Hoje é aniversário da dona Ana Odila da Conceição. Ela poderia ser seguramente chamada de a mãe da música em Caraguatatuba. Casada com o Maestro José Benedito da Conceição, desde 1961, ela teve 6 filhos. Ter 6 filhos é uma tarefa hercúlea, mas ela foi além: teve 6 filhos músicos de altíssimo nível. O mais velho da família e por consequência até da idade superior , o que mais tem cabedal musical, é o Lee Conceição, que um dia foi batizado Luiz Cláudio, mas que ninguém talvez o conheça, nem ele se reconheça por esse nome. Lee toca tudo de percussão a cordas , de cordas a teclado e por ai segue. Também e multi-instrumentista é o Kiko, que toca cordas , bateria, percussão e ainda canta. Depois vem o Douglas que é cantor, toca violao mas tem preguiça de tocar e prefere sempre ser acompanhado pelos irmãos e é excelente percussionista. Depois vem o Pedro , que é professor de Português, baixista e violonista. Tem ainda o Mingo que toca percussão, já tocou flugelhorn e também canta. ANa Cristina também canta, mas não uma atividade musical intensa igual seus irmãos. A dona Ana, pra variar também canta e foi contralto do coral da Fundacc Funcação Cultural de Caraguatatuba.
Na década de 90 o Ze PP assumiu a delegacia da Ordem dos Músicos em Caraguatatuba e a casa dele virou a sede da ordem. Bons para os músicos, pois lá além do bom e longo ( mas sábio papo do Zé) , tinha sempre a mesa gentil da Dona. – Quer café? – Quer almoçar? Eu mesmo ia lá só pra comer o doce de abóbora caipira de Lorena que só ela sabe fazer.
Dona Ana e Zé Bendito da Conceição já tem mais de 50 anos de casados
Pra casar com músico tem que gostar muita de música. Mas pra casar com Zé PP tem que gostar também de músicos. Haja paciência, dona Ana. Além dos 6 filhos e aguentava os centenas de músicos de Caraguatatuba em sua casa. Sempre com um sorriso no lábio e um café na mão.
– Venha tomar um café, menino ela convida e o Zé vai levando o seu irmão de música pra cozinha sem interromper o papo.
Mas hoje eu quero aproveitar o ensejo da Dona Ana pra homenagear seu músico preferido, o Zé PP. Os dois tem 60 anos de afinação na vida incomparável. Não é um casamento é um concerto harmonioso com uma sinfonia de Mozart. Zé PP é a melodia e dona Ana HARMONIA e o ritmo. Eita casalzinho perfeito. Recentemente fez um texto falando do Zé PP, e a sua incrível capacidade musical. Vejo o sempre tocando com instrumentos de péssima qualidade e fazendo ótimos sons. Ah, mas pra quem toca em folha de figo e até lápis, um violão Tonante ou um trombone remendado é coisa de prima para se tira um som.
Em 2014 Zé e Ana fizeram 50 anos de casados
Com um trombone de lata Ze PP faz som de Prata
O Ze pp que eu conheço desde de 1981, quando ele chegou pra tocar na banda de Sao Sebastião, a cada dia me surpreende mais, principalmente pela sua excessiva musicalidade. dia desses a tarde , o Lee Conceição - seu filho mais velho - , com assessoria técnica da Dona AnaAna Odilia Conceição , sua mãe, fez uma chamada em grupo pra gente fazer umas relembranças das bandas de Caraguatatuba e Sao Sebastião, desde 1981 e por conseguinte da história do P.P. no litoral norte.
O Zé contou que em 1981, ele – que morava em Lorena SP- foi convidado pelo Borges ( funileiro e saxofonista) pra tocar na banda de Caraguatatuba, mas ele precisava arrumar um emprego na Prefeitura, porque o salário de sargento reformado do Exército nesses tempos, era baixo. Apesar dos esforços do Maestro Pedrinho, o prefeito José Bourabeby não lhe arrumou emprego na Prefeitura ( afinal, naquele tempo o Boura não gostava da banda, porque o Pedrinho era tido como bonequista – partidário do ex- prefeito de Caraguatatuba, o Boneca ) .
O Álvaro Ferraz ( na época professor de música em Sao Sebastião) , levou o Ze pp pra banda de São Sebastião e lá conseguiram pra ele um emprego de eletricista. A banda de São Sebastiao pagava meio salario mínimo por mês ( 15 dólares mais ou menos, a de Caraguatatuba, 7,5 dólares e meio). Ze pp colocou na banda seus filhos ainda crianças, também, excelentes percussionistas. Douglas Conceição , foi pro Bumbo; Lee pro prato, e Kiko pro flugelhorn . A renda da família melhorou muito.
O problema é que o Zé tinha muito conhecimento musical e talento , por isso muita gente lá ficou com inveja dele e ele teve que sair ou sairam com ele da banda. Daí que ele veio pra Banda de Caraguatatuba, onde o prefeito Jair Nunes ( um grande amigo da banda) , a pedido do Pedro, o contratou o ( e também aumentou o salário da banda pra meio salário mínimo) e também contratou seus filhos que quiseram tocar na banda, Pedrinho, Mingo e Douglas. Os mais, velhos, Kiko e Lee já estavam em outros caminhos
Na banda de Caraguatatuba, com apoio e admiração do Pedrinho, toda semana Pepê fazia arranjos novos que a turma ensaiava na sexta e já tocava no sábado, porque o Zé fazia arranjos bonitos porém simples, pra facilitar a vida dos músicos, todos autodidatas.
Na banda de Caraguatatuba ( com uma media de 13 músicos,) já havia muitos trompetistas ( Pedrinho, Gaspar e Alexandre ) e o Zé virou trombonista. O trombone que ele usa até hoje é daquele tempo. Um weril totalmente cabritado.
Perguntei pro Zé, naquele papo :
– O Ze pp, é esse trombone seu , é daqueles tempos ?
E o Ze pp :
– É sim. O problema que eu, em 1983, não tinha trombone e a banda também não. Ai o Lourival ( trompetista e maestro de São Sebastião ) tinha um trombone velho , no qual só a campana prestava. Ele me deu a campana. O Pedrinho tinha também outro trombone velho que só salvava o corpo. Eu juntei um pedaço de cada um e montei esse que eu toco até hoje..
Imaginem vocês, principalmente quem é músico: o cara monta um trombone com dois pedaços de trombone velhos de má qualidade ( os weril de antigamente eram muito ruins) e consegue tocar esse instrumento , com boa afinação e bom som, sem nunca ter estudado a técnica do trombone ( ele aprendeu sozinho) . A afinação tem que ser improvisado no bico mesmo . Ah, o nome do Zé PP é José Benedito da Conceição. Mas isso em Lorena. No litoral norte ele tem esse outro nome de que ele gosta muito.
Bom , mas, pra quem tocou folha de figo e usou até lápis pra fazer solo melódico , tocar num trombone todo gambiarrado , velho e misturado, não é muito difícil.
Sobre o desempenho musical do Ze pp, nos seus 77 anos de idade comentou o trombonista solista da Orquestra Sinfônica Brasileira e Orquestra do Teatro Municipal de São Paulo, Eduardo Machado, o Buá : ” Parabéns ao Zé PP. É Uma inspiração vê-lo tocando com essa alegria! Toquei muito arranjo dele quando era integrante da Lira Padre Anchieta!!!”
Se o Zé pp tivesse nascido no Rio de Janeiro, e não na pequena e pouco musical Lorena SP, seria certamente um outro Hermeto Paschoal.
Ze pp, toca trompete, trombone , bombardino, cavaco, percussão, violao, folha de figo, lapis, tudo por música. Compõe e faz arranjo. Na juventude , antes de ter problema de garganta , cantou também e muito bem. Fraquinho esse Ze pp, né?
Ps. O Ze Pp é músico profissional desde os 7 anos de idade e tocou em todo Vale do Paraíba e Litoral Norte.
**Detalhe: Ele só pega no trombone duas vezes por semana , em média , pra tocar e ou ensaiar na banda e ainda usa dentadura.
*** Reparem no vídeo acima o trombone do Zé : tem duas cores, uma solda gambiarrada e um arame segurando o registro de limpeza.
“De tudo ao meu amor serei atenta.”
Este deve ter sido o lema de Ana, referindo-se ao Seu Zé PP.
Muitas bênçãos de eterna HARMONIA para o casal.
Lindo! Um casal que merece todo o nosso respeito e admiração.