego que também quer ganhar likes lacrando com seu cancelamento.
As mídias sociais trouxeram este incrível panorama da não relação. Vivemos em grupos validadores e quando saímos para ver o mundo fora de nossas bolhas, ou censuramos ou somos censurados. Perdemos a nossa capacidade crítica. E, assim, a nossa capacidade de evolução saudável.
E o que nos resta? Censurarmos aqueles que, em suas certezas mentirosas, proferem atrocidades.
Como no caso dos ditos comediantes cometendo crimes e buscando contexto explicativo para isto, fico me perguntando qual era o ciclo deles para acharem qualquer uma de suas falas repudiosas algo decente. Óbvio que, neste caso, não sobraria nada mais do que a censura, além dos processos cabíveis obviamente.
Mas não é só neste ambiente que isto ocorre, quantos líderes de empresas já vi tendo quedas do tamanho de seus egos. Mas já vi gente indo do topo à demissão com dificuldade de recolocação mais rápido que a velocidade do som. Uma decisão muito errada, uma estratégia mal construída, uma falta de percepção ou até falas inapropriadas nas mídias sociais. Não é só a sua opinião, quando estamos com referencial homogêneo, nossas ações também viram duvidosas.
Há inúmeros exemplos que não preciso citar porque não tenho a necessidade de ganhar likes apontando o meu dedo a ninguém.
Este texto é puramente reflexivo para buscarmos analisar nosso cotidiano e tentar sermos melhores, eu inclusive. O fato é:
“conviver com gente que diz amém, te emburrece.”
E se você perpetua este tipo de ambiente, o próximo a cair pode ser você.
Nosso cérebro vive nos pregando peças constantes para gastarmos cada vez menos energia. É isto que ele quer, é isto que ele busca. Pensar com um número maior de referências cansa muito mais do que pensar com poucas, ou nenhuma informação, e todas elas sendo homogêneas. As bolhas informacionais e os algoritmos nos fazem avaros de pensamentos. E esta escassez nos limita.
Buscar o diferente, o heterogêneo, entender o outro (sim, a tal da empatia), é necessário para o seu crescimento. Lembre-se: é muito melhor conviver com muitas críticas construtivas do que uma censura grandiosa e/ou demissão, além de alguns tantos processos (mais do que devidos).
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LIV Soban , colunista da Cancioneiro Caiçara é jornalista e comunicóloga, com mestrado pela UCA . E Escritora , autora dos livros O Encantador de Pessoas e Sociedade Na Nuvem. Atualmente é aprendiz de Mãe .