Texto Pitagoras Bom Pastor
No ano de 1982, a Banda de Caraguatatuba foi convidada, como sempre o era para tocar no aniversário da cidade de Paraisópolis-MG, terra do maestro Pedrinho. Eu tocava na banda esse tempo.
Saímos um dia antes, pois iriamos tocar a noite primeiro e depois na alvorada do dia de aniversário. Para reforçar o time de músicos, o Pedrinho resolveu passar no 6º RI de Caçapava e pegar um ex-músico da banda que a pouco tempo ingressara no Exército, pois era excelente músico. Chegamos em Paraisópolis e primeiro comemos um jantar bem reforçado de comida mineira, com muita carne de porco, especialmente o leitãozinho a pururuca. Depois disso fomos tocar no coreto.
Terminado show , o grupo se dispersou. Esse soldado como estava saudoso daquela velha liberdade da vida civil, permaneceu na rua até mais tarde, tomando umas e outras nos botecos, sempre acompanhadas por quitutes de carne de porco, especialmente o torresminho. Torresmo e a cachaça a Amélia são o que há de melhor nos bares de Paraisópolis.
No dia seguinte, depois da Alvorada tocamos o Hino Nacional para que as bandeiras fossem hasteadas. Terminado o hino, Pedrinho voltou se para a Banda e disse que todos podíamos ficar a vontade, ou seja , fora de forma. Todos ficaram assim cochichando aqui e acolá. Só um se manteve rijo e firme com olhar fixo na bandeira em posição de sentido, segurando o seu instrumento, esse era o recruta , cujo nome vou preservar aqui.
A atitude patriótica do militar impressionou a todos. Comentei com o Ascendino da percussão:-
-Olha como a vida militar modifica o sujeito. Nós aqui bagunçando e o nosso soldado não sai da posição sentido em respeito a bandeira, né? Que civismo!
Encostei no soldado e falando no seu ouvido lhe parabenizei: -Parabéns, rapaz, pelo seu patriotismo. Nós, os civis, estamos aí na maior anarquia , enquanto você não move um osso do lugar e fica aí firme na posição de sentido em continência à Bandeira. Que bonito!
Ao que ele respondeu sem vira o rosto e trincando os dentes:-
Posição de sentido, o cacete. Eu tô é me trancando pelas pernas aqui, senão me cago todo. Mardita carne de porco!