7 relatos que mostram a dureza de ser negro no Brasil

Ser negro no Brasil
1 “Se não me visto bem, a toda hora a policia me para” – Diz Professor Doutor negro
“Como sou muito grande e forte, se não me visto bem, a toda hora a polícia me para, pensando que sou marginal”, me diz um professor universitário negro, quando lhe perguntei porque estava sempre tão arrumado , mesmo quando trabalhávamos em comunidades periféricas de São Paulo. “ Eu, com a minha aparência, dou medo. Tem pessoas que chegam a mudar de calçada quando me veem andando tranquilamente numa rua”.
2 Na igreja me cumprimentam, na rua não falam comigo – diz dentista negra
”Na Igreja as pessoas me cumprimentavam na hora do Abraço da Paz; mas se me encontrassem na rua, fingiam não me conhecer. Algumas chegavam mesmo, a mudar de calçadas para não falar comigo”, testemunha uma dentista negra, formada na Universidade de São Paulo, moradora no litoral norte paulista.
3 ” Sofrimento da criança negra na escola”
“Ninguém tem ideia do sofrimento de uma criança negra”, afirma uma professora da Rede Municipal de Educação de São Sebastião, também ela negra. “Tenho alunos negros adolescentes pobres, desesperados quanto ao seu futuro que lhes parece sem qualquer horizonte de realização”.
4 – “Bulling” por conta de sua cor.
Outra professora, branca, de escola particular:” Mesmo que a criança seja de família com recursos, ela geralmente sofre “bulling” por conta de sua cor. O pior é que há crianças que aprendem em casa a não brincar ou nem interagir com seus colegas negros.

5- Tenho medo de sair à noite sozinha – diz moça negra
O branco quando vê uma mulher negra se sente no direito de “cantá-la” como se ela fosse uma mercadoria à venda”, me diz uma jovem negra muito bonita. “Muitas vezes, tenho medo de sair à noite sozinha, apesar de ser uma profissional economicamente independente”.
6- Negro de carro importado é suspeito
”Meu pai, mais velho e negro, tem um carro importado. Difícil o dia que não seja parado pela polícia, tendo de levantar as braços, mostrando que o carro é de sua propriedade”, desabafa uma moça negra.
7- O Policial negro de Trindade
No final da década de 70, no conflito de terra que houve na praia da Trindade em Paraty, Rio de Janeiro, um policial negro estava expulsando de sua casa uma mulher que trazia no colo uma criança febril, provavelmente com pneumonia.
Ela chorava, dizendo não ter para onde ir. Indignada, eu me virei para o policial e disse”:
– O senhor não vê que negro como é, assim que tirar a farda, até mesmo um policial seu colega, pode matá-lo pensando que o senhor é um marginal? Por que não deixa essa mulher em paz?…”
Ao que ele me respondeu :
”-Eu sei ,dona. Mas tenho um filho da idade desse menino, por quem sou responsável. O Juiz me mandou tirar todo mundo de suas casas, Se eu não cumprir as suas ordens, sou expulso da polícia. E daí, quem vai cuidar de minha família?” Esse episódio deixou claro para mim: o capitalismo usa os pobres, os marginalizados para fazer do trabalho sujo já que os poderosos não gostam de sujar suas limpas mãos brancas…
Esses são alguns dos testemunhos que colhemos ao logo dos anos, na batalha como jornalista. O Dia da Consciência Negra, que comemoramos nesse último 20 de novembro, é uma vitória obtida por esse povo, para discutir a questão da negritude na sociedade brasileira.
Miscigenação racial sim, mas feito “na marra”
Durante muitos anos o sociólogo Gilberto Freire, fez muita gente acreditar que o Brasil era um país gentil e amoroso, onde não havia preconceitos mas miscigenação racial. Miscigenação racial sim, mas feito “na marra”, com o senhor branco fazendo da negra seu motivo de prazer e de trabalho.” Sou filha da Bahia de mãe preta e pai feitor. Meu pai dormia em cama , minha mãe no virador”… já cantava Ivan Lins.

Os quatrocentos anos de escravidão negra no Brasil foram dos mais terríveis que possamos imaginar. É só ler o três volumes de ESCRAVIDÃO link, do jornalista Laurentino Gomes.
O capitalismo exige que o povo compre
E foi o sociólogo Florestan Fernandes que denunciou: No final do século XIX, não mais interessava às elites brasileiras a escravidão, já que se iniciava o processo capitalista em nossa terra. O capitalismo exige que o povo compre: e escravo não tinha dinheiro para comprar, seu trabalho era gratuito. Então, foi dada a “liberdade” aos escravos que nem uma indenização receberam por seus séculos de trabalho que construíram nosso país. Pois branco não pegava no pesado. Pelo contrário, quem foi ressarcido pelos “prejuízos” da libertação, foram os fazendeiros latifundiários
Segundo Florestan Fernandes, nem a Igreja nem o Estado, fizeram algo pela população negra que não tinha para onde ir. Daí a ocupação dos morros, dos mangues, lugares insalubres, perigosos em que grande parte da população negra e pobre do Brasil ainda mora.
”Nunca encontrei entre os presidiários um branco rico”…
Qual a consequência disso tudo?!Uma enorme e absurda injustiça social. Mais da metade de nossos prisioneiros são afrodescendentes; mais da metade das prostitutas brasileiras são afrodescendentes. Dráusio Varella, médico que trabalhou muitos anos no presídio Carandiru- agora desativado- afirma: ”Nunca encontrei entre os presidiários um branco rico”…
Na construção de um Mundo melhor, mais justo e fraterno, quanto mais se anda mais comprida a estrada se apresenta. Sim, temos muito ainda que alcançar para que todos, todas e todes em nossa terra sejam considerados de primeira classe. Mas estamos caminhando… O Dia da Consciência Negra é um exemplo. Força e Coragem, primas e primos, que um dia chegaremos lá….
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