Cantinho da Priscila SiqueiraNotícias

Aposentadas de Caraguá inventam nova função para o bordado

Linhas do Mar transforma agulhas em ferramenta de luta

Quem disse que mulheres aposentadas ficam em casa vendo novelas e fazendo tricô e crochê? Pois estas aposentadas fazem bordados sim, mas eles diferem daqueles destinados a enfeitaras casas ou roupas.

Seus bordados são políticos! Estamos falando do coletivo Linhas do Mar, de Caraguatatuba. Esse coletivo reúne mulheres que se empenham na construção de uma sociedade mais justa e equânime através de seus bordados políticos entre outras iniciativas.

Dias Mulheres Virão: o lema que costura o futuro

A educadora Rose Teles, que atualmente coordena o coletivo, e a psicóloga Rose Pires, participaram da entrevista realizada na Casa Brasileira, em São Sebastião, dando testemunho de seu trabalho. Não só elas, mas várias mulheres estiveram presentes na entrevista enquanto bordavam os bótons que são a marca registrada do coletivo.

Essas entrevistas que são gravadas, fazem parte do Projeto Mulheres do Azul, baseado no livro “Mulheres, sua Vida sua Força” que lancei no ano passado. Tanto o livro como o podcast Mulheres do Azul, isto é, mulheres da praia, mulheres do mar, mulheres do litoral norte paulista — se propõe a resgatar as histórias de mulheres engajadas em fazer uma sociedade mais justa e que são esquecidas na história oficial, a história do “H” maiúsculo, escrita pelos homens.

Origem do coletivo

Tudo começou em 2020, quando quatro amigas de Caraguatatuba — Rose Teles, Carla Terra, Rose Pires e Maria do Socorro Albuquerque — acreditaram que esta forma de militância era original e poderia atingir muitas pessoas, por ser mais atrativa.

“E realmente é,”, afirma Rose Pires. “Quando vamos para a escolas trabalhar com os estudantes, todos ficam entusiasmados em bordar as mensagens, incluindo os meninos”. Mesmo quando fazem seus bordados em praça pública, discutindo o porquê da atividade, muitos homens se reúnem a elas nos bordados. Os bordados têm a função conscientizadora dos problemas que atingem a comunidade.

Atuação social

Conforme Rose Teles, o coletivo não se restringe aos bordados. Trabalha com jovens, com mulheres, com a sociedade em geral e tem uma importância enorme no trabalho social. Com sua sede na Casa da Democracia, durante a pandemia, costuraram centenas de máscaras que na ocasião eram difíceis de da população receberem. Também proveram numerosas casas com cestas básicas nas periferias da cidade.

De bótons que vão até a defesa da Palestina, mostrando que a questão de território que sua população enfrenta  é  a mesma dos caiçaras, até o “Brasil Soberano”, ou bótons referentes à defesa da mulher contra a violência doméstica ou contra a intransigência em relação ao homossexualidade ou defesa da pluralidade religiosa, essas mulheres nos mostram uma maneira inovadora de trabalhar a consciência social da população, buscando a construção de uma real Democracia.

“Dias mulheres virão”, diz o lema da Casa da Democracia e do coletivo Linhas do Mar. Sim, com certeza, com o empenho e trabalho de pessoas assim, dias mulheres e melhores virão para todos nós…

 

Priscila Siqueira

Jornalista Priscila Siqueira, Ponta Grossa (PR), 08/07/1939. Formação: Universidade do Brasil (RJ). Atuou na Folha de São Paulo, Estadão, Jornal da Tarde, Rádio Eldorado e Valeparaibano. Destacou-se por denunciar a expulsão dos caiçaras com a abertura da BR-101, tema de seu livro “Genocídio dos Caiçaras” (1984). Especializou-se em questões ambientais, cobrindo a Constituinte de 1988. Foi fundadora da SOS Mata Atlântica, do MOPRESS e presidiu a Sociedade de Defesa do Litoral Brasileiro. Participou do Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, em Estocolmo (1996), promovido pela UNICEF e pela rainha Sílvia da Suécia. Foi professora nas Escolas : Normal de São Sebastião, Universidade Salesiana, e de Pós graduação na Fundação Escola de Sociologia e Política de SP na área de Sociologia

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