Eu começo a entender mais a Humanidade quando vejo como as mães e os bebês ainda são tratados pela sociedade. É uma pressão hercúlea de tudo. VOCÊ. NUNCA. ESTARÁ. CERTA. NEM. QUE. SE. ESFORCE. DEMAIS.
A pressão da maternidade soma-se à sobrecarga inerente que todas as mulheres carregam e o resultado? Mães doentes, muito doentes, que não é somente um Baby Blues passageiro, mães que demoram anos para se recuperarem, quando conseguem. E, o pior, muitas não têm nem o tempo de perceberem o nível de sua saúde mental.
É por isto que foi lançado o Movimento Maio Furtacor, um movimento comunitário, apartidário, laico e sem fins lucrativos, que objetiva a conscientização sobre a saúde mental de todas as mães.
E porque devemos evidenciar esta questão?
Antes de falarmos de saúde mental das mães, gostaria de contextualizar um pouco mais, com os dados que a campanha Maio Furta-cor disponibiliza. 830 mulheres morrem todos os dias por complicações relacionadas ao parto em todo o mundo, 34 mulheres por hora, uma a cada dois minutos, segundo dados da Organização Pan Americana de Saúde (Opas) em 20221. A mortalidade materna é inaceitavelmente alta e ocorre mais em ambientes com poucos recursos e em áreas rurais. Mulheres pretas morrem três vezes mais. As jovens adolescentes enfrentam um maior risco de complicações e morte como resultado da gravidez.
E a razão destas mortes?
“Conforme dados registrados no Painel de Monitoramento da Mortalidade Materna, em 2021, a cada 100 mil nascimentos, o Brasil teve uma média de 107 mortes de puérperas nos primeiros 42 dias após o parto, um aumento de quase 95% no número de óbitos maternos e 258% maior do que a meta proposta 2. Considerando estudos mundiais, estima-se que 3,7 mulheres se suicidam no pós-parto a cada 100.000 nascidos vivos. Para fins comparativos, 1,92 mulheres morrem de hemorragia pós-parto na mesma proporção. A maioria dessas mortes poderia ter sido evitada”, explica Ghyslaine Paiva, psicóloga e integrante do Movimento.
“O dobro de mortes por suicídio versus hemorragia”
Quando você vê este número – o dobro de mortes por suicídio versus hemorragia – não tem como não se assustar. Uma das causas, segundo Ghyslaine, é a forma como esta gravidez foi gerada. Num País onde temos dois estupros por minutos e, segundo o IPEA, apenas 8,5% chegam ao conhecimento da polícia e 4,2% são identificados pelo sistema de saúde, encaramos uma realidade brasileira muito mais dura do que poderíamos imaginar. Fora os estupros, muitas vezes a gravidez não foi desejada e se a mulher não tem estrutura para lidar com este processo, fica muito difícil conseguir manter uma saúde mental durante sua gestação e principalmente pós.
Eu, por exemplo, nunca me imaginei mãe. Nunca pensei que poderia ter um filho. E a minha bebê veio completamente inesperada, fruto de uma relação segura (sim, acontece). Se eu não tivesse a rede de apoio que tenho e a minha maturidade – acho que uma das vantagens de ter filho mais velha é isto -, talvez eu não tivesse estrutura para me ver mãe. Demorei três meses para me entender grávida e todo o restante do processo para me descobrir mãe. E, mesmo assim, no meu íntimo, sei o quanto é desgastante, exaustivo e complexo. Se pra mim, com todo o meu privilégio é difícil, imagino para todas estas meninas, sem condições econômicas, rede de apoio ou suporte.
“É essencial que o Maio Furta-cor seja pauta de todos
Este movimento precisa ser divulgado com muito mais força. É essencial que o Maio Furta-cor seja pauta de todos, afinal, são as mães ainda responsáveis por toda a humanidade. Colocar este esqueleto para trás da porta é deixar a humanidade doente. Como ato de consciência, o Movimento promoverá passeatas em todo o Brasil. No site – https://www.maiofurtacor.com.br/ – , tem muita informação e vale a pena navegar. Muitas celebridades apoiam a causa e todos nós deveríamos fazer o mesmo.
O que eu achei muito interessante na campanha é a escolha da cor. Porque Furta-cor? “Porque é uma cor que representa a singularidade, toda a maternidade é ímpar e deve ser vista e tratada como tal”, explica Ghyslaine.
Temos caminhos únicos, mas eles nunca deveriam ser solitários.