Texto e Fotos de Marcus Ozores
Hoje, 7 de fevereiro de 2024, completaram-se sete dias, desde que deixei Atenas, e rumei a Paris para me hospedar no apartamento de Madame Cayol, como de hábito, há mais de uma década.
Paris, sempre Paris e mais Paris ainda desta vez, pois, desembarquei aqui, no início da noite da na última quarta-feira, dia 31 de janeiro, depois de ter convivido, com os deuses Olímpicos, por treze dias.
E Paris para ser Paris sempre nos recebe com algum ‘mouvement social em cours’ como dizem nessas paragens para nomear mais uma greve geral.
Desta vez os agricultores enfurecidos protestavam contra a invasão de produtos estrangeiros, nas gôndolas dos supermercados.
E como a agricultura -e os agricultores, na terra de Clóvis-, é subsidiada e milenar, o governo Macron não teve força política para enfrentar a ira da categoria, que sitiou Paris com tratores, bloqueou centenas de estradas, pelo país afora e ameaçaram invadir Paris com suas máquinas possantes e estacionarem seus obuses na frente da Assembleia Legislativa, no primeiro dia de fevereiro.
Uma jogada perfeita dos agricultores, nesse xadrez político, em busca de subsídios, já que centenas de prefeituras haviam sido sitiadas pelos agricultores, nas últimas semanas de janeiro que, enfurecidos jogaram postagem dos currais (merda de vaca) na frente das prefeituras. Isso sem falar nas centenas de autoestradas bloqueadas, em todo o território francês.
Macron, sem alternativa, e para tentar melhorar seus índices de popularidade que andam muito baixos por aqui, não pestanejou e foi para reunião da União Europeia anunciar que a França não assinará mais o tratado de livre comércio com o Mercosul, apesar da contestação da Alemanha, tradicional parceiro da França, que apoia integralmente o acordo com o Brasil e nossos hermanitos latino americanos.
No sábado, quando sentei e tentei escrever as primeiras linhas desse hebdomadário vi, no noticiário da TF3, o início de uma nova greve geral, desta vez dos policiais municipais, de Paris. E as greves não param por aí. Daqui a pouco deve ter outra greve, desta vez dos taxistas que estão revoltados com o pequeno aumento das tarifas, que a categoria foi contemplada, pela prefeitura de Paris, para ser utilizar durante os 19 dias – de 26 de julho a 11 de agosto – que duram as Olimpíadas, aqui pela cidade.
Quem ganha com as Olimpíadas é a velha Paris de sempre. Até o dia 26 de julho serão inauguradas mais 200 km de linhas trilho, numa cidade em que ninguém reside a mais de 500 metros de uma estação de metrô. Em troca a esse investimento, as passagens do transporte coletivo, durante as Olimpíadas, serão cobradas em dobro. São Paulo, o primeiro estado a inaugurar uma linha de metro, nos anos 1970, no Brasil, tem uma malha total de 110 km chorando prá mais.
Aqui, só a extensão da malha para Olimpíadas, aqui, será o dobro da malha que São Paulo acumulou, em de quase 60 anos de história.
No Brasil, onde sediamos a Copa de Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, no Rio, em 2016, as promessas de investimento na melhoria do cenário urbano das capitais que sediaram a Copa e do Rio – que sediou os dois eventos – podemos afirmar que foi pífio.
O Rio, foi um pouco melhorzinho com a inauguração do museu do Amanhã, e o bondinho que corta o centro antigo da antiga capital , a derrubada de alguns viadutos que melhoraram o trânsito no centro, e fica por ai.
Pobre e classe média quando arrisca se locomover de transporte urbano tem que viajar de ônibus lotados, a maioria com ar condicionado quebrado e, assim mesmo, mais caro que o metrô de Paris, para os nativos da terra.
Recentemente estive em Fortaleza e andando pela cidade me deparei com uma estação final do metrô, localizada há a um monte de quadras da praia, que liga o nada a lugar nenhum. Parece o metrô do Alckmin – que também liga o nada ao lugar nenhum – a linha Jade 13 da CPTM que liga a Luz ao aeroporto de Guarulhos. Bem, não é assim tão fácil. Você embarca na Luz, com um monte de malas, e a última estação do metrô fica a uns trocentos km dos terminais de embarque. Aí tem que esperar um busão, com aquele montão de malas. Resultado, frequência praticamente zero passageiros viajantes, só de funcionários do aeroporto e alunos da USP Leste. Vamos parar por aqui para não falar do metrô da Bahia, de Minas, do Rio Grande do Sul, etc. etc. etc.
Resolvi terminar esse relato hoje já que, dois dias após desembarcar, fui acometido por uma gripe (ainda bem que foi aqui e não em Atenas) de inverno e só saí do apê para compras de padaria e supermercado e fiquei estacionado lendo, vendo noticiário na TV, e olhado o tempo passar.
E hoje fui despertado pelo canto de um novo tipo de pássaro – que começa aparecer nessa época do ano – quando o inverno começa a iniciar sua longa despedida. O pássaro pertence à família dos ‘humanus serrarum madeirenses’. Explico são uns pássaros grandões que carregam uma moto serra e cortam os galhos secos das árvores. Enquanto a gripe agora começar me dar adeus, digiro o tempo olhando pelas janelas imensas, do apartamento de Madame Cayol, tendo em primeiro plano um vaso com rosas.
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