Diário de Pindorama
Diário de Pindorama, dia 17 de março de 2022, diretamente na capital do Amazonas em pleno inverno tropical.
Aqui no norte não existe quatro estações – aliás como também não existe mais no sudeste – mas apenas duas distintas: meses com chuva e meses sem chuva. E como hoje não choveu, gravo da varanda do meu quarto o ‘Só a poesia nos Salvará’ neste final de tarde.
E hoje, como não chovia aqui na terra das amazonas , fui caminhar pela região central de Manaus, isto é, nas imediações do Teatro de Ópera e Palácio da Justiça e apreciar a arquitetura requintada portuguesa do inicio do século XX no esplendor do dinheiro da borracha.
Os prédios que sobraram na ganância das construtoras refletem a riqueza que esse estado conheceu por três décadas.
O melhor mesmo é flanar pelo Largo São Benedito situado em frente ao imponente prédio da ópera e caminhar sem pressa passando pelo bar do Armando, um dos mais antigos recantos boêmios que sobrou da Manaus dos estudantes da UFAM e dos sambistas,
passando pelo restaurante Caxiri (um dos templos na nova culinária amazônica) e ao lado o elegante restaurante do hotel Juma Ópera e o já tradicionalíssimo ‘Tambaqui de banda’ na rua José Clemente ao lado da editora do Brasil, nome imponente mas não sei qual especialidade, pois, está sempre fechada.
Hoje trago para vocês o poeta Anibal Beça nascido em Manaus em 13 de setembro de 1946 e falecido em 2009, Beça além de poeta foi compositor e jornalista e fez parte da geração de poetas amazonenses denominada Pós-Madrugada, surgida no final da década dos anos sessenta e frequentadores do bar do Armando. Vou mostrar de Anibal Beça o poema:
(SUÍTE PARA OS HABITANTES DA NOITE) VI
EM TOM DE OLD-BLUES PARA PIANO, SAX,
CONTRABAIXO, GUITARRA E BATERIA
Quem saberia de mim
se me visse assim como estou
rendido ao aço das manhãs
pastoreando esse meu cão
por essas ruas tão tranqüilas
Que gemelar seria eu
linha paralela de vida
e tão parelha dessas ruas
fagulha dupla de mão única
bifurcada e sem retorno
nos afazeres do meu sonho
Em mim eu sou o que não fui
comigo fui o que não era:
derrotado nominado
o nominado vencedor
e resta só o testemunho
do cão que me acompanha agora
e dessas ruas que me sabem antes