Diario do ano da Peste de 2021
Texto e vídeo: Marcus Ozores
Olá, hoje é sábado aquele dia que o nosso senhor jesuscristinho gosta de ver todo mundo bem. Amanhã, não, só hoje, porque hoje é sábado. E hoje é sábado dia 13 (ainda bem que é sexta e não sábado) de março de 2021. E tomem cuidado que o vírus continua nos ameaçando.
E hoje navegando aqui nas mídias sociais finalmente descobri o que é
Bem, hoje a nossa nau da língua portuguesa visita os versos da professora Maria Tereza Callefe, libriana de 25 de setembro de 1938. Açoriana de corpo e alma da encantada ILHA DAS FLORES. Emigrou para o Brasil em 1958. Formou-se na USP nos idos de 1964, no curso de LETRAS. Exerceu o magistério até 1994 em Caraguatuba cidade que adotou como residência e acabou se tornando caiçara de coração. Professora Maria Tereza também faz parte do grupo Fieira de Timbopeva. Ela se declara espírita.
Maria Tereza me enviou os seus poemas que são muito lindos mas encaminhou uma página explicando como vinham as inspirações para redigir seus poemas e aqui reproduzo este texto curto, pois, Maria Teresa, assim como Maiakovsky, precisa de alguns elementos básicos para ser poeta. Se Maiakovsky precisava de espaço físico, no seu apartamento, para poder andar e pensar poesia, a professora Maria Tereza necessitava da presença dos seus alunos, e enquanto eles faziam seus trabalhos ela se inspirava para depois anotar seus poemas.
Ela me escreveu assim: “Parte destes fragmentos foram escritos quando os alunos da E.E.S.P.G. “Colônia dos Pescadores”, em Caraguatatuba, se debruçavam sobre uma folha em branco na tentativa de fotografar, através da palavra, a emoção, a ideia, enfim, alguma coisa que eles achavam importante registrar.
Geralmente, nesses instantes, havia uma música de fundo. Chopin, Mozart, Bach chegavam de mansinho e instalavam-se ali. Aos poucos iam dominando a sala. Era irresistível. Não dava para ficar plantada na mesa. Pegava as minhas coisas e ia para o fundo da sala. Deixava-me embalar também e lavava a alma. Do meu jeito. Sem pretensões literárias, estéticas, estilísticas ou outras que fossem. Puro prazer. Desejo incontido de entrar naquela doce ciranda. Foi sempre bom.”
O primeiro poema que lerei da professora Maria Teresa Callefe diz assim:
Geração 80
Poema de Maria Terza Callefe
Vê-se ao longe um aglomerado informe que se movimenta.
Caminham? Rastejam? Ensaiam um vôo para outras regiões? Não sei.
Há um movimento quase que misterioso, secreto, completamente fechado que impulsiona esta grande massa humana.
Caminham a custo. Alguns desistem à beira da estrada. Outros se detêm sobre o próprio abismo. Mesmo assim, caminham. Persistem.
Dão-se as mãos. Entoam cânticos estranhos para meus ouvidos. Falam uma língua incompreensível para meu coração.
Estão sozinhos?
Não sei. Sei apenas que há milhares de mãos estendidas.
Para mim?
Para você?
Não sei.
A procissão dos deserdados da História prossegue.
Haverá um futuro possível para eles?
Terão capacidade de inaugurar dentro de suas potencialidades um presente que seja capaz de projetá-los num futuro feito presente quase eterno para outras gerações?
Revolve-se dentro de mim uma desumana e terrível incerteza.
A única certeza que tenho é que os amo, que atinjo a mais doce plenitude pelo olhar.
Mas é tão pouco esta gota para quem sonhou oceanos…
Fragmentos Crepúsculo
Poema de Maria Tereza Callefe
Imagem sugerida: não anotei nos meus rascunhos. Lembro-me apenas de que, quando peguei a caneta deu um branco. Daí, Crepúsculo.)
Palco sem luz.
Cadeiras vazias.
O grande show vai começar.
Senhoras e senhores!
Respeitável público!
Crianças do meu país!
Velhos e jovens,
Santos e crápulas,
Venham todos!
Tragam os esquecidos,
Os repudiados.
Arrastem os gloriosos,
Os senhores e os escravos.
Venham. corram.
Carreguem ao colo os amordaçados,
Os proscritos,
Os mutilados.
Abram a porta para todos os sonhos.
Dos rios tragam a gota límpida.
Da terra, o fruto são.
Do ar, a brisa leve.
Da montanha, o bicho mais raro.
Das noites, a estrela possível.
Carreguem em triunfo todas as madrugadas coloridas.
Acompanhem em silêncio o último entardecer do meu País.
N.R. Maria Tereza Callefe é poeta e cronista, formada em letras pela USP em 1964. Ela nasceu na Ilha das Flores, nos Açores, em Portugal e mudou-se para o Brsil em 1958. Uma apaixonada pela literatura, em Caraguatatuba onde reside atualmente, ela foi professora de Português nas escolas Avelar e Colônia dos Pescadores. Sofrendo de um cancêr que a impossibilita até de falar, ela continua , no entanto praticando sua literatura, quer lendo muito, quer compartindo textos, quer mesmo dando aulas a quem lhas pede. É casada Com Geraldo Callefe, sua alma gêmea desde 1972. Esse mês, dia 28, de setembro , é seu aniversário, por isso a Rádio Revista Cancioneiro Caiçara vai lhe dedicar várias homenagens, pois além de tudo ela é nossa colunista e nossa grande mestra, sempre nos sugerindo temas e fazendo revisão em nossos trabalhos. Ela também é autora do livro de crônicas e poemas o ” Tecendo Memórias, disponível para compra em formato digital na Amazon . Veja no link.