Diário do ano da peste de 29 de setembro 2021
Texto e vídeo de Marcus Ozores
E hoje é quarta feira, dia 29 de setembro, e eu continuo aqui nas areias das praias do Rio Negro lançando minhas granadas do “Só a poesia nos Salvará” dessa festival de besteiras e fake News que se alastra em Terras de Pindorama.
E hoje confesso a vocês que não contive o riso ao ver o Hagar, o bufão, vestido de periquito e, tão fake como as estátuas que coloca na porta das suas lojas. Hagar o bufão, acabou chutando o pau da barraca e como um grande polichinelo , ele fez inveja ao nosso primeiro Imperador Pedro I que, em 1832, trajando uma elegante casaca verde e amarela e descrito pela imprensa parisiense da época como um periquito, decidiu roubar a batuta da mão do compositor e dirigente da orquestra Ghiochino Rossini, para reger uma música de sua autoria. Em tempo e para quem não sabia. Nosso primeiro imperador foi excelente músico e compositor. Longe da música o Hagar, o bufão, só entoou canto da cizânia. Estava mais para o Caius Detritrus personagem inesquecível criado por Uderzo e Goscinny na história em Hq “A Cizânia”.
Para tentar esquecer a ópera bufa, escrita, dirigida e interpretada por Hagar, o bufão, seguimos com nossa nau da língua portuguesa pelos rios da Amazônia e hoje visitamos os versos de Rogel Samuel, nascido em Manaus, 2 de janeiro de 1943. Desde 2011 Rogel Samuel é sócio-correspondente da Academia Amazonense de Letras. O primeiro poema de Rogel Samuel foi publicado em O Jornal (Manaus) em 1º de fevereiro de 1959. Seu livro mais conhecido é o romance “O amante das amazonas”, onde o romancista narra tanto acontecimentos da época do Ciclo da Borracha no Extremo Norte do Brasil, quanto fatos ocorridos no contexto da decadência daquela atividade econômico-exportadora no Amazonas (primeira metade do século XX); tanto do interior do Amazonas (Alto Juruá), quanto da cidade de Manaus.
Vou ler para vocês dois belíssimos poemas de Rogel Samuel
CASA ABANDONADA
Rogel Samuel
Por lá não há mais ninguém
nesta casa abandonada
nem os fantasmas esguios
nem as fadas enamoradas
nem mendigos nem ninguém
mesmo o tempo por lá não encosta
mesmo as recordações se desfazem
as memórias as cansadas
naves da madrugada
cinzas do que passou
solidão das marés
esquecimento e silêncio
NOITE NEGRA
Rogel Samuel
Noite negra
Noite. Noite negra, nessa montanha.
Negra noite
Unidos pelo mesmo hálito,
o mesmo manto sem estrelas.
Nesse mundo, onde estamos nós?
Nessa noite negra. Tão negra
que deixamos acesa aquela luz.
Entre nós. Nossas luzes.
Negra noite.