DIARIOS ATENIENSES
Desembarquei em Atenas na tarde de 19 de janeiro vindo de Paris e deixando para trás 6 graus negativos e montanhas de neves no pátio do aeroporto Charles de Gaulle para desembarcar em “Elefthérios Venizélos” aeroporto internacional da cidade de Péricles. Atenas me recebeu com muito sol e temperatura de 20 graus positivos.
Essa é minha primeira estada na cidade que possibilitou o surgimento da poesia, do teatro, da ciência e da filosofia. Aliás, foi aqui em Atenas que viveram todos aqueles filósofos, matemáticos, astrônomos, geógrafos e muito mais que nós todos estudamos nos bancos escolares desde o grupo escolar.
Quem não se lembra do teorema de Arquimedes e da palavra Eureka que, dizem as más línguas, o matemático nunca teria falado e muito menos dentro de uma banheira. Na banheira só Rita Lee com muita espuma.
E foi aqui também que viveram todos os filósofos gregos que lemos ao longo da nossa existência seja integralmente, em partes ou mesmo partinhas bem pequenininhas, não importa. Afinal, foi aqui na Grécia e principalmente aqui em Atenas, onde estou por alguns dias, que viveram e foram professores da Academia de Atenas os nomeados sábios Sócrates, Platão, Euclides, Ptolomeu, Aristóteles, Euclides e muitos mais. E foi aqui que surgiram duas questões que perseguem a humanidade ao longo dos últimos dois milênios.
Foi aqui que o átomo foi identificado pela primeira vez e possibilitou aos homens a destruição no Amargeddon. Já a segunda indagação – e essa sem resposta – perseguirá a humanidade até a sua extinção completa. Essa indagação filósofica, sem resposta, foi traduzida para o português na sua forma mais perfeita, pelos mineiros. Domquieuvim, domquitô, prônquivô.
E eu, – mais um brasileirinho perdido aqui, nessa cidade, que inventou a tal da democracia que teve vida de 180 anos ininterruptos, por aqui, só que há mais de 2500 anos atrás- , sai hoje do hotel cedo e me pus a caminhar até o Parthenon para visitar o sitio arqueológico, um sonho alimentado desde a juventude depois de ter lido muitos livros, visto muitas fotos e muitos documentários.
Bem, ao subir a colina em direção ao pomposo Parthenon a primeira coisa que senti foi, na verdade mesmo, o peso dos mais de setenta anos vividos. Mas nada que não se consiga superar. Depois de uma hora de subida passando pelo teatro de Dionísio, do teatro erguido pelo rico romano Herodes – não confundir com Herodes, aquele da bíblia, que condenou o Cristo – você dá em frente ao portal de entrada do Parthenon que é o templo construído pelo mestre Fidias dedicado a Atena, a deusa da cidade e deusa da estratégia.
Além do Parthenon, do lado direito foi erguido um outro templo menor também dedicado a Atena. O detalhe desse templo menor são as figuras de femininas chamadas Cariades que parecem sustentar o peso do templo sobre a cabeça. Como tudo é simbólico e nada é por acaso nesse mundo, essas Caríades encontram-se nessa posição como castigo eterno pelo fato da cidade de onde elas viveram ter apoiado os persas na guerra contra os atenienses.
Bem, essa história já é muito conhecida e não vou ficar aqui narrando com minhas poucas informações históricas, de minha parte, sobre a história como do que se passou por aqui nos últimos 2 mil e quinhentos anos. O que sei é que foram os venezianos no dia 26 de novembro de 1687 durante guerra que mantinham contra os turcos que dispararam seus canhões sobre o Parthenon deixando-o como ele está até hoje: uma belíssima ruina. O fato real é que os turcos usavam o Parthenon como depósito de dinamite e ai ….. vocês deduzam o resto.
Confesso que me senti hoje como um ateniense do século VI a.C , só faltou os chinelões de couro e a toga branca, material indispensável para um filósofo. Desci lentamente o morro e parei meu olhar para observar o monte Pnyx onde uma multidão de turistas está sempre em cima.
Num primeiro momento achei que o fato de tanta gente estar em cima daquela pedra fosse para observar a antiga Ágora grega, situada abaixo. Estava redondamente errado. Esse monte que não tem nenhuma construção e é totalmente sem vegetação era o local onde ocorriam os julgamentos na Atenas do século VI a.C. em diante.
E foi desse monte que Paulo pregava o nome de Cristo para os atenienses. Não se esqueçam que a difusão do cristianismo começou aqui na Grécia e que o novo testamento foi escrito em grego.
Bem, poderia comentar também que Atenas foi dominada por todos os tipos de gente e conquistadores de várias etnias, mas acho que isso é outra história. Mas continuando a minha descida do Parthenon passei em frene a portaria da Ágora grega, outra área arqueológica, hoje uma série de ruinas, pertencem, desde o século passado, aos norte-americanos que, na figura de Rockfeller, teve o grande benfeitor da reinvenção de Atenas e do Parthenon que, à época, ninguém mais dava importância.
Atenas, depois dos seus séculos de glória foi caindo em decadência e, aquela cidade dinâmica e cosmopolita, que lemos nos livros de história no tempo dos filósofos, ficou reduzida a uma população de 4 mil habitantes ao longo do século XIX. E nem faz tanto tempo assim.
Bem, descendo o morro do Parthenon, e com as perninhas já bem cansadas, o melhor mesmo foi parar num restaurante no popular bairro de Plaka, situado em frente a Ágora e com comercio popular e sofisticado, e ruas abarrotadas de gente onde vi, com certeza absoluta, várias Helenas.
Amanhã tem mais.