Cantinho da Priscila Siqueira

O Meio Ambiente que as Mulheres Constroem Todo Dia

O sorriso de Deus revelando o poder feminino

 

 

 

Quando se diz que as mulheres somam mais da metade da população brasileira, isto, aparentemente, não quer dizer muita coisa além de um dado estatístico. Mas quando se observa a importância das mulheres nos serviços e na indústria de ponta – a indústria que já não é mais aquela de um certo capitalismo atrasado – então esta informação muda de figura. Estamos falando de uma mulher inserida na produção de um capitalismo em renovação sempre perverso e excludente. É claro que a força de trabalho feminina, adaptada às novas tecnologias, está apenas despontando no Brasil, mas certamente representa um potencial digno de uma política específica, que implica na reflexão sobre alguns conceitos e temas, um deles o do meio ambiente.

Desconstruindo Conceitos: Mulher e Meio Ambiente Além dos Estereótipos

Pode soar estranho tentar estabelecer essa relação, mulher e meio ambiente, mesmo porque em alguns setores da sociedade ainda prevalece uma noção equivocada, estreita mesmo, desses dois temas. Meio ambiente seria apenas a defesa do verde, das espécies em extinção, e até de uma postura contra o progresso. As mulheres mais estranhas ainda, pois elas estão geralmente relacionadas, única e exclusivamente, a movimentos populares, organizações femininas ou feministas. No entanto, deixando de lado as referências de má fé, houve uma evolução desses dois conceitos que deve ser considerada.

Meio Ambiente é Qualidade de Vida: O Lugar Central da Mulher

Meio ambiente é muito mais que a preservação do verde de nossas matas, importante, não temos dúvidas, mas que precisa ser visto dentro de um foco mais aberto, o da qualidade de vida. É nele que se insere a mulher, talvez – é algo para se pensar – com uma participação muito mais incisiva que a do homem quando relacionamos qualidade de vida à qualidade do ar, da água, da vida, enfim. Qualidade de vida que passa por mais postos de saúde, mais escolas, melhores e mais seguros meios de transporte, mais trabalho – tudo enfim que garanta à mulher produzir sem o ônus da consciência de culpa e de perda por deixar os seus, filhos e companheiros, expostos à violência em todos os níveis.

A Mulher na Linha de Frente: Das Reivindicações à Realidade Cotidiana

O que assistimos hoje é, infelizmente, uma repetição do passado: mulheres reivindicando melhorias que sempre faltam aqui e acolá, da zona rural aos grandes centros. Elas continuam na ponta desse processo, pelo simples fato de serem elas quem cuidam da água de beber, da água de lavar, da doença, da escola, das condições para o trabalho, seu e de toda a família. Por trás de todas essas carências há o fator econômico, que empurra e expande as cidades desordenadamente, gerando as condições para a violentação dos direitos fundamentais do homem à vida. Na frente disso tudo há sempre uma figura de mulher, seja ela dona-de-casa, seja ela operária ou profissional especializada em saúde, educação e, mais recentemente, saneamento.

O Sorriso de Deus: O Poder Invisível das Mulheres

Não por acaso, o escritor português Antônio Alçada Baptista, autor de “O Riso de Deus”, explicou porque Deus tem sorriso de mulher em seu livro. “As pessoas que mudaram o mundo cultivaram valores femininos: Ghandi, Cristo, São Francisco de Assis não usaram o poder. Como a mulher foi expulsa da história ficou com o melhor de tudo, o que não é poder. Não falo das mulheres que ficaram na história, mas das que pagam a conta da luz, da água, do telefone, tratam da comida, dos filhos, das doenças, da casa, enquanto os maridos se preocupam com o perigo nuclear e as grandes guerras. Quando encontro uma mulher dessas tenho vontade de pedir um autógrafo…”

Priscila Siqueira

Nasceu 08/07/39, em Ponta Grossa, PR. É jornalista formada na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil- RJ/RJ. Destacou-se na Grande Imprensa, especialmente: nas Agências: Folha de São Paulo, e Estado ( Estadão, Jornal da Tarde e Rádio El Dourado) e no jornal Valeparaibano. Como jornalista denunciou a expulsão dos caiçaras de suas praias pela especulação imobiliária, a partir da abertura da Rodovia BR 101, a Rio -Santos. Dessa experiência, nasceu seu 1° livro “Genocídio dos Caiçaras“, de 1984. Especializou-se na questão ambiental, cobrindo a Constituinte de 88, nessa área . Ativista ambiental, foi fundadora da SOS Mata Atlântica, do Movimento de Preservação de São Sebastião- MOPRESS e presidiu a Sociedade de Defesa do Litoral Brasileiro. Participou do Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, em Estocolmo, em 1996, promovido pela rainha Sílvia da Suécia e pela UNICEF,. Professora, atuou na antiga Escola Normal de São Sebastião ; No Centro Universitário Salesiano de São Paulo- UNISAL, e na Fundação Escola de Sociologia e Política SP, na pós graduação lato sensu, sobre a Violência à Mulher, Prostituição e Tráfico de Mulheres e de Meninas.

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