Patrimônio do povo de Ubatuba Sobradão do Porto vai renascer com apoio federal
Enquanto isso em São Sebastião...

Por Priscila Dulce Dalledone Siqueira
📷 Fotos: Fundart Ubatuba
Nem todos os políticos desprezam a Cultura
Nem todos os políticos em nosso litoral desprezam a Cultura. Enquanto que, em São Sebastião, a Prefeitura Municipal aliada à Câmara dos Vereadores querem transformar a Casa da Música em restaurante, em Ubatuba a luta é pela conservação de um dos prédios históricos mais importantes de nossa região: o Sobradão do Porto.
Um patrimônio que resistiu ao descaso
Ubatuba já teve um conjunto arquitetônico colonial formidável no seu centro urbano, infelizmente destruído. Muitos dos políticos de eras passadas de nossa região achavam que preservar “essa velharia” era sinal de atraso. Quem salvou São Sebastião de ter seu centro histórico destruído foi o advogado Osmar Soalheiro, que lutou junto ao CONDEPHAAT para tombar o casario colonial.
Agora, em Ubatuba, lideranças da Cultura local, com políticos e sociedade civil, estão nos dando um exemplo de cidadania. Sim, pois preservar as testemunhas de nossa História é preservar nossa identidade nacional.
Encontro em Brasília pela restauração do Sobradão
Thaila Brito, diretora-presidente da Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba (FUNDART), esteve em Brasília na semana que passou com a ministra Margarete Menezes, discutindo a restauração do Sobradão do Porto, marco arquitetônico e cultural importantíssimo na cidade.
No encontro estavam também representantes do IPHAN, o deputado federal Nilton Tato, além de membros da sociedade civil de Ubatuba, pessoas ligadas à Cultura local e a vereadora por Caraguatatuba Cassia (PT).
A história do Sobradão do Porto
O Sobradão do Porto foi erguido em 1846 pelo armador Manoel Baltazar da Cunha Fortes, que chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808. “Baltazar”, como era conhecido, tornou-se um grande proprietário de terras e fazendeiro de café.
Até mesmo Mário de Andrade elogiou a construção, que tinha “traço e cantarias trazidas de Portugal”. No andar térreo do sobrado, funcionava um armazém onde eram vendidos produtos como café, fumo, algodão, cana-de-açúcar e aguardente.
Como era normal neste tipo de construção, os andares superiores eram reservados à moradia da família. Cogita-se mesmo, entre os historiadores, que o Sobradão do Porto tenha abrigado uma das primeiras alfândegas no Brasil.
O declínio do litoral paulista
Com a morte de Baltazar, o sobrado ficou de herança para uma de suas seis filhas: Benedita Fortes Costas.
Um fato, porém, fez com que as cidades de todo o litoral paulista caíssem em decadência econômica: a construção da estrada de ferro Santos–Jundiaí, que se ligava à outra entre Rio de Janeiro e São Paulo.
Atendendo aos interesses ingleses — construtores da estrada — o Governo decretou que toda atividade que não fosse realizada no porto de Santos seria considerada ilegal e criminosa. Assim, os portos de Angra dos Reis, Parati, Ubatuba, São Sebastião, Cananéia e Peruíbe foram desativados, trazendo um marasmo econômico à região.
As famílias de posse mudaram-se para Santos ou para o Rio de Janeiro.
De armazém a centro cultural
Esses fatos fizeram com que o Sobradão do Porto perdesse sua glória inicial. Em 1928, ele foi vendido para a Companhia Taubaté Industrial de Felix Guisard. Foi nesta época que o entorno e o próprio edifício sofreram alterações na sua estrutura.
Em 1981, o Sobradão foi desapropriado pela Prefeitura de Ubatuba e posteriormente destinado como sede da FUNDART.
Ali eram realizadas apresentações de canto e dança, exposições de arte, artesanato e fotografia, cursos abertos à comunidade e muitas outras atividades culturais. A restauração do prédio vai representar o retorno dessas ações, trazendo para o município o resgate de um símbolo amado por todos.
PAC Obras: a esperança de reconstrução
Da reunião em Brasília resultou a promessa de que a recuperação do Sobradão do Porto será incluída no PAC Obras, o Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal.
Tomara que Ubatuba consiga seu intento!