História e Cultura do Litoral NorteNotícias

Uma infância de mar, amor e fartura no Porto novo de antigamente

Recordações  caiçaras

A Crônica de Hoje é de Dorcas Nascimento*

Ilustração: Arnaldo Passos

 

Foi assim…

Eu estava caminhando na praia e fiquei ali ouvindo o barulho do mar, que estava muito bravo naquele dia, naquela  tranquila praia .  As suas ondas, quando batiam na areia, rebentavam com força na  praia e as suas espumas se transformavam em rendas  bordadas com a destreza de uma mulher rendeira Fechei os meu olhos e sentei-me me numa pedra. Na minha cabeça passou um filme. Eu já não era mais a idosa que de fato sou. Ali , invés disso , estava uma menina junto com as suas primas correndo, nadando e pegando bibigão. Ríamos de tudo, e jogávamos bolinhas de areia uma na outra.

A praia era a do Romance  (situada no Porto Novo em Caraguatatuba)  na década de 50 ou 60 , suas ondas eram altas e suaves . A gente quando boiava no mar se deliciava com o vai e vem das ondas. Em seu entorno havia muitos coqueiros que davam cachos de cocos , os quais eram conhecidos popularmente pelos caiçaras como “capa- homem”.  Isso porque quando quebrados para tirar suas castanhas, esses cocos ficavam escorregadios e se da  escapassem da mão …

No retorno para nossa casa iríamos pegar os cocos caídos do cacho que estavam no chão para que a titia Didita, irmã de meu avô, fizesse uma paçoca para nós comermos com café. E à noite,  comeríamos  o bibigão que pegamos na praia com o delicioso arroz que mamãe fazia. Hum! Isso era tudo de bom!

A vida para nós as meninas caiçaras do Porto Novo,  em Caraguatatuba, naqueles tempos , não tinha nada de ruim. Tudo era uma festa. Eu amava tudo que vivia. Como os meninos, eu subia na goiabeira  e no pé de jabuticaba. Quando era tempo de jabuticaba então, eu me acabava de tanto que eu as comia. Chegava até a ficar entupida. Meu titio Ismael Iglesias era quem nos dava um óleo para expelir o caroço da danada . Laranjas , eu pegava no pé  e no nosso quintal  sempre havia muitas verduras plantadas num bela horta .  Havia, ainda,  roças de mandioca, batata doce,  pés de café, plantação de milho, de abóbora, bananeiras, etc…  . A fartura era tanta que a gente quase não precisava ir ao armazém de secos e molhados ( o mercado da época). Tínhamos muita fartura de comida do mar e da terra.

Ai , que vida boa! Hoje,  Eu Continuo assim feliz, porque tive uma infância bem cheia de cuidados , de amor e de alegria. Essas coisas fazem  da gente adultos e depois velhos felizes plenos de gratidão.

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A natação que aprendíamos no mar me salvou em 1967 – Arte ARnaldo Passos

Dorcas Nascimento

Dorcas Nascimento é caiçara de Caraguatatuba, poeta e Assistente Social

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7 Comentários

  1. Como uma infância doce deixa pingos de mel, para sempre, na Alma!!
    Parabéns, Dorcas, e muito agradecida por ter vontade de descobrir o mel que não houve.

  2. Obrigada Prof. Caleffe, o seu elogio foi um grande presente e estimulo para mim. Tenho seu ex aluno Pitágoras como meu mestre que me incentiva e me orienta nesta nova etapa da minha vida.

  3. Arnaldo Paes ficou linda a sua arte, me vi dentro dela. Obrigada meu amigo pelo carinho, retratou através da sua sensibilidade artística a minha doce e rica infância. Gratidão!

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