Por Marcus Vinícius Ozores
Diário de ano de peste de 2021
Hoje é segunda feira, dia 9 de agosto. Essa noite sonhei com o primeiro filme da série ‘Planeta dos Macacos’, lançado em 1968 tendo como ator principal Charton Heston. Esse filme distópico narra a volta à Terra de um grupo de astronautas liderados por Heston que ficaram alguns anos no espaço. Quando a nave retorna à Terra haviam se passados vários séculos desde a partida. O mundo estava dominado pelos macacos e os humanos eram escravizados e não falavam. O final do filme é inesquecível: Charton Heston caminha por uma praia deserta ela encontra a cabeça da estatua da liberdade enterrada na areia. Nesse momento ele se dá conta que a nave que ele comandava havia regressado à Terra como estava programado e o mundo que ele e sua tripulação haviam deixado não existia mais pois os homens haviam apertado os botões dos misseis nucleares.
Me dei conta hoje que esse sonho tem muito de ficção mas também tem muita realidade. Isso porque saiu hoje o relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), da ONU, e é considerado o mais importante divulgado desde 2014, e mostra de forma inequívoca que o aquecimento global está se desenvolvendo mais rápido do que o esperado. e que praticamente tudo é consequência das atividades humanas. Elevação do nível dos mares, derretimento de calotas polares e outros efeitos do aquecimento global podem ser irreversíveis.
Talvez esse meu sonho esteja mais próximo da realidade distópica do filme Planeta dos Macacos do que imaginemos. Afinal o homem continua a destruir o planeta seja desmatando ou ampliando o consumo de bens de consumo e bens duráveis. Ao que tudo indica parece que o rumo da destruição do Planeta não tem mais como ser parado.
Por isso que aproveito ainda a beleza que a GEA pode nos proporcionar lançando minhas granadas do “Só a poesia nos Salvará” aqui das areias ancestrais dos Tupinambás, em Barê.
E hoje nossa nau visita o poema “A Noite” do poeta Gonçalves Dias, o mais romântico dos poetas. Antônio Gonçalves Dias nasceu na cidade de Caxias, no Maranhão, em10 de agosto de 1823 e faleceu em Guimarães, em Portugal, em 3 de novembro de 1864, com 41 anos. Segue poema:
A NOITE
Eu amo a noite solitária e muda,
Quando no vasto céu fitando os olhos,
Além do escuro, que lhe tinge a face,
Alcanço deslumbrado
Milhões de sóis a divagar no espaço,
Como em salas de esplêndido banquete
Mil tochas aromáticas ardendo
Entre nuvens d’incenso!
Eu amo a noite taciturna e queda!
Amo a doce mudez que ela derrama,
E a fresca aragem pelas densas folhas
Do bosque murmurando:
Então, malgrado o véu que envolve a terra,
A vista, do que vela enxerga mundos,
E apesar do silêncio, o ouvido escuta
Notas de etéreas harpas.
Eu amo a noite taciturna e queda!
Então parece que da vida as fontes
Mais fáceis correm, mais sonoras soam,
Mais fundas se abrem;
Então parece que mais pura a brisa
Corre, — que então mais funda e leve a fonte
Mana, — e que os sons então mais doce e triste
Da música se espargem.
O peito aspira sôfrego ar de vida,
Que da terra não é; qual flor noturna,
Que bebe orvalho, ele se embebe e ensopa
Em êxtase de amor:
Mais direitas então, mais puras devem,
Calada a natureza, a terra e os homens,
Subir as orações aos pés do Eterno
Para afagar-lhe o trono!
Assim é que no templo majestoso
Reboa pela nave o som mais alto,
Quando o sacro instrumento quebra a augusta
Mudez do santuário;
Assim é que o incenso mais direito
Se eleva na capela que o resguarda,
E na chave da abóbada topando,
Como um dossel, se espraia.
Eu amo a noite solitária e muda;
Como formosa dona em régios paços,
Trajando ao mesmo tempo luto e galas
Majestosa e sentida;
Se no dó atentais, de que se enluta,
Certo sentis pesar de a ver tão triste;
Se o rosto lhe fitais, sentis deleite
De a ver tão bela e grave!
Considerai porém o nobre aspecto,
E o porte, e o garbo senhoril e altivo,
E as falas poucas, e o olhar sob’rano,
E a fronte levantada:
No silêncio que a veste, adorna e honra,
Conhecendo por fim quanto ela é grande,
Com voz humilde a saudarei rainha,
Curvado e respeitoso.
Eu amo a noite solitária e muda,
Quando, bem como em salas de banquete
Mil tochas aromáticas ardendo,
Giram fúlgidos astros!
Eu amo o leve odor que ela difunde,
E o rorante frescor caindo em pér’las,
E a mágica mudez que tanto fala,
E as sombras transparentes!
Oh! quando sobre a terra ela se estende,
Como em praia arenosa mansa vaga;
Ou quando, como a flor dentre o seu musgo,
A aurora desabrocha;
Mais forte e pura a voz humana soa,
E mais se acorda ao hino harmonioso,
Que a natureza sem cessar repete,
E Deus gostoso escuta.
Abaixo a versão em vídeo desta crônica