Diário de Paris, 1 de março de 2023
Texto e fotos de Marcus Vinicius Ozores
“Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes (…)”
Trecho do poema ‘O apanhador de desperdícios’ de Manoel de Barros
Hoje acordei debaixo de um frio danado, aqui em Paris. Como não dá para passar o dia na cama, saltei de banda me sentindo um pouco como o Manezinho Pantaneiro, também conhecido como ourives de palavras, lapidador de versos e caipora que gosta de confundir os outros contando de causos desimportantes, aqueles que, na verdade, movem a razão da existência cósmica e, a nossa em particular, dos Sapiens.
Sigo à risca as anotações do mestre e as manhãs me dedico às coisas desimportantes (os filósofos chamam a isso de ócio criativo), observando longamente as pétalas das tulipas que estão num vaso, misturadas com botões de rosas para lembrar-nos da beleza que existem nas coisas e em nós.
Às vezes fico horas observando da janela da sala o ‘crocitar’ dos corvos, nos galhos das árvores, que batem no vidro da janela dançando no ritmo dos ventos invernais. Sim, isso mesmo, o canto dos corvos é conhecido como ‘crocitar’, eita palavra bonita, sô, e não pense que eu conhecia esse termo não, porque eu não sabia não, e por isso, fui procurar no Dr. Google. O mais importante mesmo é ficar observando fixamente o nada. Isso excita minha mente na busca de conhecimentos profundos e absolutamente inúteis. Por isso observo o vazio e vejo que do nada surge o tudo. Daí penso, já que estou na terra de Descartes ‘se penso logo existo’. E se penso e logo existo, não só posso filosofar, como teorizar. Os gregos achavam que no princípio era o Caos; já os romanos – que se espelhavam nos gregos – também achavam que o princípio era o Caos; para os chineses foi Hoen-Tsin, uma divindade que representa o Caos primordial donde surgiu o Céu e a Terra; os hindus ,que acreditam que cada ser humano pode ter até 70 mil vidas (quero me matricular nessa seita), no principio foi ‘Brahma’, criador do universo (não vão confundir com Brahma a cerveja da Ambev do trio Maracutaia); para os índios brasileiros foi ‘Tupã’. Bem cada povo tem seu mito fundador para dar sentido ao nada.
Agora vejam uma coisa. Os físicos – já faz quase um século – criaram a teoria do Big Bang que, dentre as muitas informações, se refere à ideia de que o universo estava originalmente muito quente e denso em algum tempo finito no passado. Daí ‘plof’ e ninguém sabe bem como, essa massa do nada explodiu e o universo se fez. Se não bastasse o fato de o universo surgir do nada . ele faz aniversário e, segundo os físicos, nosso universo já está bem velhinho com 13,5 bilhões de anos. Preciso da ajuda do meu amigo Julio Hadler, que trabalhou com o Cesar Lattes, venha me salvar de tanta confusão.
Começo a pesquisar daqui, dali e mais um pouquinho – nesse dia frio parisiense – e venho a descobrir que o criador da teoria do Big Bang foi o físico belga George Lemaître, professor junto à Universidade de Leuven. Lemaître designou o inicio do universo a partir da teoria proposta por Einstein da ‘hipótese do átomo primordial’. Vai tudo muito, vai tudo muito mal e descubro que o tal físico George Lemaître era padre de formação e carteirinha. Daí, como Descartes nos ensinou que se penso, logo existo, pergunto a vocês meus amigos e amigas virtuais: qual a diferença entre o Big Bang e o principio do Caos? Ou então como está em João:1:1 “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. Pelo menos João está literariamente bem mais bonito literariamente que o ‘átomo primordial’.
Vejam vocês o que acontece quando o dia está frio e me deu aquela preguiça macunainamente doentia de não ter vontade de sair do apê, nem para comprar pão. Como escrever é vício, taí uma folha do Diário escrita numa tarde de ócio absoluto.
Amanhã vou cedo buscar minha sobrinha Victoria que chega com uma amiga do Brasil para passar duas semanas aqui conosco. Amanhã tem mais.
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