Diário de Pindorama
Texto, vídeo e apresentação de Marcus Vinicius Ozores
Hojé é 10 de fevereiro de 2022, terceiro ano da peste. E estou aqui com “Só a poesia nos Salvará”, diretamente daqui da minha República Livre Anarquista dos Tupinambás de Barequeçaba.
Hoje pela manhã fui ao centro da cidade, isto é, sai da minha República e me dirigi a São Sebastião, distante 5 km das areias de Barê, como faço todas as quintas feiras para aula de Pilates. Após a aula vou almoçar num kilão, essa criação inigualável da criatividade brasileira e depois vou comprar pão saído do forno na minúscula padaria do Samuel, um jovem boulanger parisiense que tombou de amor por uma médica caiçara e veio fazer suas artes na sua boutique situada numa pracinha ao lado da matriz de São Sebá.
Samuca, o jovem padeiro deve ter uns 30 anos e trouxe a milenar tradição francesa e parisiense para o prazer dos são sebastianenses (nem sei se é assim mesmo o gentílico da cidade, se não for fica valendo). E como tradição das boulangeries parisienses a padaria do Samuel a ‘Bom Jour’ você entra para comprar o pão e sai, mesmo porque o espaço é minúsculo e ele só atende um cliente por vez. Não tem aquela coisas das padocas brasileiras, um misto de padaria, pizzaria, restaurante internacional, espeto corrido, costela na no fogão de chão e se bobear tem também vaquejada.
Mas voltando ao Samuel, ele trouxe para os sabores de Paris colocando na sua vitrine pães com nozes, flor de sal e alecrim, de mel e sementes de abóbora, com figos e roquefort, e baguetes com trigo integral. E ele também faz ‘sonhos’ … o doce de todas as padarias dos dois lados do Atlântico. E o melhor de tudo , é que a boulangerie do Samuel aplaca a minha saudade doída de Paris, de onde saí dia 28 de fevereiro de 2020 com destino a Sampa, pois, pandemia da covid iniciava seu avanço sobre a cidade.
E no ultimo dia 31 de janeiro deste ano, tinha novamente viagem agendada para Paris, mas a viagem foi cancelada , já que a pandemia não foi embora e enlutou o espirito de todas as cidades. Ainda bem que o Samuel tem sua bolangerie por essas terras caiçaras e não nos deixa esquecer de Paris.
E para lembrar de Paris , vou ler para vocês o poema de um brasileiro também chamado Vinicius, assim como eu, que adorava Paris mais que eu, assim como tinha um talento para escrever poesias. Esse brasileiro é Vinicius de Morais e o poema é
UMA NOITE, EM PONT MIRABEAU
Uma noite, em Pont Mirabeau
Fui me encontrar com Appolinaire
Como falamos de mulher
Como falamos de Rimbaud!
Não sei, mas alguém que me viu diz
Que eu tinha tomado muito uísque.
Sob a ponte corria o Sena
Como no poema do poeta
A água corria negra e inquieta
Como a vazar da minha pena.
Amar? Melhor morrer…
Appolinaire, pálido, concordou.
Merda! Merda! Três vezes Merda!
Vociferei para a cidade
Enquanto a réplica de pedra
Da Estátua da Liberdade
Perscrutava com um olhar frio
Paris à escuta em torno, e o rio.
– T’es dans un bien sâle état Mon pauvre vieux. –
Appolinaire Disse para me consolar
Assim com um ar de quem não quer.
– Va te efaire foutre! Tu m’emmerdes! Respondi
– e ele ficou verde.
E vomitei dentro do rio A gargalhar do caporal
Que, os punhos cerrados, partiu
Num duro passo marcial
Enquanto duas mulheres, defronte
Vinham andando pela ponte.