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A Consciência das Palavras em Octavio Paz

Diário de Pindorama

Texto e vídeo de Marcus Ozores

 

Diário de Pindorama, dia 4 de fevereiro de 2022, terceiro ano da peste.

Estou de volta às minhas leituras poéticas mantendo a vela içada do “Só apoesia nos Salvará”, diretamente daqui da minha República Livre Anarquista dos Tupinambás de Barequeçaba.

E hoje pela manhã me lembrei de uma frase do mexicano Octavio Paz – ganhador do Nobel de Literatura em 1990 – que me deixou pensativo todo o dia: “A primeira virtude da poesia tanto para o poeta como para o leitor é a revelação do ser. A consciência das palavras leva à consciência de si: a conhecer-se e a reconhecer-se”.

Quem sou eu para discordar de Octavio Paz esse pensador mexicano e escritor profícuo que – quando embaixador do seu país na Ìndia – escreveu o belíssimo livro intitulado ‘Dupla chama do amor’ no qual afirma que os homens só começaram a escrever versos de amor quando surgiram as cidades e as sacadas dos quartos das donzelas.

Vou ler de Octavio Paz o poema:

Octávio Paz.  Wikimedia Commons

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A CHAMA, A FALA

Num poema leio:
“conversar é divino.“
Porém, os deuses não falam:
Fazem e desfazem mundos
enquanto os homens falam.
Os deuses, sem palavras,
jogam jogos terríveis.

O espírito desce
e desata as línguas,
porém não fala palavras:
fala lume. A linguagem,
pelos deuses acesa,
é uma profecia
de chamas e uma torre
de fumo e um colapso
de sílabas queimadas:
cinza sem sentido.

A palavra do homem
é filha da morte.
Falamos porque somos
mortais: as palavras
não são signos, são anos.
Ao dizer o que dizem,
os nomes que dizemos,
dizem tempo: dizem-nos.
Somos nomes do tempo.

Mudos também os mortos
pronunciam as palavras
que nós, os vivos, dizemos.
A linguagem é a casa
de todos, a casa suspensa
no flanco do abismo.
Conversar é humano.
DOIS CORPOS

Dois corpos frente a frente
são às vezes duas ondas
e a noite um oceano

Dois corpos frente a frente
são às vezes duas pedras
e a noite um deserto

Dois corpos frente a frente
são às vezes raízes
na noite enlaçadas

Dois corpos frente a frente
são às vezes navalhas
e a noite um relâmpago

Dois corpos frente a frente
são dois astros que caem
num céu vazio

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Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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