Os Diários do Ozores

Além das Pirâmides: A Alexandria que Ninguém Te Contou

O Diário de Uma Jornada Entre Antigas Ruínas e Obras do Século XXI

Diários do Egito
29 de Maio

Alexandria: A Chegada e a Nova Realidade Egípcia

Hoje o dia todo foi gasto na viagem do hotel do Cairo para hotel em Alexandria. O carro da agencia estava agendado para sair do hotel as 12h30, mas atrasou e acabamos saindo as 14h15. A distancia entre Cairo e Alexandria é de 221 km. Levamos aproximadamente umas três horas para cumprir o percurso. A dificuldade aqui sempre é o trânsito para sair do Cairo e para entrar em Alexandria. Mas confesso que a nova estrada que liga as duas cidades deu para ficar com inveja danada. São seis pistas de cada de lado e mais quatro nas faixas marginas de cada lado, ao todo 10 faixas de cada lado. É de dar uma inveja. Não sei avaliar e não vou me meter a besta aqui escrever o que não sei. Mas, o Egito no atual momento parece que está em obras. No meio do deserto, uns 40 km depois de deixarmos o Cairo está nascendo uma nova cidade administrativa, acho que do mesmo jeito que nasceu Brasilia. Todas as cidades que passamos pelo deserto estão com obras e mais obras principalmente construção de prédios de moradia extremamente modernos. Em Alexandria a cidade está em obras e tem viadutos novos – que não constam ainda do google maps – aos montões. Praticamente você sobrevoa a cidade por cima dos charcos que antecedem a chegada da cidade de Alexandre.

O Caos Organizado de Alexandria

A chegada a Alexandria é uma balburdia total, como em todas as cidades daqui. São milhares de pequenos negócios e vendedores de tudo desde chá de menta e hibisco, de milho, sorvetes, lojas de ferramentas, de calotas, de pneus, de roupas. Um jeito todo junto e misturado e multicolorido.

O Emblema do Hotel Cecil

Mas a surpresa maior foi que ao chegar ao hotel reservado um cinco estrelas, coisa que nunca havia ficado antes na minha vida – três estrelas sempre o foi máximo que já consegui quando não 1 e 2 ou zero mesmo. O hotel, que hoje ostenta a bandeira da rede mundial da Steinberg é o prédio do emblemático Hotel Cecil inaugurado em 1929 pela família judia franco-egípcia Metzger como um hotel romântico, na praça Saad Zaghloul , onde antes ficavam as agulhas de Cleópatra , em frente à Corniche .

O escritor Somerset Maugham se hospedou aqui, assim como Winston Churchill e Al Capone. Além disso, o Serviço Secreto Britânico mantinha uma suíte para suas operações. Referências ao hotel aparecem em “Quarteto de Alexandria”, escrito por Lawrence Durrell e no romance ‘Miramar’ do prêmio Nobel de literatura egípcio Naguib Mahfuz.

Vestígios da História no Bar do Hotel

E qual não foi minha surpresa ao jantar hoje, no bar do hotel, no primeiro andar, e me deparo com várias fotos do marechal Montgomery o militar que arquitetou e coordenou a campanha do deserto derrotando o exército de tanques sob o marechal Romel, conhecido pela alcunha de ‘raposa do deserto’.

Me disse o maitre do hotel que o marechal se sentava numa mesa de canto, no fundo do bar, com seus oficiais para um bom wiskyquinho. Fiquei imaginando Montgomery sentando, na mesa do canto, – claro que fotografei – fazendo os planos para derrotar Romel.

Também imaginei que seu superior Winston Churchil fumando seu inseparável charuto aqui nesse mesmo lugar – e não é letra de Nora Ney – quando tirava férias com sua esposa.
Caminhada Pela História e Pela Baía
Como cheguei no final da tarde, antes do jantar, fiz longa caminhada à beira mar num passeio público que contorna a imensa baia e que um dia, no século IV, antes de Cristo, Alexandre, o Grande, traçou no chão, usando um bastão, a disposição das ruas da cidade que queria ver construída em sua homenagem e se tornaria na mais importante cidade comercial com dois portos e a concentração de intelectuais que vinham estudar na biblioteca de Alexandria por, pelo menos, cinco séculos.

Entardecer em Alexandria: Um Contraste Cultural

Caminhei durante mais ou menos duas horas e o dia estava com temperaturas amenas e até, diria eu, fria com média de 21 mas com muito vento vindo do mar. Aqui não tem areia à abiera como no Brasil mas apenas pedras onde alguns pescadores jogam suas linhas ao mar. Toda a mureta que separa a calçada das pedras e do mar ficam repletas de pessoas de todas as idades sentadas, conversando ou consumindo xicaras de chá, milho verde, tremoço, castanhas salgadas e muito mais. Muitas e muitas crianças. Jovens, moços e velhos no mesmo espaço, mas você não vê rostos de tensão nas pessoas e todo mundo com celular na mão.

Se fosse na rua Piauí, onde moro, na Sampa Desalmada uns três celulares tinham mudado de mão sem que o cidadão percebesse. Portanto, como aqui não é o Brasil, vamos aproveitar o prazer de andar com celular na mão sem se preocupar que possa sumir como passe de mágica. Fotografei o entardecer para captar, mesmo que muito longe, o ponto onde ficava o antigo Farol de Alexandria, uma das sete maravilhas da antiguidade.

Hoje em seu lugar está a Cidadela de Qaitbai depois que o terremoto levou o farol para o fundo da baia.

Amanhã tem mais

Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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