Atenas continua irada e nos despertou hoje,22 de janeiro de 2023, com 7º graus positivo, muito vento o que faz a sensação térmica cair para quase a zero grau. Um frio cortante, daqueles que requer uso de ceroulas e camisetas térmicas para aguentar o vento frio. O problema são os terminais, as mãos e o rosto expostos. As mãos, pago o preço porque detesto usar luvas, já o rosto é impossível não sentir o vento frio. Para um velho caminhante o frio é um detalhe que não inibe a caminhada.
E hoje decidi comprar ticket de ônibus daqueles seigthseeing que fazem tour pelo casco histórico e também pelo litoral ateniense, o que irei fazer amanhã. Depois de percorrer o casco histórico urbano, desci no ponto localizado em frente ao Arco de Adriano, imperador romano durante 21 anos que ficou conhecido como o imperador viajante que detestava ficar em Roma. Foi ele quem construiu na Inglaterra o muro que leva seu nome Adriano, pouco acima de Londres, na tentativa de impedir a invasão dos bárbaros, também reconstruiu o Panteão, em Roma (que serviu de modelo para Brunelesqui construir a cúpula da catedral de Florença) e, aqui em Atenas, Adriano incorporou o espirito de Teseu.
“Esta é Atenas antiga, cidade de Teseu”
Tanto que no Arco que mandou construir em seu nome na frente, voltada para o Parthenon, no alto da montanha, se lê: “Esta é Atenas antiga, cidade de Teseu” e do outro lado se lê: “Essa é a cidade de Adriano, não de Teseu”. Afinal, foi sob seu governo que foi concluída a construção do templo dedicado a Zeus, iniciado 650 anos antes no século VI a.C.
Confesso que nunca havia visto colunas tão altas em minha vida. A dimensão que os gregos quiseram dar à construção desse templo foi para mostrar a diferença entre o sagrado e o profano e, por isso, a escala na dimensão da altura entre os deuses e homens é tão grande. A figura humana é um pequeno ponto, se colocado ao lado da colunata. Hoje restam hoje dúzia e meia dessas colunas gigantes, se tanto. O resto da colunata deve ter sido demolido e usado como material de construção para as igrejas cristãs, a partir do século VI da era comum.
Os imperadores em geral e os romanos em particular tinham vaidade acima da média dos mortais e, por isso, mesmo inaugurou o templo dedicado a Zeus que seguiu as dimensões da estátua original construída por Fidias, para a inauguração do Parthenon, 650 anos antes, e que fazia parte, à época, como uma das 7 maravilhas do mundo antigo citada pelo poeta Antipada de Sidon. Ao caminhar pela ruinas do templo e das termas que Adriano mandou construir – e que esteve em funcionamento até o ano 700, da nossa era – me lembrei do livro da belga Margarite Yourcenar intitulado “Memórias de Adriano”a autobiografia que o imperador jamais escreveu e obra que consumiu mais de vinte anos da escritora entre início das pesquisas e publicação do livro.
Aliás, esse livro é a principal obra da escritora que foi eleita para cadeira na Academia Francesa de Letras. Esse foi o livro de cabeceira da minha juventude e, talvez por isso, já tenha visitado um grande número das obras que esse imperador construiu e reconstruiu, ao longo dos seus 21 anos no governo, como imperador.
Um detalhe importante nessa parada foi encontrar o busto de Melina Mercouri atriz ateniense e ativista política contra a ditadura militar na Grécia. Quem não se lembra do filme “Nunca aos domingos” com o qual ela ganhou o prêmio de melhor atriz no festival de Cannes?
E que não se lembra de Melina como membra do congresso helênico, após a queda da ditadura militar aqui?
E quem não se lembra da grande e maravilhosa Melina como ministra da cultura da Grécia durante 8 anos seguidos? E lutadora incansável contra os britânicos para que devolvessem as esculturas roubadas do Parthenon? Melina fez parte da vida da minha geração que podia e tinha o direito de sonhar pela liberdade e de um mundo de paz, algo cada vez mais distante.
Bem, com o frio imenso não deu coragem de sair andando pelas ruas e o jeito foi pegar o busão e voltar em direção ao centro da cidade e nomeei a rua Athina onde está localizado o mercadão a minha rua central. Na parte externa do mercado você encontra as bancas que comercializam ervas, castanhas, frutas secas etc.
Internamente está localizado o mercado de peixes com ofertas de camarões, lulas, mexilhões e pescados a preços que, se convertidos em reais são, mais baratos aqui, do que em Baraqueçaba. Podem fazer a conta. Pescados frescos e maravilhosos afinal, os gregos, são conhecidos como o povo do mar.
Como já passava das 13h30 e o estômago dando sinal que ele faz parte do seu corpo e precisa trabalhar, o jeito foi procurar um restaurante. Claro que a opção foi escolher um restaurante dentro do prédio do mercado. Escolha certa. O restaurante que está lá, desde o final do século XIX, oferecia hoje mais de cinco tipos de sopas que a maioria dos clientes estavam comendo. A maior saída, é claro era sopa de peixe.
Mas a opção para almoço que fizemos foi salada grega, carneiro ensopado com batatas, legumes cozidos e homms. Óbvio que tudo acompanhado com vinho branco da casa. Conta para três pessoas: 33 euros. Chora Domenico, duvido que coma tão barato assim na terra de Nicolau Maquiavel.
Findo almoço um café para esquentar numa cafeteria em frente a Universidade de Atenas,uma das mais antigas universidades modernas criada em 1837, pelo rei Oto I, um alemão que assumiu o trono da Grécia, aos 17 anos, num malabarismo político das potências europeias para tutelar o país onde a democracia foi inventada e havia sido esquecida há mais de dois mil e quatrocentos anos.
Como o vento parou caminhei mais 3 km até chegar ao hotel, debaixo de muito frio. Hoje não se sai mais. Ainda bem que ao lado do hotel tem uma padaria maravilhosa, igual às nossas, das Terras de Pindorama, com balcão de doces, sanduiches e refeições. Preços semelhantes aos nossos daí.
Amanhã tem mais.
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