Por Priscila Siqueira
“Minha mãe não se desviava do caminho que considerava certo, por nada do mundo”, afirma com orgulho Carlos Alberto, o “Betão”, segundo filho da professora Marisa Santos Bourg.
Essa professora nascida de família caiçara na capital paulista em 1937, com 17 anos conhece seu primeiro namorado, Edmundo Luiz Bourg, com quem casou e teve quatro filhos: Sérgio Luís, Carlos Alberto, o “Betão”, Paulo Henrique e Rosana. Em 1964, o casal e seus filhos homens se mudam para São Sebastião, onde nasce sua filha mulher.
“Uma mulher tranquila, que inspirava alegria, mas também era muito firme.”
“Mamãe era uma mulher tranquila, que inspirava alegria, mas também era muito firme. Sérgio, meu irmão é só um ano e meio mais velho que eu; quando brigávamos, nosso castigo era ficar sentados olhando um para o outro, até que fizéssemos as pazes”.
Betão não se lembra de presenciar qualquer discussão entre seus pais.”Como qualquer casal normal eles deviam ter suas desavenças. Mas, nós, seus filhos, fomos poupados de ver ou participar delas”. Segundo ele, em sua casa havia um “comando único” exercido pela mãe. Edmundo acatava tranquilo as decisões da esposa na educação dos filhos.
“a casa foi feita para nos servir”
Para Rosana, a caçula, “mamãe era uma mulher muito corajosa. Apesar de sua jornada dupla de trabalho, na escola e cuidando da casa e dos filhos, nós sempre sentíamos muito carinho em tudo o que fazia por nós”.
Uma das coisas que Rosana lembra da mãe, era o fato dela sempre dizer que “a casa foi feita para nos servir; não nós para servirmos a casa”… Então, se chegavam com os pés sujos de areia da praia, Marisa não se importava.”Ela era desprendida das coisas materiais. Isso foi inculcado em mim com muita força. Eu não consigo dizer “meu” carro ou “minha” casa. O coletivo que mamãe nos ensinou como educadora, fez parte de nossa aprendizagem”.
“Creio que a metade dos alunos de sua escolinha, não tinham condições de pagá-la”
Sua casa sempre estava cheia de pessoas que vinham para ela aplicar injeção, receber alguma coisa para comer ou uma palavra de consolo. “Creio que a metade dos alunos de sua escolinha, não tinham condições de pagá-la, mas eram tratados da mesma maneira que os outros”, afirma Rosana que hoje mora na França pois ela e seus irmãos têm cidadania francesa.
Essa mãe carinhosa não queria que seus filhos ficassem por fora do que acontecia nas cidades grandes:
”Ela nos levava- os quatro filhos- de ônibus para São Paulo que parava em Caraguatatuba e Paraibuna- para shows como o “Holliday on Ice”, assistir filmes infantis ou mesmo andar em escadas rolantes”, diz Rosana com um sorriso nos lábios…
A criação da sua escola de Educação Infantil
Chegando em São Sebastião, tia Marisa – como era chamada por todos na cidade – viu a necessidade de uma escola de Educação Infantil que recebesse crianças mais novas que ainda não frequentavam o primeiro ano primário.
O presidente do TEBAR Praia Clube da época, propôs à Marisa abrir essa escolinha na área desse clube, aproveitando a infraestrutura que ela apresentava. Infelizmente outros membros da Diretoria do clube da Petrobrás não concordaram que a escola fosse aberta para crianças da cidade. Teria de ser somente para os filhos de sócios do TEBAR.
Então, Marisa abriu a escola em sua própria casa. Até hoje, a Escola de Tia Marisa permanece na cidade, já tendo recebido centenas de crianças, muitas delas agora adultos.
“A escola ainda é no mesmo lugar, na rua Nossa Senhora da Paz, 302. Como por herança, a casa ficou para mim, eu a reformei, adaptando melhor para seu funcionamento. Infelizmente, mamãe pouco aproveitou pois dois anos após a reforma, ela veio a falecer de câncer em 2000”, continua Betão.
Marisa -extremamente religiosa- também era catequista na paróquia.
Não contente de trabalhar todos os dias com crianças, Marisa -extremamente religiosa- também era catequista na paróquia. Lembro-me uma vez que se queixou para mim:
“O único dia que tenho para dormir um pouco mais é no sábado. Durante a semana tenho a escola e domingo sou responsável pela Missa das Crianças que é às oito da manhã. E nosso pároco está sempre marcando reuniões nos sábados bem cedinho”…
Cidadã Sebastianense
Em 2000, ano em que faleceu essa professora maravilhosa, foi-lhe outorgado o Título de Cidadã Sebastianense, pela Câmara Municipal de Vereadores. Quinze dias após a sua morte, Edmundo seu marido e companheiro, também veio a falecer.
Tia Marisa nunca desistiu em dar seu coração e sua disponibilidade para todas as pessoas que dela precisaram, mas amou de forma especial as crianças, sua verdadeira paixão!…