Diário do ano da peste de 2021.Ontem quinta feira dia 19 do mês do cachorro em corrida desembestada ladeira abaixo. E tem dias que é melhor ficar em casa – bem escondidinho – mas como moro aqui, nas ancestrais terras dos antropófagos Tupinambás, em Barê, posso me dar ao luxo de vir a praia e não encontrar ninguém que vai desarranjar minha base de lançamento dos petardos do “Só a poesia nos Salvará”.
E hoje até o nosso senhor Jesus Cristinho, que há tempos não dava sinal da sua existência lá do céu resolveu meu zapear hoje para perguntar o que está acontecendo aqui nas terra de Macunaíma? Nosso Senhor Jesus Cristinho ri ao falar daquele senhor que sempre está zangado e é um rabugento de primeira. Aquele senhor alto, de cabelos cacheados brancos, olhos azul piscina e que sempre olhando as pessoas de cima para baixo e que atende pelo nome de Senhor Mercado. Afinal hoje ele acordou indisposto e de muito mau humor. Fez o dólar aqui subir para 5,45 aqui nas Terras de Pindorama e da administração do inapto capitão. As tais das bolsas caíram no mundo não sei como cai e depois como levanta. Nesse ponto nosso senhor Jesus Cristinho me interrompe de novo para rir e falar esse tal de Senhor Mercado não existe é fruto da loucura coletiva daqueles que adoram o Deus l’argent em francês, Money em inglês, Geld em alemão, Den’gi em russo, Rimimbi em chinês, e; em bom português é grana, paus, tutu, barão, mangos, bufunfa, e o …. que os parta.
E por aqui o que não falta é pé rapado, gente lambendo bica, liso qui nem quiabo, vivendo de brisa, de mão abanando e muito muito mais…..
E como em tempos pandêmicos nossa colaboração na vida nacional é nada ou quase nada vou continuar o leme da nossa nau que se encontra ancorada no arquipélago dos Açores e hoje visita a obra do poeta e jornalista Arménio Adroaldo Vieira e Silva nascido em Praia, na ilha de Santiago, em 24 de janeiro de 1941. Arménio Vieira como é conhecido. Arménio Vieira, foi o primeiro cabo-verdiano a receber o Prémio Camões, o mais importante prêmio literário da língua portuguesa.
Vou ler dois poemas de Arménio Vieira e espero que gostem da força dos seus versos como eu gostei.
POEMA
Talvez um dia
Quem sabe!…
Sim
talvez um dia…
pedra jogada
a nossa gaiola de vidro
e para nós
a fuga
além fronteira do mar.
Talvez arrebente um dia
o búzio dos mistérios
no fundo do mar
e mais um vulcão venha a tona
— dez vinte
mil vulcões — Quem sabe!…
e as ilhas fiquem derretidas:
Estranha alquimia
de montes e árvores
de lavas e mastros
de gestos e gritos.
Talvez um dia
onde é seco o vale
e as arvores dispersas
haja rios e florestas.
E surjam cidades de aço
e os pilões se tornem moinhos.
Ilhas renascidas
nuvens libertas…
Talvez um continente
À medida dos nossos desejos.
Sim
Talvez um dia…
Quem sabe!
TUDO É FINITO
Pronto!
A Vénus de Milo está gorda
E fez cesariana
Apoio tem rugas
e usa lunetas
Cupido cresceu
e sofre de hérnia.
Acabou!