Diário do ano da peste de 4 de setembro de 2021
Texto e Video de Marcus Ozores
E hoje é sábado dia 4 do mês de setembro inicio do feriadão da semana da pátria. As nossas praias estão cheias de homens e mulheres jovens que em 4 dias de feriado prolongado tentam encontrar um buraquinho entre as barracas e chapéus de sol para tostarem. E hoje do nada me lembrei do romance Memórias de um Sargento de Milícias de autoria de Manuel Antônio de Almeida publicado originalmente em folhetins no Correio Mercantil do Rio de Janeiro, entre 1852 e 1853, anonimamente. O livro foi publicado em 1854, no lugar do autor constava “um brasileiro”. O folhetim conta a história de menino Leonardo que, quando era pequeno, só sabia aprontar travessuras e quando cresceu virou um sargento de milícias.
Acho que acordei pensando nesse romance porque na próxima terça feira o capitão pretende copidescar esse livro de Manuel de Almeida mudando o título para “Memórias de um Capitão de Milicias” embora saibamos o enredo não sabemos como irá terminar.
E por isso nossa nau da língua portuguesa revisita os poemas de Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira nascido em São Luís em 10 de setembro de 1930 e faleceu no Rio de Janeiro em 4 de dezembro de 2016. Ferreira Gullar foi poeta, escritor, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista, ensaísta e um dos fundadores do neoconcretismo.
Lerei dois poemas desse mestre dos poetas brasileiros.
AGOSTO 1964
Entre lojas de flores
e de sapatos, bares,
mercados, butiques,
viajo num ônibus
Estrada de Ferro-Leblon.
Volto do trabalho,
a noite em meio,
fatigado de mentiras.
O ônibus sacoleja.
Adeus, Rimbaud,
relógio de lilases,
concretismo,
neoconcretismo,
ficções da juventude,
adeus, que a vida
eu compro à vista
aos donos do mundo.
Ao peso dos impostos,
o verso sufoca,
a poesia agora
responde a inquérito
policial-militar.
Digo adeus à ilusão
mas não ao mundo.
Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação,
da tortura, do horror,
retiramos algo e com ele
construímos um artefato
um poema
uma bandeira
MEU POVO, MEU POEMA
Meu povo
e meu poema crescem juntos
como cresce no fruto
a árvore nova
No povo meu poema
vai nascendo
como no canavial
nasce verde o açúcar
No povo meu poema
está maduro
como o sol
na garganta do futuro
Meu povo em meu poema
se reflete
como a espiga
se funde em terra fértil
Ao povo seu poema aqui
devolvo
menos como quem canta
do que planta