O causo da Proeira
Por Priscila Siqueira
Priscila Siqueira, é Mestra Proeira da Cancioneiro
Fotos: Arquivo Público da Câmara de S. Sebastião
Corriam os anos 40. A estrada que ligava São Sebastião à capital era de terra: quando chovia, lama e barro; quando o sol ardia, poeira para todo o lado…
Um dos poucos senhores da sociedade sebastianense que possuía carro, era o comerciante Valentim Alves Chagas, dono de uma importante mercearia e armazém de secos e molhados da cidade. A sua loja tinha de um tudo. Desde alimentos a material de construção.
Para fazer e encomendar suas compras em São Paulo, seu Valentim usava seu carro um Ford preto, ano 36, com os faróis para fora que era, como muitas pessoas diziam, “chic no último”… Além de ser um comerciante bem sucedido, pessoa extremamente respeitada na sua cidade, seu Valentim também foi vereador nas décadas de 40 e 50.
O motorista que dirigia seu Ford, se chamava Waldemar Ribeiro do Prado e era um grande amigo e companheiro seu. Numa dessas viagens, já voltando para casa, no alto da serra, Valentim pediu a direção a Waldemar.
” O senhor não tem carta ”, respondeu o motorista. “Mas tudo bem, pegue um pouco o carro para treinar na direção”…
Não deu outra: na primeira curva, o carro bateu de frente com outro veículo que subia a serra. Agoniado, Valentim perguntou:
“O amigo machucou alguma coisa?”
”Não, está tudo bem colega!”
“O senhor é vereador como eu?!” perguntou Valentim.
“Não, sou tão barbeiro como você”, foi a reposta.
Quem contou esse causo foi o Valentim Alves Chagas Filho, conhecido por seus amigos como Nenê. Petroleiro aposentado, escritor de um livro sobre seus anos na Petrobrás, Valentim é um excelente contador dos causos passados na sua juventude e infância, quando São Sebastião era uma cidade pacata e todo mundo conhecia todo mundo. Veja o livro do Nenê no link https://www.scortecci.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=11168&friurl=_-MEMORIAS-DE-UM-PETROLEIRO–Valentim-Alves-Chagas-Filho-_