Diário do ano da peste de 2021
Texto, fotos e video de Marcus Ozores
República Anarquista dos Tupinambás de Barequeçaba, 31/08/2021
Hoje é terça feira 31 ultimo dia do mês do cachorro louco.
Confesso, confesso mesmo que vive 68 anos para ouvir hoje da boca do ministro da Fazenda que a Febraban, preste atenção, a Federação Brasileira de Bancos, isso mesmo a Febraban é de esquerda. E “ocês” podem até não acreditar, mas, o louro Arlindo que me faz companhia, às vezes, apesar de ser de madeira, deu um grito: ‘Num credito’. Pois é, ocês tudo pode acreditá: o Guedinho disse que a FE BRA BAN escreveu um manifesto de esquerda contra o governo do capitão, tão, tão.
E é por isso que continuo aqui na minha república anarquista dos Tupinambás de Barequeçaba lançando minhas granadas do “Só a poesia nos Salvará”.
E hoje nossa nau da língua portuguesa retorna e funda âncoras aqui na Terra Brasilis e visita os versos do paulista Péricles Eugênio da Silva Ramos nascido na cidade de Lorena em 1919 e falecido em Sampa em 1992. Formado em direito pelo Largo de São Francisco Péricles Eugênio funda, em 1947, com outros escritores e poetas, a Revista Brasileira de Poesia, divulgadora dos preceitos estéticos da chamada Geração de 45 no contexto da Terceira Fase Modernista (1945-1980) e que já inclui aspectos pós-modernos. Por isso é também chamada de “Fase Pós-Moderna”, com rupturas entre a primeira e a segunda fase. A Geração de 45 representou uma arte mais preocupada com a palavra e a forma – no caso de João Cabral e Guimarães Rosa – ao mesmo tempo que explorava assuntos essencialmente humanos, como na obra de Clarice Linspector.
Péricles Eugênio assinou por vários anos a coluna de crítica literária do Jornal de S. Paulo, Correio Paulistano e Folha da Manhã. A partir de 1966, passou a lecionar literatura portuguesa e técnica redatorial na Faculdade de Comunicação Social Cásper Libero.
Vou ler dois poemas de Péricles Eugênio para vocês:
O MUNDO, O NOVO MUNDO
Porque tentasse decifrar os signos da matéria,
com seu rumor de concha sob a forma silenciosa;
porque sem olhos se entregasse a tal empenho,
feriu os pés à margem do caminho,
dilacerou as mãos nas grimpas da montanha.
Um deus, porém —sim, foi um deus! —
penalizado o socorreu no meio da jornada,
oferecendo-lhe, na voz, os olhos com que visse,
as asas com que o vale do mistério transpusesse.
E o socorrido canta, e em sua voz um novo Sol gravita,
como o que luz no céu, porém mais quente,
como o que arrasa estrelas, mas sem corpo.
Ei-lo que canta, e um novo mar se encrespa;
ei-lo que canta, e um novo homem nasce,
um novo homem sob um novo Sol.
Ei-lo que canta; e uma só língua ecoa pela Torre de Babel;
ei-lo que canta!
E surge o mundo, o novo mundo, sobre o túmulo da esfinge.
Lamentação Floral
EPITÁFIO
As ondas nascem,
as ondas morrem,
num só minuto;
mas o pensamento
pode eternizá-las.
As rosas nascem,
as rosas morrem;
mas o pensamento
pode concebê-las imortais.
Por isso eu vos tirei domar,
ó vagas!
Por isso eu vos tirei do lodo,
ó rosas!
Porém vos fiz etéreas e flamantes,
para brilhardes sobre a poeira em que me tornarei.