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Juca Pirama e o Barão de Santa Neri

Diário do ano da peste de 17 de setembro de   2021

 

E hoje é sexta feira dia 17 de setembro. E daqui da terra das amazonas fico do oitavo andar do apartamento do meu irmão que dá vista para a imensidão do Negro banhado de histórias e nesse balançar na rede da varanda eis que acabei por fazer amizade com o Barão de Santa Neri uma figura impar considerado o maior divulgador do folclore e das histórias da Amazônia na Europa do final do século XIX. Barão de Santa Neri era o título dado pelo Vaticano pelo seu longo trabalho em defesa da fé. Barão de Santa Neri nasceu em Belém do Pará em 1848, filho de uma família que havia se enriquecido com a borracha. Seu nome completo era Frederico José de Santa-Anna Neri e movido pela sua fé juvenil estudou no seminário em Manaus e a partir de 1862, com a idade de 12 anos foi continuar seus estudos em Saint Sulpice, em Paris formando-se em letras em 1867.

Barão de Santa Neri foi o maior divulgador do Brasil Império na Europa e um intelectual católico de respeito. Sua obsessão, contudo, era a história do Brasil, em particular da Amazônia, que ele dizia que os viajantes estrangeiros e mesmo brasileiros viam de forma compartimentada. Daí que escreveu uma das mais importantes obras sobre a Amazônia que até hoje é reconhecida como trabalho pioneiro sobre o tema intitulado “O país das Amazonas”. Barão de Santa Neri também foi um grande divulgador da literatura romântica brasileira na Europa tendo publicado um ensaio critico intitulado “Um poète du XIX siècle: Gonçalves Dias”.

E é pela amizade que travei com o Barão de Santa Neri nessas tardes de calor amazônico e modorrentas vendo o espetáculo de relâmpagos nas nuvens acima do Negro que hoje a nossa nau poética visita novamente os versos do maranhense Gonçalves Dias talvez o nosso poeta mais romântico.

Portanto vou ler de Gonçalves Dias trechos que selecionei do poema indianista intitulado I-Juca-Pirama publicado em 1851. O poema está escrito em versos pentassilábicos, decassilábicos e endecassilábicos, e dividido em dez cantos. É um dos mais famosos poemas Indianistas do Romantismo Brasileiro. Considerado por muitos a obra-prima do poeta maranhense, o poema possui 484 versos vou ler o canto Primeiro de

I  Juca Pirama,

Canto  I

No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos — cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d’altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.

 

São rudes, severos, sedentos de glória,
Já prélios incitam, já cantam vitória,
Já meigos atendem à voz do cantor:
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lá voa na boca das gentes,
Condão de prodígios, de glória e terror!

As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,
As armas quebrando, lançando-as ao rio,
O incenso aspiraram dos seus maracás:
Medrosos das guerras que os fortes acendem,
Custosos tributos ignavos lá rendem,
Aos duros guerreiros sujeitos na paz.

No centro da taba se estende um terreiro,
Onde ora se aduna o concílio guerreiro
Da tribo senhora, das tribos servis:
Os velhos sentados praticam d’outrora,
E os moços inquietos, que a festa enamora,
Derramam-se em torno d’um índio infeliz.

Quem é? — ninguém sabe: seu nome é ignoto,
Sua tribo não diz: — de um povo remoto
Descende por certo — d’um povo gentil;
Assim lá na Grécia ao escravo insulano
Tornavam distinto do vil muçulmano
As linhas corretas do nobre perfil.

Por casos de guerra caiu prisioneiro
Nas mãos dos Timbiras: — no extenso terreiro
Assola-se o teto, que o teve em prisão;
Convidam-se as tribos dos seus arredores,
Cuidosos se incumbem do vaso das cores,
Dos vários aprestos da honrosa função.

Acerva-se a lenha da vasta fogueira,
Entesa-se a corda de embira ligeira,
Adorna-se a maça com penas gentis:
A custo, entre as vagas do povo da aldeia
Caminha o Timbira, que a turba rodeia,
Garboso nas plumas de vário matiz.

Entanto as mulheres com leda trigança,
Afeitas ao rito da bárbara usança,
O índio já querem cativo acabar:
A coma lhe cortam, os membros lhe tingem,
Brilhante enduápe no corpo lhe cingem,
Sombreia-lhe a fronte gentil canitar.

 

Juca Pirama

Pitagoras Bom Pastor

Pitágoras Bom Pastor de Medeiros, é formado em direito e pós graduado em jornalismo digital

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Um Comentário

  1. O Barão de Santana Néri,nunca tinha ouvido falar,Mas Juca Pirama sim,qdo a gente trabalha literatura,os poemas indigenista eram (ou são) bastante trabalhados.Embora divorciaram sim trabalhado no curso de Turismo.

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