Os Diários do Ozores

Paris em Tempo Real

Crônicas de um Brasileiro em Paris

Bonjour à tous!

Ontem e hoje, Paris amanheceu com céu azul, sol e temperaturas de 7 °C pela manhã, com máximas de 15 °C à tarde. É a Paris que os franceses conhecem — e não a primavera canicular que enfrentamos na semana passada, com temperaturas de até 30 °C.

Nas minhas reflexões matinais, acabo de ler que o Imperador do Norte decidiu, ontem, sobretaxar em 100% os filmes estrangeiros exibidos nos EUA. O sr. Imperador declarou que esses filmes estão roubando a alma dos americanos, e que seus conterrâneos devem assistir a filmes made in Hollywood, com roteiros que valorizem o espírito americano. Talvez por isso ele tenha escolhido como seus embaixadores junto à indústria cinematográfica os atores Mel Gibson, Sylvester Stallone e Jon Voight — todos muito ligados ao cine delicadeza.

Aqui compartilho uma brevíssima reflexão com aqueles que me acompanham na leitura do meu diário. Na juventude, o sr. Donald Trump teve um mentor — que o orientou sobre todas as negociatas (assistam O Aprendiz, disponível, acho, na Netflix) — um advogado chamado Roy Cohn. Não por acaso, Roy Cohn havia sido o principal assessor do deputado Joseph McCarthy, aquele cujo nome virou neologismo quando se trata de perseguição a comunistas: macartismo.

Essa notícia me chamou a atenção por estar em Paris. Afinal, foi aqui, nesta cidade, em 1895, que o cinema nasceu — primeiro com os irmãos Lumière e, posteriormente, com o mago do cinema, aquele que inventou tudo o que até hoje vemos na tela grande: Georges Méliès. Esse gênio do cinema produziu mais de 600 pequenos filmes em seu estúdio, montado em Montreuil. Em 1902, lançou sua obra-prima — pelo menos para mim — que é Viagem à Lua. Quem quiser assistir, está disponível no YouTube. Essa película, baseada na obra de Júlio Verne, é um marco do cinema moderno, com roteiro, atores e atrizes, cortes e sequência cinematográfica.

Paris, para quem gosta de cinema, é a capital mundial. Toda semana, quando abro o aplicativo do L’Officiel des Spectacles, me deparo com 180 a 200 títulos diferentes em cartaz, em algum cinema da cidade. Em Sampa, onde moro, se houver uns 40 ou 50 títulos diferentes, é muito. Somos reféns, em Sampa, das grandes redes de distribuição e de salas de projeção.

Foi no L’Officiel des Spectacles que encontrei o programa para a tarde de ontem: um concerto de piano, só com obras de Chopin. Na capela da igreja Saint Philippe, o jovem turco Güray Basol tocou durante uma hora cravada noturnos, valsas, mazurcas, baladas e prelúdios de Chopin. Como fiquei chutando tampinhas na calçada da Champs-Élysées, lembrando de um conto clássico de João Antônio intitulado A Arte de Levantar Tampinhas, quase fiquei sem lugar para o concerto. A sala estava completamente lotada, e constatei, tristemente, que 80% do público tinha cabelos brancos — como os meus —, cor preferida da sala.

Paris e Chopin têm um caso de amor desde que o compositor chegou aqui aos 20 anos, em 1830, já como pianista consagrado na Polônia. Chopin, cujo pai era francês, nunca mais saiu de Paris e aqui morreu jovem, aos 39 anos. Sempre que vou ao cemitério Père-Lachaise, dou uma passadinha no túmulo de Chopin para render minhas homenagens e agradecer ao compositor por ter deixado o nosso mundinho mais musical.

Terminada a apresentação, voltei em direção à Champs-Élysées, local que não visitava havia vários anos. Continua a mesma, só que notei que agora, aos domingos, a avenida fecha para os carros e a larga via é tomada pela população parisiense, francesa e do mundo todo. Aliás, a Champs-Élysées ontem falava português brasileiro. Há tempos não via tantos brasileiros e brasileiras juntos, como ontem, numa viagem ao exterior. Afinal, ao longo dessa avenida estão presentes as lojas das grandes marcas de departamento, que já fotografei e sobre as quais já escrevi inúmeras vezes. Mas não se assustem: os preços aqui são sempre os mais vantajosos da cidade. Não adianta procurar melhores ofertas — não vai encontrar. Portanto, fique por essas calçadas que você fará boas compras.

Ao caminhar no meio da avenida Champs-Élysées, tendo ao fundo o Arco do Triunfo, vi um grupo de jovens todos vestidos de branco e fazendo poses estranhas, que me lembraram um filme de Woody Allen do início da sua carreira, que se chamava, na tradução para o português, Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo (Mas Tinha Medo de Perguntar). A cena a que me refiro é a dos espermatozoides prontos para sair, mas que, toda vez que pensam que vão ser jogados para a fecundação, algo os impede. Nisso, aparece um espermatozoide preto e outro branco — interpretado por Woody Allen — que pergunta ao espermatozoide preto: “O que você está fazendo aqui?”

Tolices a se pensar numa tarde de domingo daquelas em que, após um concerto brilhante, você procura caminhar sem destino, tentando não deixar fugir da cabeça os acordes que o jovem Basol impregnou com os sons do jovem Chopin. No meio da avenida, encontro outra tampinha, ensaio levantá-la para chutar, mas não é tão simples assim. Tem uma arte especial, que requer habilidade para bater a parte interna do calçado na lateral da tampinha, fazê-la subir, girar pelo ar, e aí sim você chutar. Desisti. Só mesmo João Antônio era o mestre nessa arte — ao lado de Malagueta, Perus e Bacanaço.

Eram seis da tarde e o frio aumentou bastante. Fechei o zíper do meu inseparável casaco de couro azul e procurei a boca do metrô da linha 1, que me levaria direto para a estação Porte de Vincennes, endereço próximo do apê em que estou hospedado.

Amanhã tem mais.

Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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2 Comentários

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