MATERNIDADE
Na segunda feira dia 26 de junho, o prefeito Felipe Augusto inaugurou a maternidade no Hospital de Clínicas de São Sebastião, que levou o nome da médica Elisa Pinheiro Mendonça em uma justa homenagem. Essa foi uma obra resultante de reforma da antiga maternidade e ficou muito bonita.
Só que a cerimônia de inauguração da mesma foi muita estranha. Na ”mesa”, composta por diversas pessoas do corpo clínico do Hospital , de vereadores e 2 ex- prefeitos, não chamaram nenhuma das filhas da médica que estava sendo homenageada. Até mesmo para descerrar a placa que continha seu nome, o prefeito precisou ser advertido para a presença das filhas da homenageada: Inês, Mônica e Valéria.
A cerimônia quase que se resumiu de elogios à atual Administração Municipal e seus representantes retornado os elogios àqueles que o elogiaram.
Não fosse a fala dos ex-prefeitos, ninguém citou ou sabia quem era essa mulher valorosa que ajudou a pôr no mundo centenas de caiçaras, hoje adultos.
Por conta disso, quero hoje republicar um texto que escrevi que narra um pouquinho da vida dessa mulher, médica, cidadã e mãe tão valorosa que, com seu marido, o pediatra Álvaro Pinheiro Mendonça fizeram tanto por São Sebastião
AMOR E DEDICAÇÃO
Eliza Pinheiro Mendonça foi sempre a primeira em sua turma na Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense. Formada em 1957, juntamente com seu marido Álvaro Pinheiro Mendonça, esse casal de médicos tinham sido da Juventude Universitária Católica , quando estudantes. Seu marido se especializou em Pediatria e ela em Obstetrícia e Ginecologia
Formados, seguiram o apelo que a Ação Católica da época faziam aos recém-formados de irem servir as populações mais vulneráveis que viviam no interior do País. Os dois recém-casados, foram trabalhar nos municípios de Capela e Atalaia, no estado de Alagoas, contratados pelo Ministério da Saúde.
Naquele anos, de 100 crianças que entravam no primeiro ano primário- foram aquelas que nunca puseram o pé em uma escola- somente duas delas chegavam ao ensino universitário. As faculdades particulares no Brasil estavam começando a se instalar, através das Universidades Católicas. Daí, a grande responsabilidade a que esses universitários eram chamados, em relação à pobre população brasileira. As universidades públicas, como é anda hoje, são financiadas com o imposto pago pela população, ainda que muito pobre.
Com um ano de trabalho nessas cidades, a reputação do casal estava no auge pela forma carinhosa e competente que atendiam seus clientes. Tal fato causou temor no “coronel” político da região um deputado que também era médico. Resultado: provavelmente pela influência desse político, seus contratos não foram renovados.
Voltam então para Niterói e vão trabalhar no posto de Saúde da cidadezinha onde Eliza nasceu: Santa Maria Madalena . Porém como nada recebiam por seu trabalho acabaram vindo para São Sebastião, litoral norte paulista.
Juntos com a equipe que aí chegou em ano depois para tocar o Hospital de Clínicas de São Sebastião, até hoje esse casal é lembrado com muita admiração e carinho por aqueles que o conheceram .
– ”Dra Elisa cuida da gente quando engravidamos e temos o bebê e dr. Álvaro cuida dele fora da barriga”, me disse uma mulher que tinha verdadeira veneração por eles.
A empatia que Eliza tinha com as clientes era tão grande, que chegou a perder mais de uma gravidez quando atendia sua paciente em trabalho de parto. Ela também acabava expulsando seu feto, como a mãe que ajudava a parir sua criança.
Uma história sobre essa médica que já foi contada em outras ocasiões, lembra como eram simples as pessoas que vivam nesse litoral, no início dos anos 60. Morando no centro de São Sebastião, um casal de ilhéus veio à procura do pediatra Álvaro com uma criança nos braços. Ao recebê-los na porta, Eliza afirmou que o marido não se encontrava em casa. Mas vendo a situação da criança, bastante febril e acabrunhada, ela se ofereceu para atender o menino.
O pai e a mãe da criança trocaram um olhar de desconfiança inquisitiva. Por fim, o pai declarou>
-”Tá certo. Mulher de médico deve mesmo saber alguma coisinha”. A “mulher de médico” salvou a vida da criança que estava em avançado estado de pneumonia…
Álvaro e Eliza se mudaram para São José dos Campos, nos anos 70. Ambos são falecidos. Infelizmente, às vezes a política partidária pode ser mesquinha e ingrata. O antigo Pronto Socorro da cidade foi batizado com o nome dessa médica, na gestão de João Siqueira. Porém, em represália o prefeito seguinte tirou o nome dela do Pronto Socorro, esquecendo que fora Eliza a médica que tinha atendido sua esposa quando ela ficava grávida, tanto no pré-natal como no trabalho de parto.