Fatos&fodas

Diário de Pindorama
Texto, video e apresentação: Marcus Ozores

Diário de Pindorama, 22 de fevereiro de 2022, e sempre é bom reprisar que vivemos o terceiro ano da Peste e, por isso mesmo, continuo aqui com o “Só a poesia nos Salvará” tentando afastar o baixo astral da nossa amada Belíndia, da minha República Livre Anarquista dos Tupinambás de Barequeçaba.
Hoje eu li uma noticia que comento depois que me fez me lembrar de uma velha piada de um português que havia construído um motel chiquíssimo e não havia recebido nenhum casal de fregueses. Preocupado o seo Manuel procurou ajudou com profissional de marketing. O profissional logo perguntou: “- Seo Manoel qual o nome do seu motel?” No que seo Manoel prontamente respondeu: – Nossa Senhora de Fátima. O marqueteiro respondeu prontamente: – Mude de nome e o senhor verá que o motel vai lotar. Duas semanas depois seo Manoel volta a encontrar o marqueteiro que pergunta: -E aí seo Manoel como está o negócio. Prontamente seo Manoel respondeu: – Uma maravilha, mudei o nome e agora tem fila de carros de espera. Ai o marqueteiro perguntou interessadíssimo nessa descoberta mercadológica do português: -Mas qual foi o nome que o senhor escolheu. No que seo Manoel respondeu:- Fados & Fodas.
E ai vocês me perguntarão porque raios eu cá contando piada velha. Simples: acabo de ler que o deputado Fausto Pinato, do PP paulista, mais precisamente de Fernandópolis, é o autor do texto do projeto de lei que tenta novamente legalizar o jogo no Brasil mas, desta vez contudo, com uma mudança. Ao invés das máfias chefiarem, na visão deles, os jogos de azar, esse destino manifesto estará à cargo das igrejas (evangélicas de preferência já que Pinato começou sua vida como musico da Cristã do Brasil), das Santas Casas e das entidades filantrópicas, aí nessas ultimas contidas com certeza alguns elementos de ligações escusas, é claro. O curioso nisso tudo é que quando os bingos foram fechados no Brasil , no dia 21 de fevereiro de 2004, através de decreto lei do presidente Lula, foi depois de forte pressão das igrejas evangélicas contra os jogos de azar.
Como o proponente da nova lei é evangélico, fico imaginando os nomes dos cassinos administrados pelas igrejas evangélicas: – Gênesis: o bingo mais honesto da região ; –Moisés e o Faraó; – já os cassinos administrados pelos católicos, poderiam ter nomes como: Santa Efigênia, o cassino aprovado por Malaquias –- Casino Nossa Senhora da Conceição – onde São Tomé ganhou. E outros tantos nomes…
E como o tema é a volta dos bingos e dos cassinos nas terras dos Tupiniquins me lembrei de um poema de Cecília Meireles que tem como título:
BALADA DAS DEZ BAILARINAS DO CASSINO

Dez bailarinas deslizam
por um chão de espelho.
Têm corpos egípcios com placas douradas,
pálpebras azuis e dedos vermelhos.
Levantam véus brancos, de ingênuos aromas,
e dobram amarelos joelhos.
Andam as dez bailarinas
sem voz, em redor das mesas.
Há mãos sobre facas, dentes sobre flores
e com os charutos toldam as luzes acesas.
Entre a música e a dança escorre
uma sedosa escada de vileza.
As dez bailarinas avançam
como gafanhotos perdidos.
Avançam, recuam, na sala compacta,
empurrando olhares e arranhando o ruído.
Tão nuas se sentem que já vão cobertas
de imaginários, chorosos vestidos.
A dez bailarinas escondem
nos cílios verdes as pupilas.
Em seus quadris fosforescentes,
passa uma faixa de morte tranqüila.
Como quem leva para a terra um filho morto,
levam seu próprio corpo, que baila e cintila.
Os homens gordos olham com um tédio enorme
as dez bailarinas tão frias.
Pobres serpentes sem luxúria,
que são crianças, durante o dia.
Dez anjos anêmicos, de axilas profundas,
embalsamados de melancolia.
Vão perpassando como dez múmias,
as bailarinas fatigadas.
Ramo de nardos inclinando flores
azuis, brancas, verdes, douradas.
Dez mães chorariam, se vissem
as bailarinas de mãos dadas.
