Por Pitágoras Bom Pastor
Amanhã completa dois anos que o trombonista solista da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo e da O.S. Brasileira, o caiçara “convertido” de Ubatuba, Eduardo Machado , o Buá, liderou ( e eu o ajudei nisso), um campanha pelo Facebook, que contou com apoio de todos os grandes trombonistas brasileiros e de centenas de pessoas em Ubatuba e em todo Litoral Norte, para que o nome da Trombonista Ubatubana, Carol Rangel, fosse homenageado com a denominação de um próprio público municipal em Ubatuba. Ela foi a primeira mulher trombonista profissional no Brasil, a primeira mulher a integrar a Lira Padre Anchieta de Ubatuba e também a primeira mulher a tocar na Banda de Caraguatatuba. Se isso não sensibilizou o prefeito de Ubatuba da época (06/07/2019), e a presidente da Fundart, não sei o que os sensibilizaria. Eles tomaram pé da campanha e prometeram oferecer essa homenagem, pediram seu curriculum, mas depois disso, não aluiram uma palha nesse sentido. Frise que o custo dessa homenagem é muito baixo, pois se resume na feitura de uma lei municipal e na posterior colocação de uma placa.
A ideia inicial era de que o teatro Municipal de Ubatuba recebesse seu nome, mas com a morte do ex-prefeito e ativista cultural Pedro Paulo Teixeira Pinto, ele, merecidamente foi o homenageado. O grupo criado no whatsapp, para ordenar esse movimento, que contou até com a participação de membros graduados indicados pela prefeitura concordou com isso. Propôs-se outros locais, mas a homenagem ficou só na promessa.
CAIÇARA PIONEIRA
A música na família de Carol Rangel sempre foi muito cultivada. Seu avô Dito Rangel tocava violão e cantava , embora segundo disse seu tio, Silvio, de uma maneira bem simplória. Dito foi amigo de juventude do Prefeito poeta de Caraguatatuba, Altamir Tibiriçá Pimenta, e eles saiam juntos para fandangos e serestas no bairro do Massaguaçu, na década de 30 a 40. O pai de Carol, Darli, era pandeirista e tocou em vários grupos da noite Ubatuba. Seu tio Sílvio, também é cantor amador e seresteiro e chegou mesmo a dar canjas em orquestras de baile em Santos na década de 60. Mas quem encarou a música profissionalmente foi só ela.
Criança ainda, ingressou na Fanfarra da Escola Padre Anchieta, celeiro de músicos que mais tarde integraram a Lira Padre Anchieta, que era liderada pelos jovens regentes Valdecy dos Santos ( hoje maestro) e Leandro Germano, recém falecido. Com cerca de 17 anos , ingressou nas bandas de Ubatuba e Caraguatatuba, como bombardinista. Já nessa ocasião, ela foi pioneira, porque o maestro Pedrinho que havia falecido, no seu tempo, não queria mulheres na banda para não atrapalhar o clima dos músicos que gostavam de falar muito palavrão e contar piadas sujas.
Nessa época, ela começou a estudar trombone com Ricardo Ferraz, pioneiro no estudo do trombone Clássico em Caraguatatuba. Em seguida, após difícil exame de admissão, ingressou no famoso conservatório municipal de Tatuí, tendo sido aluna do mais relevante trombonista clássico do Brasil de todos os tempos, o professor Gilberto Gagliardi.
De lá saiu para tocar em vários grupos de São Paulo tanto da área sinfônica com popular, – inclusive a Orquestra de Mulheres da Avon e a Sinfônica de Santo André. Mais tarde, através de dificil concurso de provas e títulos, ela ingressou como professora de Trombone da Universidade Federal de Pernambuco e lá deu aula para vários músicos de destaque, inclusive Néris Rodrigues, uma jovem que tem se destacado muito no trombone brasileiro é que se tornou sua amiga pessoal. Néris a levou para tocar, inclusive no famoso bloco carnavalesco ” Galo da Madrugada”, onde Carol deixou saudades.
ELA GOSTAVA DE COMPARTILHAR CONHECIMENTO
Eduardo Machado, o Buá, um dos principais trombonistas do Brasil hoje em dia, começou na música bem depois de Carol e a tem como fonte de inspiração. Ele conta: “- Carol, quando estudante em Tatuí, morava no alojamento do Conservatório Carlos de Campos, e vivia com uma bolsa bem pequena . Apesar das dificuldades, voltava para Ubatuba nas férias e dividia conosco ( os músicos da banda) o que aprendeu. Foi um exemplo de grande musicista e um exemplo de superação”.
Nascida em 5 de agosto de 1978, em Ubatuba, ela faleceu em 21 de novembro de 2016, em São Paulo, vítima de um agressivo câncer no fígado. Apesar de sua curta existência, essa caiçara que tem familiares em Caraguatatuba , Ubatuba e São Sebastião ( ela é sobrinha bisneta do famoso Major Ayres, heroi Caraguatatubense de 1932), deixou seu nome registrado na história da música de todo o Brasil , pois foi a primeira mulher trombonista clássica do Brasil. Seu pioneirismo também começou aos 17 anos, com a primeira musicista a integrar as bandas de Ubatuba e Caraguatatuba a homenageiem. Se com todo esse histórico ela não merecer ser reconhecida em nossa região, ninguém mais o . Aguardemos pois, a manifestação da Prefeitura e da Câmara Municipal de Ubatuba e quem sabe também de Caraguatatuba.
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