Diário de Atenas do dia de janeiro de 2024
Texto e Foto de Marcus Ozores
Estou em Atenas, mas hoje é dia de comemorar o aniversário da fundação da minha Sampa amada e maldita que completou 470 anos. É curioso comemorar aniversário da cidade que amo estando em outra cidade que é uma das antigas do mundo e não existe documento assinado em cartório com data de fundação, mas calcula-se que deve ter, por baixo, uns quatro a cinco mil anos.
Diferentemente das Américas onde as cidades tem data de fundação, batizado, crisma etc. aqui na terra dos deuses do Olimpo as cidades simplesmente existem há milênios e não tem nome de fundador. Tudo se atribui a Zeus e seus amiguinhos que adoram se divertir com humanos durante as futricas, durante o chá das cinco, lá pelos lados do Olimpo.
Ontem comprei passagem, na portaria do hotel, para ir aoCabo Sounion, distante 68 km de Atenas, onde está localizado o mais importante templo dedicado a Poseidon, reconstruído durante a chamada era de ouro de Atenas, no século V a.C, durante o governo de Péricles. E, por favor, não confundam o Péricles que implantou a democracia ateniense e governou a cidade durante quase duas décadas, com oPéricles, chargista da revista Cruzeiro, e criador do inesquecível ‘amigo da onça’.
Para aguardar o busão, fui a um café, de uma loja de departamento, situado em frente ao ponto, onde tomei expresso (aqui está caro pra caramba, algo em torno de 3 euros para você usar lupa e ver o negro do café em ¼ no fundo da xícara). Valeu a pena pagar 3 euros, pois, me permitiu ver da Acrópole no alto do morro, do décimo andar da loja de departamentos. Fiz várias fotos do prédio, desenhado por Fídias, e que posto aqui para vocês.
O embarque, no ônibus de turismo, estava previsto para ocorrer as 14h00, na praça Omnia, mas, uma manifestação dos alunos da Universidade de Atenas (aquela que já comentei aqui e postei foto com lua cheia ontem) desceram a avenida em direção à praça – onde fica ponto – e o embarque foi suspenso por meia hora. Tempo que tive para acompanhar a passeata com presença de milhares de alunos e professores que protestavam contra a implantação do ensino pago, dentro das novas pressões econômicas de Bruxelas. Juro que vi Sócrates, Platão e Aristóteles orientando a passeata dos estudantes. Se não eram eles, com certeza eram parentes próximos.
Saímos com atraso de meia hora, em direção ao ponto mais extremo da Atica e que na antiguidade servia de posto de observação para identificação de possíveis ataques persas. Esse templo localiza-se na ponta do mar Mitoico. É nesse ponto que a mitologia grega relata que Egeu, o rei de Atenas, se jogou no mar por que achou que seu filho Teseu havia morrido no combate ao Minotauro.
Valeu a pena? Perguntaria o poeta. É claro que valeu a pena, tudo vale a pena se você tem olhar grande. O cabo Sounion, de acordo com a designação geográfica, é onde está localizado o templo dedicado a Poseidon, no ponto mais extremo a leste da Ática. Por isso, a visita ao templo deve ocorrer no período da tarde para poder observar o pôr do Sol no Oeste. Confesso a vocês que nunca, em toda minha vida, que já passa de sete décadas, vi espetáculo tão lindo em toda minha vida. As cores são indescritíveis e, por isso, posto várias fotos desse bailado de luzes.
Retornamos para Atenas as 19h30 e decidi jantar em restaurante tradicional, grego é claro, perto do hotel. Nesse restaurante, uma dupla de músicos. Eureka, descobri que às vezes ouvia o som parecia dos mariachis mexicanos, outras do canto cigano, de Sevilha e paro por aí para não acharem que tomei vinho demais. O mundo é uma bola que gira e tudo está ligado com tudo, basta ter ouvidos e olhos atentos.