Crônica e fotos de Cristina Prochaska
Há um semáforo entre a Avenida São Pedro e a Rua Santa Rita. No caminho para o trabalho é de lei, o danado vai fechar na minha vez de entrar à esquerda. Durante oito anos este semáforo me para por longos minutos naquele cruzamento.
Ao lado direito da São Pedro há um antigo prédio com varandas. Uma delas sempre me chama a atenção pela quantidade de vasos de plantas. Orquídeas. São dezenas de vasos de orquídeas de tudo quanto é espécie, creio. Branca, roxa, amarela, pequenas florzinhas delicadas sutis, outras maiores e exibidas em sua beleza.
Me parece que de tempos em tempos são mais vasos e perfeitamente cuidados. Aquilo me encanta. Faço questão de estar do lado certo do tal semáforo só para bisbilhotar as orquídeas do quinto andar. Oito anos disso. Quarta feira tudo pareceu diferente, faltavam alguns vasos e na sexta feira haviam menos ainda, lembro agora. De certa forma aquilo me intriga. Passo o final de semana sonhando com orquídeas, centenas de orquídeas de todas as formas e cores. Vai saber o poder que as plantas tem.
Hoje fazendo exatamente igual a como traço o caminho até meu escritório no centro, o semáforo estava estranhamente aberto para mim e não vi as orquídeas, nem o prédio e nem a varanda. Há rotinas que a gente se apega, posso garantir.
Dou a volta no quarteirão. O semáforo fecha na minha vez. Olho para o alto e só vejo uns quatro ou cinco vasos e uma placa de vende-se na varanda. Encontro uma vaga e estaciono meu carro. Toco a campainha do quinto andar. Uma voz no interfone me pergunta se eu sou a pessoa que viria ver o apartamento, disse que sim na cara dura.Entro no elevador e um aviso de missa de sétimo dia para uma tal Helena está colado com durex no espelho.
O rapaz abre a porta, eu entro e vou direto para a varanda. Pergunto sobre os vasos e as flores. O moço olha estranho para mim e diz – Eram de Dona Helena, tudo o que ela mais amava.
Conecto os pontos. Caio em pranto dolorido sem razão que justifique.
O moço me oferece um copo d’água e eu bebo. Me pergunta se quero ver o resto do apartamento, nego com a cabeça e me dirijo à porta de saída. Ele me para e pergunta se quero levar algum vaso para cuidar. Como se eu estivesse recebendo um presente que espero há oito anos, aceito com silenciosa gratidão.
Chove muito agora na missa de Dona Helena. Eu penso na igreja quase vazia qual será a outra rota que eu farei amanhã para o escritório.
Para Ana Carla Amorim , Gabriela Prochaska e River Proch Aska Marilena Cabral Margui Giesteira Machado d’Almeida
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