Texto e Fotos de Marcus Ozores
Nesse 28 de janeiro de 2024, os deuses acordaram de mau humor e a primeira parte da manhã choveu, saiu Sol, voltou a chover, voltou a fazer Sol, voltou chuva, voltou Sol e assim foi a manhã aqui em Atenas. Nada que pudesse impedir de sair do hotel para uma visita ao Museu de Arte Bizantina e Cristã, situado próximo da praça Sintagma, sede do Parlamento helênico, desde 1934.
Aconselho a visita a esse museu que está instalado no antigo palácio da Duquesa de Plasencia, que morreu na primeira metade, do século XIX, sem deixar herdeiros. O museu foi criado, em 1884, pela Companhia de Arqueologia Cristã como um museu dedicado exclusivamente à arte paleocristã dedicado a cultural material dos primeiros séculos do cristianismo e abrigando imensa coleção de arte iconográfica bizantina.
Logo ao entrar no museu fui surpreendido pela imagem, em mármore branco, de uma criança com um carneirinho no pescoço e a frisa de uma sepultura infantil, datada do século II, tendo a figura de Cristo no centro da frisa, rodeado pelas crianças. Curioso observar, nessas duas peças, esculpidas em mármore branco, como o cristianismo, enquanto religião, foi incorporando inicialmente elementos das culturas grega e romana na estruturação dos seus cultos.
A criança com carneirinho no pescoço se transformou na figura de São João Batista, o primo de Jesus, que o batizou, segundo a bíblia. E o mais curioso foi a frisa da sepultura de uma criança onde, a figura de Jesus, que ocupa o espaço central, não é tratado aqui como religioso, mas sim como filosofo.
Aliás, como nasci ateu, e depois de muito viajar, e visitar centenas de museus e de ver a arte ocidental produzida em nome do cristianismo sempre me pergunto a quem esses artistas estão retratando na verdade? A qual Cristo são direcionadas toda essa iconoclastia? Quando era pequenininho e era obrigado ir à igreja assistir a escola dominical ouvia aquelas histórias de Jesus. A que mais gostosa era a historinha que Jesus entrou no templo e encontrou aquele bando de sem vergonhas vendendo quinquilharias, pegou o chicote e meteu no lombo da tigrada.
Eu achava que Jesus era uma espécie de hippie, que usava chinelões de couro (sola de pneu de caminhão não tinha naquele tempo), vestia uma bata legal e entrava loucão no templo – que ele dizia que era a casa do seu pai, não dele, e botava ordem na bagunça geral. Embora nunca acreditasse que Jesus fosse de outro mundo eu gostava dessa história porque mostrava, para mim criança, que Jesus não era só o bonzinho que só apanhava, mas, que em alguns momentos, se enfezava, como qualquer um de nós, quando os fariseus denegriam o nome do ‘paim’ dele e saia pro pau.
Essa exposição do cristianismo primitivo mostra a transformação dos princípios de uma vida ética em religião e vai destruindo lentamente a beleza. Toda a estatuária clássica, produzida pelos gregos e romanos, vai desparecendo e a curvas dos corpos humanos vão ficando quadradões e acabaram as estátuas de homens e mulheres peladões, mostrando a beleza dos corpos nus acentuando pelos músculos do corpo e tão admirados, aqui nessa cidade da deusa Athena.
A perspectiva desaparece e os quadros religiosos vão ficando chapados e a imagem de Jesus e do monte de santos que vão surgindo, vão aumentando de tamanho e as figuras dos homens e mulheres vão encolhendo, ficando cada vez mais pequenininhos, quase desaparecendo dos quadros.
As pinturas das festas de Baco cheias de alegria, risos, muito vinho e teatro vão sendo paulatinamente substituídas por uma eterna choradeira e o culto da morte. Afinal, com a institucionalização da religião cristã, pelo Estado romano, ocorrido em 380 d.C, a única alternativa para o homem se libertar mesmo, era morrendo.
Nesse momento, as iconografias passam a retratar a vida nas tumbas de mármore – que devem pesar mais de uma tonelada – rodeado de frisas com carpideiras cercadas de anjinhos chorando pelo morto.
Esse hábito de sepultar em urnas de mármore era típico das culturas grega e romana. Porém, nas urnas gregas e romanas os motivos de adornamento das urnas são momentos da vida do falecido. Nas urnas cristãs quase sempre motivos são tristes, parece música de dupla sertaneja goiana. E, no Brasil atual, ainda temos que tolerar como expoentes do cristianismo resultado capitalista, o trio de picaretas formado por Edir Macedo, Silas Malafaia e Waldemiro Santiago.
O espaço externo do museu é espaçoso com imenso jardim para caminhar e fica a dois passos do museu nacional de Arqueologia e do museu da Guerra que não irei visitar.
Voltei a pé para o hotel, pois, caiu uma chuvinha mansa enquanto tomava café mas, antes parei, na praça Santigma onde está localizado o Parlamento e tem uma curioso troca de guarda que chama atenção dos turistas, assim como a troca da guarda em Buckingham. Aqui são dois soldadinhos vestido com um tipo de sainha e um puf preto na ponta do sapato que fazem uns passos de ganso engraçados, de hora em hora. Não esperei a demonstração, pois, um vento frio começou a bater e tinha ainda 2,5 km até o hotel.
Amanhã tem mais.