Texto e Fotos de Marcus Ozores
Domingo, dia no nosso senhor Jesus Cristinho 23 de julho, do ano santo de 2023, passeio pelas ruas desertas do centro de São Luís , berço de tantos poetas e escritores que escreveram sobre sua cidade, o seu país, o Maranhão. Por isso, fui buscar nos versos de Ferreira Gullar, filho dessa terra, um trecho do ‘Poema Sujo’ com o qual abro o diário de hoje. Gullar escreveu ‘Poema Sujo’ em 75, quando residia em Buenos Aires, na companhia de dezenas de brasileiros e brasileiras que se encontravam refugiados, pois, foram expulsos do Brasil pelos coturnos do militares que durante 21 anos destruíram a alegria dos jovens da minha geração.
Poema Sujo
Autor: Ferreira Gula
Sobre os jardins da cidade
urino pus. Me extravio
na Rua da Estrela, escorrego
no Beco do Precipício.
Me lavo no Ribeirão.
Mijo na Fonte do Bispo.
Na Rua do Sol me cego,
na rua da Paz me revolto
na Rua do Comércio me nego
mas na das Hortas floresço;
na dos Prazeres soluço
na da Palma me conheço
na do Alecrim me perfumo
na da Saúde adoeço
na do Desterro me encontro
na da Alegria me perco
na Rua do Carmo berro
na Rua Direita erro
e na da Aurora adormeço”
Escolhi o poema de Gullar, pois, foi escrito por um homem que amava a sua cidade pátria, sua cidade mãe, sua cidade de formação. E confesso que caminhando pelas ruas desertas do centro antigo me senti um pouco Gullar na medida que meus olhos viam também beleza na arquitetura urbana de uma cidade que foi uma das mais ricas do país nos séculos XVIII e XIX e, ao mesmo tempo, tanta decadência deixando o tempo e o abandono sepultar de vez não só os prédios, mas as histórias das vidas dos que viveram, amaram, choraram, casaram, tiveram filhos, netos, bisnetos dentro de cada um desses casarões que hoje se encontram fechados com grades e cadeados deixados sozinhos sem cerimônia de adeus, apenas a solidão do tempo.
Nesse momento em que escrevo sobre São Luís vem à mente a letra da musica ‘Sampa’ de Caetano Veloso, lançada no final de ano de 1978, na TV Bandeirantes, que diz assim:
“É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas”
São Luís tem muito mais que casarões antigos
E São Luís tem muito mais que casarões antigos para se ver numa manhã de domingo. Tem ‘reggae’ de montão na feirinha dos domingos que ocupa toda a praça João Francisco Lisboa e se espalha pelas ruas do entorno até a praça da catedral metropolitana Nossa Senhora da Vitória. Não sei se vocês sabem, mas Maranhão é a capital brasileira do ‘reggae’ e é comum você topar com gente com cabelo afro trançado e imensos à la Bob Marley, a grande referência dos amantes do gênero. As bandas também abrem espaço para o sul maravilha com as musicas de Cazuza que faz a praça toda dançar e cantar com o ‘crooner’ da banda colocada num palco elevado. Nenhuma discussão, nenhuma briga nadica de nada.
Música ao vivo em todos os lugares
Acho que o nosso senhor Jesus Cristinho escutou as minhas preces. Fiz um pedido acendendo sete velas para que esses dias de passeio pelo Maranhã meus ouvidos sensíveis fossem poupados do estilo sertabrega dos paulistas, goianos, mato-grossenses. Acrescidos a isso sertanejo universitário, sertanejo secundarista, sertanejo ginasiano, sertanejo primários e sertanejo pré-escola. E me poupem, pelamordedeus da voz de Marilia Mendoça que depois que morreu – num triste acidente de avião – as rádios, tv, mídias não param de me enviar alguma música cantada pela moça. ‘Mutatis mutantis’ seria como se quando fossemos jovens nos anos 60, fossemos obrigado a ouvir sem parar o ‘Ebrio’ de Vicente Celestinho, ou como ficou conhecido mais popularmente como ‘Churrasquinho de mãe’. Ufa… ainda bem que no Maranhão tem música ao vivo em todos os lugares e em quase todas as barracas de praia mas sem o sertão dos paulistas que também inundou as praias de lá. Obrigado meu Jesuscristinho.
Depois de rodar pela feira a parada obrigatória para o almoço no restaurante mais famoso, localizado no coração do centro histórico da capital. O Cafofinho da Tia Dica link, localizado na travessa Marcelino de Almeida, num desses casarões históricos e bem preservado. Se vierem por aqui esse restaurante é parada obrigatória assim como o restaurante do Senac ali pertinho, na rua Nazaré, e localizado num casarão histórico. O restaurante do Senac é bom para nós, paulistas, habituados a salada, frutas, azeite de oliva etc. É um restaurante internacional, mas que todo dia tem um prato regional no cardápio. O melhor, é self service.
O nome de São Luis foi para homenagear o rei Luis IX
Bem, o final da tarde de hoje foi no café do Forte Santo Antônio da Barra cuja construção remonta ao século XVII e sua construção é atribuída aos franceses que foram os fundadores de São Luis. Sim, para quem não sabe São Luis foi construída pelo francês Daniel de La Touche, conhecido como Senhor de La Ravardière, acompanhado de cerca de 500 homens vindos das cidades francesas de Cancale, Granville e Saint-Malo que chegou à região em 1612 para fundar a França Equinocial e realizar o sonho francês de se instalar na região dos trópicos. O nome de São Luis foi para homenagear o rei Luis IX que foi rei da França no século XIII e foi canonizado 27 anos após deixar esse mundo para melhor.
No forte Santo Antonio tem um café maravilhoso e linda vista do pôr do sol da cidade. Voce pode se fartar com pratos regionais e um belíssimo suco verde vendo sua majestade o sol se por em uma paleta de cores que vou deixar as fotos que fiz falarem em lugar da minha escrita.
Amanhã tem mais.
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