Neste 21/01/2023, a querida deusa Atenas decidiu fazer as pazes com os comedores de pão e nos presenteou com um dia de céu azul, sem nuvens e um Sol magnifico. Temperatura pela manhã 5 graus, mas quando o vento cessa, a vida volta ao seu leito normal.
Hoje, último dia para uso do bilhete do busão turístico, saí as 9h30 quando inicia a viagem que sai de um ponto ao lado do hotel. Daí direto para Acrópole onde mais turistas entraram e partimos em direção às praias de Atenas. Foi a primeira vez que meu olhar pode admirar o azul profundo do Egeu, esse mar tão cantado pelos versos de Homero que parecia que eu já tinha intimidade com ele.
Afinal foi nas suas águas que Ulisses navegou, durante mais de 10 anos, para reencontrar Penélope, desde que havia liderado a vitória dos gregos contra Troia, escondendo-se com os demais soldados na barriga de um cavalo de pau.
A distância da Acrópole até a praia de Astir, a última do circuito, perfaz um distância aproximada de uns 20 km, por baixo. Se você vier por aqui não se esqueça de sentar do lado direito do ônibus para ter vista exclusiva das praias.
Nesse percurso de uma hora e meia mais ou menos , pude observar que aquela tal de capitalismo selvagem anda à solta por aqui como nas nossas praias brasileiras e na minha praia em São Sebastião. A orla está sendo privatizada para os ricos europeus passarem suas férias de verão. Nessa curta viagem você pode observar dezenas de guindastes em vários canteiros de obras defronte para o mar.
Vi uma placa onde é anunciada a construção de uma torre tão ridícula como as torres gêmeas construídas em Florianópolis. Fico imaginando como Poseidondeve estar triste pelo fato de os homens não terem mais medo dele. Nessa orla estão as casas dos ricos e, como sempre acontece, a maioria está fechada nessa época do ano.
Acho que aqui vai ficar parecido com Maresias, onde os milionários construíram suas mansões defronte para o mar e a turba, da classe média, está apinhada nas centenas de condomínios, do outro lado da pista, e só encontra algumas vielas para poder entrar no mar, a cada km.
Após circundar as praias desci na estação Glyfada,que leva o nome da praia preferida dos moradores da cidade.
Logo ao descer você encontra, a sua frente, um restaurante café à beira mar onde logo me sentei para tomar um expresso, com o Egeu aos meus pés. Deixei meus pensamentos singrarem as águas, desse um azul profundo, imaginando porque Egeu, o rei de Atenas, cometeu suicídio quando viu que o barco que trazia Teseu, seu filho, de volta de Creta – onde havia sido enviado por ele para salvar os 14 jovens virgens atenienses da morte certa pelo Minotauro– expunha uma bandeira negra, sinal que Teseu não havia cumprido sua missão.
Às vezes, me pego pensando, solitariamente, sobre os tabus que nos contam desde pequenos sobre mitologias e religiões. Nunca acreditei em nenhum deles, mas gosto das historinhas. Afinal, todos se misturam como num drinque de bar e depois ninguém mais sabe o que tem dentro.
Após essas profundas reflexões inúteis sai do café e fui caminhando até a catedral de Constantino e Helena, situada do outro lado da pista, em Glyfada. A catedral é uma construção de estilo bizantino, mas recente, datada 1938. Seu interior é finamente decorado em ouro e prata e pinturas no estilo de Bizâncio.
Em Sampa, o mosteiro de São Bento, que é mais antigo que essa catedral aqui, tem sua decoração nesse mesmo estilo.
Importante destacar que essa catedral pertence a igreja católica ortodoxa grega, totalmente independente de Roma e da igreja ortodoxa russa. Notei uma diferença entre as outras igrejas católicas ortodoxas que conheci na Turquia. O piso dessa catedral é forrado com tapetes finamente decorados e não com mármore ou pedra, comum das igrejas católicas e ortodoxas. O piso com tapetes é típico das mesquitas. Deduzi, num relance que deve existir um parentesco distante entre os católicos ortodoxos daqui e seus ‘hermanitos’ de Istambul. Afinal a Grécia fez parte do Império Turco Otomano durante vários séculos.
Já eram quase 17h00 quando o ônibus estacionou no terminal central, defronte a Acrópole. E Zeus nos presenteou com uma Lua cheia dessas que alumiam o quintal quando a gente, em dia de frio, toma quentão com milho cozido e pamonha.
Meu dia começou e terminou na Acrópole e essas imagens estão fixadas no meu cérebro para o resto dos meus dias. Amanhã tem mais.