Diário do ano da peste de 14 de outubro 2021
Texto e Vídeo de Marcus Ozores
E hoje é quinta feira, dia 14 de outubro e continuo firme na minha República Anarquista dos Tupinambás de Barequeçaba lançando minhas granadas de irreverência do “Só a poesia nos Salvará”.
E como hoje é o 287º dia do calendário Gregoriano, esse que usamos para registrar nascimentos, mortes e datas importantes. Esse calendário foi promulgado pelo Papa Gregório XIII em 24 de Fevereiro do ano 1582 pela tal da bula Inter gravíssimas, em substituição do calendário juliano, implantado pelo imperador romano Júlio César em 46 a.C. , dois anos depois esse mesmo Júlio Cesar, como todos sabem .foi assassinado pelos seus amigos do Senado Romano que queriam seu lugar como Imperador.
Aliás, marcar o tempo é obsessão apenas dos Sapiens e que está piorando cada dia mais. Afinal, eu não, mas boa parte dos Sapiens, são escravos do tempo e vivem dizendo que está faltando tempo e que precisariam de mais horas no dia para finalizar que têm que fazer. Ainda bem que eu tenho tempo para ver o tempo passar, eu e as formigas daquelas bem piquititicas que ficam ao meu lado na cadeira ou praia vendo o tempo passar. Para aqueles que sentem falta de horas a mais nas 24 horas, meus sinceros pêsames.
E como o assunto hoje é o Tempo , vou aproveitar e ler dois poemas que tem o Tempo como tema central.
O primeiro é do músico Renato Russo nome artístico de Renato Manfredini Júnior que partiu muito jovem, aos 36 anos e nos deixou lindas letras de música gravadas pelo Legião Urbana. O segundo poeta, é o nosso mestre Gaúcho, Mario Quintana , que fez um belíssimo poema, chamado “Poema da gare de Astapovo ” , que Fala da morte de Leon Tolstoi.
Então vamos o poema Renato Russo que vou como titulo Tempo Perdido.
Tempo Perdido
Renato Russo
Todos os dias quando acordo,
Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo.
Todos os dias antes de dormir,
Lembro e esqueço como foi o dia
“Sempre em frente,
Não temos tempo a perder”.
Nosso suor sagrado
É bem mais belo que esse sangue amargo
E tão sério
E selvagem.
Veja o sol dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega é da cor dos teus
Olhos castanhos
Então me abraça forte
E diz mais uma vez
Que já estamos distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo.
Não tenho medo do escuro,
Mas deixe as luzes acesas agora,
O que foi escondido é o que se escondeu,
E o que foi prometido,
Ninguém prometeu.
Nem foi tempo perdido;
Somos tão jovens
O segundo poema que vou ler é de autoria Mário Quintana nosso mestre poeta gaúcho e o poema tem como título
POEMA DA GARE DE ASTAPOVO
Mario Quintana
O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo !
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo
Contra uma parede nua…
Sentou-se …e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Glória,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!
E então a Morte,
Ao vê-lo tão sozinho àquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali à sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A morte chegou na sua antiga locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta…)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se até não morreu feliz: ele fugiu…
Ele fugiu de casa…
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade…
Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!