PROFESSOR DA FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO, TITO DEU ENTREVISTA NO PROGRAMA H.N. HORA DA NOTÍCIA
Texto de Bruno Ferrão*
Na noite de 03/11/2022, a Rádio Revista “Cancioneiro Caiçara” entrevistou , no PROGRAMA HORA DA NOTICIA, o Professor Doutor em História pela UNESP, Tito Flávio Bellini , professor adjunto da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e coordenador do Núcleo de Estudos Marx e Marxismos (NEMARX)
Na entrevista , o professor falou sobre os desafios do novo governo Lula, a sobrevivência eleitoral do bolsonarismo não apenas por meio dos candidatos de extrema-direita eleitos para o Congresso Nacional neste ano, mas também por meio dos grupos radicais espalhados pelo país cuja existência se externou nas recentes manifestações pró-golpe militar realizadas na última semana após a divulgação do resultado eleitoral presidencial.
Para o professor Tito, o esforço da esquerda em geral para um debate eleitoral qualificado e com foco nas questões do cotidiano brasileiro, tais como a inflação dos alimentos e dos combustíveis, o desemprego, a desindustrialização do Brasil dentre outros temas latentes, foi decisiva para a vitória do candidato do Partido dos Trabalhadores neste ano.
Entretanto, chamou atenção para o fato de como a direita brasileira sequestrou conceitos como família, religiosidade e símbolos nacionais para cimentar a ideia de que o que estaria em jogo seria a família nuclear, a liberdade de religião, a Pátria e a cultura tradicional face a uma iminente tomada de poder pelo comunismo de viés autoritário.
DESVIO DE FOCO LEVOU COOPTAÇÃO DO POVO PELO FASCISMO
Deixando para trás questões pungentes como a volta do Brasil para o mapa da fome, o desemprego, a desindustrialização do país, o sucateamento das políticas públicas voltadas à saúde e à educação, dentre outros, o desvio do foco no debate político-eleitoral foi o mote responsável pelo cooptação das classes sociais mais baixas em torno de um projeto político fascista, o que explicaria a adesão significativa de pessoas que outrora apoiaram e votaram pela centro-esquerda.
Como consequência disso, o professor destacou a confusão que se criou em volta de termos como “direita”, “esquerda”, “liberal”, “conservador”, “socialismo” e “comunismo”, e apontou como causa o abandono, por parte de setores da esquerda, do debate sobre luta de classes. Desse modo, porque as discussões sobre machismo, liberdade de gênero, ampliação de direitos trabalhistas, defesa dos direitos humanos etc. passaram a caracterizar exclusivamente as pautas de esquerda, criou-se a falsa impressão de que o simples fato de tratar sobre elas colocaria qualquer pessoa, independentemente de sua ideologia, à esquerda do espectro político.
LIBERAL, CONSERVADOR E “POBRE DE DIREITA”
Outrossim, a relativização da realidade, a elevação do senso-comum à categoria de ponto de vista científico e o disfarce do discurso político de direita sob a roupagem de uma suposta defesa das liberdades, terminou por amalgamar o presente ambiente distópico de contradições onde Cristo se une ao torturador, o trabalhador explorado ao seu explorador, o pobre à elite, o cidadão ao ditador, a vítima ao algoz.
Além do mais, conceitos como “pobre de direita” só se tornaram permissíveis no debate político em razão da despolitização de uma parcela considerável do povo brasileiro, levada a cabo por uma campanha prolongada de desprestígio da atividade política em decorrência dos escândalos de corrupção propalados no governo do PT. Daí a explicação para que uma parcela considerável das classes populares, conquanto desconheçam o âmago das classificações políticas, dizer-se de “direita” ou “liberal” ou, ainda “liberal-conservador”, por entender que esses grupos é que verdadeiramente defenderiam seus interesses.
Há, portanto, uma farsa política fundada na mentira que não pode se confundir com uma verdadeira politização do povo brasileiro.
Por fim, o entrevistado destacou que a vitória do ex-presidente Lula nas eleições desse ano não pode ser entendida como ponto final ao bolsonarismo, ao contrário, o fato de referida vitória ter-se dado em consequência a uma ampla coalização política e de a governabilidade do próximo presidente depender da participação de diferentes grupos políticos não necessariamente comprometidos com pautas de esquerda é suficiente para que os grupos populares se mantenham alertas para denunciar o fisiologismo e um eventual abandono da promessa de reverter a terrível situação da classe trabalhadora brasileira.
Nas palavras do professor, “não se pode capitular aos interesses da classe trabalhadora […] porque, se assim for, o governo do PT cai daqui a quatro anos […] e para alguém pior do que Bolsonaro”.
Assista à íntegra da entrevista acima que contou com a participação de Dadinho Favhini, Pitagoras Bom Pastor e Camilo Terra
*Bruno Ferrão é caipira de Guararema, professor e pós- graduando de história
“não se pode capitular aos interesses da classe trabalhadora […] porque, se assim for, o governo do PT cai daqui a quatro anos […] e para alguém pior do que Bolsonaro”