Cantinho da Priscila Siqueira

A vingança Bigode do bairro contra o dedo-duro

Estávamos em plena ditadura militar e São Sebastião era considerado município “área de segurança nacional” por conta de ter em seu território o Terminal Marítimo Almirante Barroso da Petrobrás e o porto de carga seca.

Em São Sebastião não havia eleição para prefeito. Os interventores no município eram indicados diretamente pelo Governo de Brasília, no caso pelo general Golbery do Couto e Silva

No Bairro de São Francisco morava um líder sindical , conhecido por todos pelo apelido de “Bigode”. Como tinha sido sua professora de inglês num convênio realizado pela Capitania dos Portos de São Sebastião afim de dar aos profissionais do porto um mínimo de entendimento dessa língua estrangeira, eu o chamava carinhosamente de “Mr Moustache”.

Esse sindicalista, extremamente politizado, deu o nome de “Luiz Carlos “ a seu filho em homenagem ao “Cavaleiro da Esperança”- Luiz Carlos Prestes. Por sua vez, seu cachorro se chamava ”Médici”…

Por conta disso tudo, um vizinho o dedurou para as forças policiais e um grupo veio de Caçapava, onde há um quartel do Exército Brasileiro- para prendê-lo como subversivo.

 Quando bateram no portão de sua casa e perguntaram se ele era o “Bigode”, ele indicou a casa do vizinho que o tinha “dedodurado”.

Os integrantes da força policial já entraram na casa do vizinho, “descendo o cacete” nele. Até que tudo fosse devidamente esclarecido, o vizinho apanhou bastante.

Claro que Bigode foi identificado e levado para Caçapava. Quando, tempos depois, ele voltou para o litoral- sempre rindo- ele gostava de contar: ”Eu apanhei muito, mas meu vizinho “dedo duro” teve a cota dele”…

 

Priscila Siqueira

Jornalista Priscila Siqueira, Ponta Grossa (PR), 08/07/1939. Formação: Universidade do Brasil (RJ). Atuou na Folha de São Paulo, Estadão, Jornal da Tarde, Rádio Eldorado e Valeparaibano. Destacou-se por denunciar a expulsão dos caiçaras com a abertura da BR-101, tema de seu livro “Genocídio dos Caiçaras” (1984). Especializou-se em questões ambientais, cobrindo a Constituinte de 1988. Foi fundadora da SOS Mata Atlântica, do MOPRESS e presidiu a Sociedade de Defesa do Litoral Brasileiro. Participou do Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, em Estocolmo (1996), promovido pela UNICEF e pela rainha Sílvia da Suécia. Foi professora nas Escolas : Normal de São Sebastião, Universidade Salesiana, e de Pós graduação na Fundação Escola de Sociologia e Política de SP na área de Sociologia

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