Por Marcus Ozores
Diário do peste do dia 11 de agosto de 2021.
Hoje é quarta feira, dia 11 de agosto. Nessa data comemora-se a introdução dos cursos de direito no Brasil no ano de 1827. E hoje também se comemora do inesquecível, o fantástico, o maravilhoso, o mais que perfeito, o mais irônico dia pois hoje é o Dia da Pindura, criado pelos alunos da faculdade de direito do Largo de São Francisco, na Sampa Desvairada no inicio dos anos 1930 nos restaurantes que rodeavam a centenária instituição universitária.
E o Dia da Pindura deveria ser feriado nacional no Brasil, afimal, de acordo com pesquisa realizada no primeiro semestre desse ano da peste, pela CNC, ou seja, a Confederação Nacional do Comércio, 70% das famílias brasileiras encontravam-se endividadas. Ou seja, essas famílias vivem praticamente com salário que costumamos chamar da mão para boca, isto é, os recursos mensais são utilizados quase que exclusivamente para moradia e alimentação. É triste viver num pais onde as perspectivas de futuro são nebulosas.
E assim mesmo continuamos debaixo da chuva e do frio poetando aqui na nossa Republica Anarquista dos Tupinambás de Barequeçaba lançando granadas do “Só a poesia nos Salvará” da hecatombe do Febeapá.
E hoje, o dia seguinte que a Invencibele Armata de Brancaleone desfilou no cerrado nossa nau da língua portuguesa (aliás nossa nau tem tudo a ver com os veículos anfíbios que atravessaram os mares salgados do Planalto ontem de manhã) apresenta os versos do poeta Tagore Biram era pseudônimo de Ubiratan Moreira, em homenagem ao poeta indiano Rabindranath Tagore. Ubiratan Moreira nasceu em 6 de janeiro de 1958, em Olho D´Àgua, antigo distrito de Anicuns (Goiás). Sua estreia literária foi em 1981 com o livro Flauta Noturna.
Em 1985, publicou Poemas do Amor e da Ausência e viajou para Moscou, como delegado do Festival Mundial da Juventude. Em 1987, conquistou, em Goiânia, o Prêmio Cora Coralina de Poesia, com o livro O Anjo Desafinado, seu divisor de águas poéticas.
Em 1996, Tagore Biram mudou-se para o Chile e ganhou o prêmio literário Cidade de Concepción, publicou os livros El Enderezador de Vientos e Poesia Pasajera. O poeta rebelde e saudoso de casa faleceu em Tirúa (Chile), em 13 de junho de 1998. Quando morreu em 1998, Tagore Biram deixou, inéditos, os livros, ‘Muro de Berlim’ e ‘Poemas de Santiago’, dos quais, até o momento, não se sabe o paradeiro.
Vou ler dois poemas de Tagore Biram que são belíssimos mas o segundo é forte carregado de dores.
PRÓLOGO
Chegou a hora de incendiar as palavras
e atiçar fogo na noite escura.
Erga-se o facho das estrelas
nesta noite de puro abril:
eu quero a luz derramada
sobre a chaga do meu peito
e a sangria de minhas mãos à mostra.
E não me venham dizer que não é tempo
de falar de flores e que
passou-se o tempo de falar de amores.
Eu, do meu lado, não me cansei ainda
de amar com o meu amor desesperado
(Mesmo não havendo intervalo
no calendário de minhas dores).
Mesmo que me digam: “Não é tempo de falar de amores”,
eu viro as costas e não me importo
e abro as portas dos meus tumores.
Tudo que habita na retina do meu olhar
são os passos largos do barco fundo
no mar imenso do procurar.
Esta noite, sob o manto das estrelas,
erguerei o incêndio das palavras!
Venham todos assistir o grande espetáculo.
Não vês, na vidraça dos meus olhos,
uma colmeia de abelhas? Uma centelha
desesperada, debulhando raios de luz?
Eis o prenúncio de um grande acontecimento.
(Não haverá gozo nem sofrimento,
mas a explosão da lucidez de um louco).
Venham todos! Vou incendiar o mundo
com um só dos meus olhares.
(Eu mesmo sou uma aldeia
e o meu coração pode matar a sede
de todos os mares).
Ah, eu peço pelo amor de Deus ou do demônio:
Abram as comportas do mundo.
Façam silêncio por um segundo:
aqui existe um homem incendiado
de amor e um coração que vai saltar
pela janela do peito!
O segundo poema é carregado da dor dos poetas e da dor do mundo e tem como título:
ÚLTIMO ATO
Com um tiro no crânio
o gigante Maiakovski
disse adeus à estupidez.
Com uma navalha
acariciando o pulso,
Iessenin, angelical,
despediu-se do tédio,
escreveu com sangue seu último suspiro.
Há também os que tomam cianureto,
e ainda, mais comumente,
os que saltam dos edifícios.
Quanto a mim, será mais terrível.
Comigo será diferente.
Farei meu ato-de-fé,
dançarei um ballet invisível
e cantarei a invenção da cigarra.
Ah, seguirei cantando e cantando.
Não. Não tenha pena da minha voz,
nem é preciso me dar a mão.
Apenas seguirei cantando
(e ninguém pode impedir que eu cante)
até que você se espante
com a última sílaba do meu coração.
Veja essa crônica no video