Clique aqui abaixo e ouça o texto
Portas fechadas
Portas fechadas : assim é que estavam os acessos ao prédio da Prefeitura Municipal de São Sebastião, quando o Comitê da União dos Atingidos foi se encontrar com o prefeito Filipe Augusto. Isso na tarde de 19 de abril, quando se comemora do Dia dos Povos Indígenas. A Nação Guarani do Aldeamento do Rio Silveiras também foi muito atingido pelas águas desse rio.
Já há duas semanas esse Comitê já havia pedido uma audiência como chefe do executivo sebastianense para discutirem as medidas a serem tomadas para minorar o sofrimento das pessoas moradoras em São Sebastião que foram atingidas pelos desmoronamentos ocorridos nos feriados do carnaval passado. Na ocasião morreram 64 pessoas, sendo 17 delas crianças.
“Faz dois meses que essa tragédia aconteceu e nada foi feito”
Para esses moradores, já faz dois meses que essa tragédia aconteceu e nada foi feito para evitar que novos deslizamentos de terra aconteçam, já que as chuvas na região têm sido intensas. Também, o tempo das pessoas que estão abrigadas em pousadas está para terminar e elas não têm ideia para onde irem, já que suas casas foram destruídas pelos deslizamentos ou pela ação da prefeitura.
A União dos Atingidos é composto por vários integrantes moradores das praias atingidas como Boiçucanga, Barra do Sahy e Juqueí, além de representantes do Morro do Itatinga, no bairro do Topo, onde o desmoronamento de terra atingiu várias residências.
Outras entidades também fazem parte da União dos Atingidos como o Coletivo Caiçara presente nessa luta desde seu começo, a União das Favelas de São José dos Campos e o Instituto Polis.
Pedido de audiência é “ato terrorista e subversivo ?”.
Os manifestantes se reuniram desde às dez horas da manhã em frente ao prédio da Prefeitura de São Sebastião, local onde havia numerosos policiais. Segundo seus participantes, o prefeito Felipe Augusto considerou a manifestação e o pedido de audiência um “ato terrorista e subversivo”.
“Terrorista e subversivo um ato como esse que estamos fazendo?!”, perguntou um dos manifestantes em seu discurso.
“Terrorismo e subversão, é o que o prefeito fez, fechando as portas da Prefeitura para não nos receber. A maioria das pessoas que aqui estão é composta por mulheres, muitas com seus filhos no colo. Seus maridos ficaram em suas praias porque tinham de trabalhar , pois muitos trabalham como caseiros e nós estamos num final de semana de feriadão, quando os turistas vêm para o litoral !”
O prefeito Felipe Augusto estava com o Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas inaugurando as “Casas de Passagens”, localizadas no bairro do Topo. Essas casas de 14 metros quadrados destinadas às famílias de até quatro pessoas, são compostas de uma sala e um banheiro. Aí seriam alocados os moradores que agora estão vivendo em pousadas ou hotéis. Por sinal, a União dos Atingidos solicitou a Felipe Augusto que salde a dívida que a Prefeitura tem com esses estabelecimentos.
A União dos Desabrigados reivindica uma maior transparência na aplicação dos milhões de reais arrecadados com a tragédia não só pela Prefeitura como, por exemplo, pela Escola Verde de Barra do Sahy.
“Nós precisamos acompanhar as decisões do Governo Estadual e da Prefeitura porque são as nossas vidas que estão em jogo,” defendem os participantes do ato onde não compareceu nenhum representante da Câmara Municipal.
Desabrigados da Vila do Sahy protestam em São Sebastião Foto Coletivo Caiçara de S. Sebastião
Entre outras reivindicações da União dos Atingidos estão a melhoria das salas de aulas para as crianças da costa sul, que apresentam um número de alunos muito maior do que podem comportar. Querem também atendimento de saúde e psiquiátrico principalmente para aquelas pessoas que presenciaram a morte de seus amigos e familiares. “Ver uma criança sem sua cabeça, enterrada na lama, é uma cena que não sai de nossas cabeças e nem das nossas vidas!” Esse foi o testemunho de um rapaz que ajudou a salvar pessoas na enxurrada.
A União dos Atingidos é também contrária à mudança da Lei do Uso do Solo do Município que não permite a verticalização em São Sebastião. Há um diagnóstico feito em São Sebastião, mostrando haver terrenos que podem ser usados para construção de casas populares nas praias de Boiçucanga, Barra do Sahy e Maresias. A construção de moradias populares nesses locais, só depende da vontade política do prefeito.
“O que não dá”, afirma um dos representantes da União dos Atingidos, “ É a prefeitura continuar a dar preferência a construção de segundas residências para turistas que passam aqui alguns meses do ano. O Prefeito esquece que quem vota em São Sebastião, somos nós”.
O Rapper Brenalta discursa durante o protesto
A autora: Priscila Dulce Daledone de Siqueira, 83 anos, é jornalista e escritora, autora de 4 livros. Pioneira no jornalismo ambiental e de direitos humanos, atou em grandes jornais do Brasil com destaque para os jornais, Estadão e Jornal da Tarde. Atualmente é mestre proeira e colunista da Cancioneiro Caiçara.
Nota da Redação: Uma cidade bilionária com uma administração ineficiente. São Sebastião é uma das cidades mais ricas do Brasil. Seu orçamento é de 1 bilhão e 400 milhões de Reais, para uma população de 91 mil habitantes e uma área de 404 km2. O mesmo orçamento de Macapá, por exemplo que tem área de 5 mil e 522 km quadrados e 522 mil habitantes. Enquanto Macapá funciona relativamente bem , São Sebastião tem uma administração cheia de falhas. Em janeiro de 2019 a EDP cortou a energia de 3 prédios da Prefeitura por falta de pagamento das contas de 2018, no valor total de R$ 5.918.085,34.
Leia mais de Priscila Siqueira
O que aprendi do amor com as guaranis de S. Sebastião
O dia que o morto falou ( por Priscila Siqueira)