mãe da Marquesa de Santos era de São Sebastião
Foi em 4 de outubro de 2015, que lancei no Facebook a minha descoberta de que Domitila de Castro, a Marquesa de Santos, o grande amor do imperador Dom Pedro I, e talvez a razão para estar ali no bairro do Ipiranga dia 7 de setembro, era uma caiçara de São Sebastião, nascida em São Paulo . Na época lendo o primeiro livro que li sobre ela, o de autoria de Paulo Setubal, “ A Marquesa de Santos”, descobri que a mãe de Domitila , a Viscondessa Escolátisca, era nascida em São Sebastião. Essa Escolástica era da família Toledo Ribas. Ela era filha de José Bonifácio Ribas, Tabelião em São Sebastião, e Ana Maria Toledo de Oliveira. A mãe de Domitila nasceu em São Sebastião em 22 de abril de 1765.
Importante marcar que essa família Toledo , – que é a do lado materno da Marquesa de Santos – foi a que deu origem à quatrocentona familia Toledo de São Paulo, na qual se inserem dentre outros, o governador de 32, Pedro de Toledo, e o ex-prefeito de São Paulo, e ex-secretário municipal de Ubatuba Wladimir de Toledo Pizza ( que foi um dos braços direitos do prefeito de Ubatuba, de 1965 a 1969, Cicillo Matarazzo). Interessante como São Sebastião deu origem a tanta gente importante na nossa história.
Filha de peixe peixinho é
Mas seria a marquesa de Santos, realmente caiçara, embora nascida na capital? Para mim, não há dúvidas. A pessoa é da mesma substância que foram seus ancestrais. Filha de caiçara é peixe e filha de peixe peixinho é, já diz o sábio e antigo ditado do povo. Para mim Filho De Caiçara é Caiçara Sempre, mesmo que nasça no Japão
Genealogia da Marquesa
No site de geanologia Geni, constam os seguintes dados sobre a mãe de Domitila:
“Escolástica Bonifácia de Toledo Ribas, Viscondessa de Castro
Data de nascimento : 22 abril 1765
Local de nascimento : São Sebastião, São Paulo, Brazil
Família imediata:
Filha de José Bonifácio Ribas e Ana Maria de Toledo e Oliveira;
Mulher de João de Castro do Canto e Melo, 1º visconde de Castro;
Mãe de João de Castro do Canto e Melo, 2º Visconde de Castro; Anna Candida de Castro do Canto e Melo; Fortunata Mello; Domitília De Castro Do Canto e Melo, 1ª marquesa de Santos; Maria Benedita de Castro Canto e Melo, baronesa de Sorocaba e 1 outro ; Irmã de Engrácia de Toledo Ribas; Maria Luiza de Toledo Ribas; Francisca de Toledo Ribas; Mariana de Toledo Ribas; Miguel Teotónio de Toledo Ribas e 2 outros…
Uma Mulher Caiçara à Frente De Seu Tempo
Domitila de Castro, nascida em 22 de dezembro de 1897, como era costume na sua época, casou sem amor, por ordem de seu pai , com o militar mineiro, chamado Felício, quando tinha apenas 15 anos. Seu marido era alcoolista e jogador de baralho inveterado e chegou a perder muito patrimônio nas mesas de jogo . Além disso, ele a agredia constantemente. Mas ao contrário das mulheres de sua época ela não se calava e nem se submetia aos desmandos do marido. João tentou matá-la , a esfaqueando nas cochas , em razão de uma disputa por herança. Depois dessa, apesar do peso do preconceito que recaía sobre uma separada,, Domitila teve coragem de se separar dele e voltar para a casa de seus pais.
O Príncipe encantado
Em agosto de 1822, conhece o então príncipe regente do Brasil, Dom Pedro, mais tarde Pedro I, e foi assediada por ele, um garoto bonito e sensual. Músico e atleta cheio de dotes, físicos e intelectuais. Engatou com ele um romance , pela qual passou à história como se fora devassa. Dom Pedro logo que a viu ficou deslumbrado pela sua beleza, aponto de chegar a subsituir um de seus escravos na liteira que a carregava. Domitila correspondeu a essa paixão . Mas que mulher, solteira, viúva ou casada, resistiria a um assédio de um príncipe desses ? Atire a primeira pedra aquela que sinceramente, depois de um exame de consciência, disser :- Eu nunca faria isso!
Importante frisar que Dom Pedro também era casado por conveniência com Dona Leopoldina e que naqueles tempos, era normal o marido casado ter uma outra. Leopoldina aliás, como a maioria das mulheres de seu tempo, aceitava o papel social que lhes cabia, ou seja reprodutora de filhos e mãe de família, sem nenhum direito sexual. A moral católica condenava até o prazer da mulher. É Leopoldina, para o bem e para o mal – e no caso presente para o mal, era ” terrivelmente ” católica. Aliás é essa moralidade que ainda prevalece em desfavor, principalmente da mulher.
Domitila poderosa
Domitila, viveu 70 anos. Sete anos , apenas, ou seja 10% de sua vida, durou esse romance com o galante imperador. Depois casou-se, no ano de 1834, com o Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, fundador da PM de São Paulo. O curioso é que o tal brigadeiro, um dos mais ricos proprietários de terra de São Paulo, antes de conhecê-la pessoalmente, nutria -lhe um ódio fidagal, que depois se transformou em amor e na mesma proporção. Ao lado do brigadeiro , Domitila teve intensa liderança na política paulista e nacional atuando ao lado de pessoas como o seu antigo desafeto, José Bonifácio de Andrade e Silva e como o Padre Feijó. Caridosa com os desvalidos, ajudou muita gente, inclusive o exército imperial, durante a Guerra do Paraguai. O próprio Dom Pedro II, reconheceu nela, as grandes qualidades que a história finalmente está a resgatar.
O papel da mulher na sociedade machista
A Marquesa de Santos morreu em 1867 . 154 anos passados de sua morte, sua imagem, para a grande maioria do povo brasileiro, continua sendo a da devassa, a mulher de comportamento sexual inadequado . Há também quem a adore como santa, e seu túmulo no cemitério da Consolação em São Paulo, costuma receber pedidos de milagres. Há mesmo quem relate milagres recebidos através de sua intercessão.
Quando publiquei a primeira vez a informação de sua origem caiçara, um dos primeiros comentários que recebi foi “dava muito “. Haja misoginia. Até hoje ainda estamos a discutir a mulher pela sua sexualidade. Dom Pedro era o “comedor” , o super homem, a Marquesa a devassa. Na verdade , Domitila foi um exemplo de mulher emancipada que rompeu com a moralidade hipócrita da época e que até hoje persiste, para viver conforme lhe ditava a consciência.
Essa questão, ainda hoje é relevante. Devemos julgar as mulheres ou mesmo a qualquer pessoa pelo seu comportamento pessoal e por suas escolhas sexuais? Mais do que nunca é hora de se debruçar sobre a fantástica história dessa caiçara, que tanto quanto política, quanto como mulher tem a ainda muito a nos ensinar. Viva São Sebastião que foi o berçário de origem dessa fantástica personagem da história do Brasil, cujo papel histórico e deturpado pelo preconceito e pela misoginia. Santa Domitíla, que sua história interceda pelas mulheres desse Brasil Machista.
Sobre esse assunto , leia a opinião da Rádio Cancioneiro Caiçara, manifestada através da nossa Mestra Proeira de conteúdo Priscila Siqueira, no link abaixo :
https://editora.cancioneirocaicara.com.br/noticias/domitila-uma-mulher/