Hoje, 8 de julho, é o aniversário de 82 anos da jornalista e ativista social Priscila Siqueira. Todo Litoral Norte a conhece e todo o Brasil a admira pela sua brilhante carreira de jornalista e escritora, marcada principalmente pela sua passagem pelos jornais Estadão e Jornal da Tarde e por seu livro mais famoso, dos três que escreveu, Genocídio dos Caiçaras.
Caiçaras, foi a esse povo que Priscila dedicou toda a sua vida. Jovenzinha, recém formada na Faculdade de Jornalismo da Universidade Estadual do Paraná, casara-se com João Siqueira, também recém formado na mesma universidade como dentista. O caminho natural desses dois jovens, se resolvessem ganhar dinheiro e fama, seria ficar em Curitiba, ou melhor ainda ir para um grande Centro. Se Priscila conseguiu renome internacional como jornalista morando em São Sebastião, imagine se morasse em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Certamente teria sido diretora de redação desses grandes jornais e tevês do país. Fluente na língua inglesa poderia ter ido para o exterior também.
Dr. João mais contido e por isso menos famoso, se formou na mesma turma de José Richa de quem foi amigo. Tivesse permanecido no Paraná poderia ter se tornado um grande político brasileira, ao lado de seu amigo.
O AMOR E A SOLIDARIEDADE, A RIQUEZA QUE ELES ESCOLHERÃO
Mas que fizeram esses jovens, contrariando todos os conselheiros do bem viver e ter bens: vieram para a pacata e esquecida cidade de São Sebastião trabalhar em obras sociais. Sim invés da riqueza de dinheiro, preferiram a riqueza da solidariedade. Uma sugestão e uma missão que lhes fora dado pela Igreja Católica, de quem eram e ainda são adeptos, através da JUC, Juventude universitária Católica, um grupo inspirado pelo Cardeal Dom Helder Câmara. Um grupo onde a ordem de amar ao próximo deveria ser efetivada com ação solidária, e não mero assunto pra Sermão .
A SAÚDE PÚBLICO E O MAGISTÉRIO QUE FORMOU LÍDERES
Chegando em São Sebastião foram logo resgatar o hospital local. Daí em diante foi uma luta social atrás da outra. Priscila conseguiu trabalhar na grande imprensa e mais que isso, conseguiu colocar o Caiçara e o Litoral Norte todos os dias nas páginas dos grandes jornais, principalmente o Estadão, que apesar de ultraconservador não via jeito de negar espaço à sua brilhante correspondente. Paralelamente, Priscila e Doutor João foram dar aulas no Colégio Normal de São Sebastião. Formaram jovens de todo o Litoral Norte que se tornaram líderes na política e no humanismo em suas cidades. De Ubatuba à Ilhabela, que estudou magistério em 1961 e anos seguintes em São Sebastião foi aluno de João na Química e de Priscila na Sociologia. *
O RESGATE DO AMOR PRÓPRIO DO CAIÇARA
Mas acredito que a maior obra que Priscila fez em prol dos caiçaras foi o resgate de seu amor próprio. Antes de Priscila explicar para os próprios caiçaras o real valor de sua cultura, o próprio nativo não gostava desse adjetivo. O fato é que a partir da invasão de turistas e novos adquirentes de terras nas praias (muitos através de grilagem ou estelionato), o invasor para se sobrepor sobre a nação invadida começou a adjetivar caiçara como sinônimo de vagabundo. Uns, quando bem intencionados, porque não entendiam a dinâmica da Cultura Caiçara que visa o sustento não à acumulação de riqueza, outros para justificar eventual grilagem de terra e outras maldades. Dizer que a terra era ocupada por uma nativo vagabundo era uma boa justificativa para ocupa-la em nome do progresso.
Caipira, de Curitiba, Priscila viu o caiçara com os olhos do coração. Onde viam preguiça, ela viu amor à natureza e consumo dos recursos naturais de forma sustentável. Era exatamente o contrário. Começou a dizer isso pros caiçaras, na sala de aula e em todas as palestras que dava. Lutou contra os dicionários para que mudassem o significado do vocábulo. Não conseguiu ainda, mas a própria luta animou o caiçara. De um tempo pra cá, ser caiçara virou grife. Em centenas de perfis de redes sociais usuários passaram a usar com o nome de família o codinome Caiçara. Falta ainda resgatar muito da cultura, mas o amor por ela hoje está lá no céu. E isso se deve à Priscila Siqueira.
E O RISCA-FACA COM ISSO?
Para entender a dinâmica da perda de força e de poder do caiçara após a década de 60, com construção da Rio-Santos, observei recentemente, quem Caraguatatuba, os bairros que detinham os maiores líderes políticos eram os bairros autenticamente caiçaras. Basta dizer que os grandes líderes da década de 40 e 50 na cidade eram Sebastião Mariano, do Ipiranga, Mateus ( que tinha uma Pedreira no Ipiranga ) e Altamir Tibiriçá Pimenta, do Massaguçu. De 60 pra cá, o eixo mudou de poder. Mas antes disso , com intuito de denegrir a imagem do bairro do Ipiranga , inventou-se para esse bairro ( onde fica a praia do Camaroeiro), um apelido de Risca e uma fama de bairro das brigas, fato que causou grandes traumas pros moradores locais. Sebastião Messias, um do moradores mais tradicionais do local, conta que nos jogos de futebol contra o time de lá, os adversários irritavam os seus colegas, os xingando raivosamente de Caiçara, ou caiçara vagabundo do Risca Faca. Hoje os caiçaras do Ipiranga, liderados por uma outra mulher, a artesã Angelica do Tião Izidoro lutam contra esse preconceituoso apelido dado ao bairro e a a RRCC assumiu pra si essa causa. Ipiranga Camaroeiro é o nome que defendemos junto com o povo de lá.
Então fica registrada a importância total da Priscila Siqueira, essa caiçara convertida, pelo resgate da palavra caiçara hoje tão amada pelos filhos desse litoral norte paulista e pelo resgate do caiçarismo, além é claro de todas as suas outras contribuições.
A Rádio Revista continua na luta pra resgatar e divulgar essa cultura. Por isso nomeamos Priscila Siqueira a nossa Proeira- Mor de conteúdo. Feliz aniversário Priscila Siqueira. A advogada perpétua dos caiçaras e do caiçarismo.
Fotos: arquivo pessoal de Priscila mostra ela e doutor João na década de 60 e outras duas em eventos mais recentes . Há mais fotos no nosso site.
Assistam o vídeo de Nelma Salomão sobre a vida de Priscila Siqueira , link disponível em nosso setor de videos
COMENTE AQUI ABAIXO
Gostou do texto? Comente aqui. Mande sua mensagem para a Priscika e fale do seu orgulho de ser caiçara, tradicional ( aquele neto de caiçaras), nascido ( filho de não caiçara mas nascido no território), ou convertido, nascido em outra região, mas adotante da Cultura Caiçara.
FIQUE CONOSCO
No nosso setor de votos e vídeos haverá mais fotos e vídeos sobre Priscila Siqueira, a ossa Proeira -Mor. Escute a nossa rádio. leia nossas matéria, fortaleça a nossa voz para que a sua possa também ecoar mais forte. A RRCC é a rádio e a mídia voz do caiçara.
Texto : Pitagoras bompastor