A OPINIÃO DA CANCIONEIRO CAIÇARACantinho da Priscila Siqueiramisoginia

STF diz não à Legítima Defesa da Honra nos feminicídios

Defesa da honra- que honra?!…

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  Não é o absurdo dos absurdos,  que em pleno século XXI, estejamos discutindo a validade da legítima defesa da honra, tese usada para absolver acusados de feminicídio ou agressões contra a mulher durante julgamentos em tribunais de juri?

Se tal tese fosse para discutir a legítima “defesa da honra” de mulheres traída pelos maridos, muito homem já tinha ido desta para melhor…

“Parece  estamos vivendo em tempos coloniais quando a filha ou a esposa eram consideradas bens do patriarca”

As absolvições com base na legítima defesa da honra do homem, voltaram a ser frequentes depois de 2008, quando o Congresso Nacional alterou diversos procedimentos do Tribunal do Júri. Parece até que estamos vivendo em tempos coloniais quando a filha ou a esposa eram consideradas bens do patriarca que podia matá-las caso achasse que tinham procedido de maneira a macular seu nome.

Ou então, estamos voltando aos romances de Jorge Amado, que na Bahia de Ilhéus e Itabuna- começo do século XX- “limpar a Honra” era um dever sagrado para um homem de bem. Épocas históricas em que a mulher ontologicamente era ninguém, somente propriedade de um macho, que obvio, poderia tratá-la como quisesse.

”  STF, votou contra essa tese, pois  ela ofende a dignidade humana”

Felizmente, o Supremo Tribunal Federal- STF, com  maioria absoluta votou contra essa tese, considerando que ela ofende a dignidade humana e seu uso pode anular o julgamento.

Sim amigas e amigos, a luta pela plena cidadania da mulher ainda tem muito que avançar. Mas estamos caminhando… Não acredito que minha geração conseguirá ver essa meta ser alcançada. Nem mesmo a geração de minhas filhas. Mas como disse o profeta Gonzaguinha, “ a vida devia ser bem melhor e um dia será”…

Afinal há cerca de cem e poucos anos, podia-se comprar um escravo nas esquinas do Brasil. E o que são cento e poucos anos na história da Humanidade?!…

Priscila Siqueira

Paranaense, nascida em 1939, Priscila Siqueira formou-se em jornalismo na antiga Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. Agora aposentada, trabalhou por muitos anos na Grande Imprensa nacional :Agência Folha de São Paulo, Agência Estado (jornais O Estado de S.Paulo, o extinto Jornal da Tarde e Rádio El Dourado) e no jornal Valeparaibano. Como jornalista teve a oportunidade de presenciar a expulsão dos caiçaras - o caboclo do litoral - de suas praias pela especulação imobiliária, decorrente a abertura da Rodovia BR 101, no seu trecho de Santos - Rio de Janeiro. Dessa experiência, surge seu primeiro livro “Genocídio dos Caiçaras“, em 1984. Jornalista especializada na questão ambiental, cobriu a Constituinte do Meio Ambiente de 88. Como ativista ambiental, foi uma das fundadoras da SOS Mata Atlântica, Movimento de Preservação de São Sebastião- MOPRESS e presidente da Sociedade de Defesa do Litoral Brasileiro. Em 1996, participou do Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, na cidade de Estocolmo realizado pela rainha Sílvia da Suécia e a UNICEF- Nações Unidas para a Infância. Foi professora na antiga Escola Normal de São Sebastião, além de dar aulas no Centro Universitário Salesiano de São Paulo- UNISAL, e na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo- FESPSP, em cursos de pós graduação lato sensu, sobre a Violência à Mulher, Prostituição Feminina e Tráfico de Mulheres e de Meninas.

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