A Morte de Lygia Fagundes Telles e o Ser ou estar

Diário de Pindorama,

Texto , vídeo e apresentação de Marcus Vinicius Ozores

Diário de Pindorama, domingo, dia 03 de março do ano mal encaminhado de 2022 e continuo aqui na minha caminhada diária com o “Só a poesia nos Salvará”.

Hoje o mundo literário brasileiro ficou mais triste e emudeceu com a partida da Lygia Fagundes Telles, aos 98 anos. Lygia, formada em direito pela Faculdade do Largo de São Francisco foi uma das mais importantes escritoras brasileiras, tendo colecionado inúmeros prêmios e homenagens na sua longeva vida. Lygia que entrou para a Academia Brasileira de Letras em 1985 e,  um detalhe  curioso, ela nasceu de parto natural em uma casa situada aqui pertinho do meu apê, na rua Barão de Tatui em Santa Cecilia no dia 19 de abril de 1923.

Lygia publicou seu primeiro livro, em 1939, financiado pelo seu pai, quando tinha apenas 15 anos. Esse livro intitulado ‘Porão e Sobrado’ depois foi renegado pela autora que criticava esse texto pela imaturidade da escrita.

Lygia publicou ao longo da sua vida quatro romances e mais de duas dezenas de livros de contos. Lygia foi colega e amiga de toda a vida da escritora e poeta célebre Hilda Hilst,  que faleceu há vinte anos.

Vou  ler para vocês hoje um trecho do livro ‘As Meninas’, publico em 1973 onde Lygia discute a questão do
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“SER OU ESTAR”

Ser ou estar. Não, não é ser ou não ser, essa já existe, não confundir com a minha que acabei de inventar agora. Originalíssima. Se eu sou, não estou porque para que eu seja é preciso que eu não esteja. Mas não esteja onde? Muito boa a pergunta, não esteja onde. Fora de mim, é lógico. Para que eu seja assim inteira (essencial e essência) é preciso que não esteja em outro lugar senão em mim. Não me desintegro na natureza porque ela me toma e me devolve na íntegra: não há competição, mas identificação dos elementos. Apenas isso. Na cidade me desintegro porque na cidade eu não sou, eu estou: estou competindo e como dentro das regras do jogo (milhares de regras) preciso competir bem, tenho consequentemente de estar bem para competir o melhor possível.